Sex, 24
de Maio de 2013 09:06 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Cinquenta anos atrás, em dezembro de 1963, a Igreja
Católica, ao realizar o Concílio Ecumênico Vaticano II, tratou o importante
tema da Comunicação Social, com o Decreto Inter Mirifica. Focalizada como uma
das maravilhosas intervenções da técnica no nosso tempo, a comunicação social
com todas as mídias, é considerada como força de movimentação, não somente dos
indivíduos, mas de toda a sociedade. Nesse curso de invenções admiráveis está o
mundo cibernético. Uma revolução de impressionantes proporções que nos leva ao
contexto impactante das redes sociais. Essa realidade, bastante contemporânea,
foi especialmente refletida durante o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais,
no âmbito da Igreja Católica, em todo o mundo, a partir da temática “Redes
sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização”.
A Igreja sabe que sua missão evangelizadora não
pode ser realizada com êxito nos tempos atuais sem o uso das mídias. Além
disso, reconhece o quanto é importante, na tarefa de anunciar o Reino de Deus,
contracenar nesse amplo e complexo mundo das comunicações em razão da verdade e
da fé, dom que é preciso ser cultivado no coração de todos. Já no contexto do
Concílio Vaticano II, quando eram inimagináveis as proporções e alcances dos
avanços que estavam por vir, já se acenava para uma dimensão moral inerente aos
próprios avanços tecnológicos. Essa dimensão moral não pode ser esquecida, sob
pena de transformar ferramentas significativas na construção do bem e da
verdade em instrumentos que destroem valores inegociáveis para a vida.
Indispensável, portanto, é que os operadores e
usuários de meios de comunicação balizem suas atuações numa reta consciência
que leve ao compromisso com o bem e a verdade, fundamental na construção da
sociedade democrática e no respeito às diversas culturas. Quando se trata, por
exemplo, do direito à informação, tão importante para o diálogo e construção da
sociedade, são cruciais a investigação e a divulgação de notícias. Esse
exercício hoje, com as redes sociais, firma-se como um cuidado especial
presidido por preocupações e compromissos imprescindíveis. Não se pode, é
claro, abrir mão das informações enquanto determinantes no progresso da
sociedade, na dinâmica da formação e na admirável interdependência entre os
membros da sociedade humana.
Nesse contexto, são impressionantes os
intercâmbios, com inusitada rapidez, que podem produzir encaminhamentos com
força de mudança, instituindo espaços para reflexão e opiniões. Vale lembrar a
previsão clarividente do Concílio Vaticano II como regulação desses fluxos
impactantes dos meios de comunicação. O documento Inter Mirifica sublinha que o
honesto exercício do direito à informação “exige, todavia, que a comunicação no
seu conteúdo seja verdadeira e, resguardadas a justiça e a caridade, íntegra;
além disso, quanto ao modo, seja honesta e conveniente, isto é, respeite escrupulosamente
as leis morais, os seus legítimos direitos e a dignidade de cada homem, tanto
na procura de notícias quanto na sua divulgação”.
A atenção e zelo com o uso das redes sociais devem,
portanto, favorecer sempre o diálogo, o nascimento de novas formas de
comunidades e a construção da vida por meio de novas relações. Um horizonte, de
fato, potencialmente rico, mas que apresenta uma série de exigências e
cuidados. Pode ser um caminho para necessárias transformações sociopolíticas,
permitindo a construção de estaturas mais democráticas e humanísticas nas
dinâmicas das diferentes culturas. Para tal, esses espaços precisam ser bem
usados, respeitando privacidades, ocupados de modo responsável e a partir do
compromisso com a verdade, determinante para o progresso de toda a família
humana.
As redes sociais constituem possibilidades
permanentes para o desenvolvimento de relações, laços de amizade, busca de
respostas e partilha de conhecimento. São parte determinante do tecido social.
No entanto, e por isso mesmo, exigem redobrada atenção e compromisso com a
verdade. A voz da razão, na avalanche de informações, nas possibilidades de
participação e intercâmbios, não pode ser abafada. As argumentações, notícias e
debates precisam ser bem fundamentados cultivando formas de discurso que não
sacrifiquem aspirações nobres, insubstituíveis na busca do bem e da verdade.
Nesse caminho, a fé tem um lugar importante.
Vivida, professada e anunciada no ambiente digital, ela é um compromisso da
Igreja Católica na missão de cultivar os valores do Evangelho nos espaços
midiáticos. Por isso, a CNBB está finalizando seu Diretório Nacional de
Comunicação, uma contribuição significativa para que a verdade e a fé sejam
sempre horizontes imprescindíveis para os caminhos dos diversos meios de
comunicação.
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