Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
Com o domingo de Pentecostes se conclui a semana de
orações pela unidade dos cristãos. Entre nós, ela coincide com a preparação de
Pentecostes. Na Europa, ela é celebrada na semana que precede a festa da
conversão de São Paulo, a 25 de janeiro.
Sempre é bom lembrar que foi no contexto desta
“semana de orações pela unidade dos cristãos” que João XXIII lançou a ideia do
Concílio, em 25 de janeiro de 1959. Desde o início, o Concílio esteve
ligado ao ecumenismo.
De fato, foi a causa ecumênica que proporcionou o
ambiente de pronta acolhida à iniciativa de João XXIII. Tanto que no começo, a
versão que se difundiu era que o Concílio iria realizar uma ampla reunião dos
representantes das diversas Igrejas Cristãs, com a finalidade de superar os
desentendimentos acontecidos no passado, e propor um caminho de plena
reconciliação.
O povo se entusiasmou, achando que o Concílio iria
refazer a unidade entre os cristãos.
Para segurar este entusiasmo ecumênico, João XXIII
sentiu a necessidade de fazer alguns esclarecimentos. Mesmo que suscitado pela
causa ecumênica, o Concílio seria realizado pela Igreja Católica, como caminho
prévio para aplainar a estrada do diálogo entre as Igrejas, identificando os
passos que precisavam ser dados para a lenta aproximação entre os cristãos.
Com isto, cresceu a consciência da gravidade das
divisões acontecidas, e da complexidade de sua superação. Mesmo convidando
“observadores” de outras Igrejas, o Concílio se realizaria no âmbito da Igreja
Católica. Mas ele seria “ecumênico” não só por sua índole de abertura
para a dimensão universal dos assuntos a serem tratados, mas também no sentido
mais restrito da palavra, fazendo da preocupação com a unidade dos cristãos a
referência permanente para todos os assuntos a serem tratados.
Assim, o sonho da plena reunificação dos cristãos
ficaria para depois do Concílio, como fruto de iniciativas a serem levadas em
frente, de acordo com as orientações aprovadas pelo Concílio, e consignadas no
documento “Unitatis Redintegratio”, o decreto sobre a prática do ecumenismo.
Olhado o Concílio à distância de 50 anos de sua
realização, é forçoso constatar que os avanços ecumênicos foram muito lentos.
Houve passos positivos de aproximação com os luteranos, expressos na declaração
conjunta, mostrando que não existem diferenças em torno da tese central de
Lutero, sobre a justificação. Daria para dizer que os impasses doutrinais entre
católicos e luteranos estariam superados. O que não significa dizer que já
foram analisadas as questões práticas de uma eventual reconciliação entre
católicos e luteranos.
Com o mundo ortodoxo, houve gestos muito fecundos,
que produziram mudanças significativas no clima do relacionamento entre as duas
grandes tradições eclesiais do cristianismo, a “Igreja do Oriente” e a “Igreja
do Ocidente”. Ainda permanece no horizonte do clima ecumênico do
Concílio, o abraço de paz entre o Patriarca Atenágoras de Constantinopla, e o
Papa VI, retirando a “excomunhão mútua”, acontecida no longínquo ano de 1054.
Diante do esfacelamento eclesial hoje existente,
com o proliferar de tantas denominações cristãs, parece sempre mais clara e
mais urgente a responsabilidade de católicos e ortodoxos refazerem sua plena
comunhão eclesial, para juntos testemunharem o tesouro da fé que Cristo confiou
aos seus discípulos.
O fato é que o Concílio recebeu do movimento
ecumênico o impulso para a sua realização. Agora, para levar em frente a sua
implementação, se faz necessária a retomada do ecumenismo, com maior ímpeto e
mais ousadia.
Nestes dias, o Patriarca Teodoro II, dos Ortodoxos
Coptas, do Egito, visitou o Papa Francisco, demonstrando grande disposição para
a plena reconciliação entre as duas Igrejas.
Como falou o etíope ao Diácono Felipe: “temos aqui
água, o que me impede de ser batizado?” (Atos 8, 37), poderíamos dizer a
Francisco e a Teodoro: “o mundo está necessitado, os cristãos estão esperando,
o que falta para a completa reconciliação?”
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