Dom Pedro Luiz Stringhini
Bispo de Mogi das Cruzes (SP)
Bispo de Mogi das Cruzes (SP)
(O título acima foi tema central da 51ª assembleia
geral ordinária da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil – CNBB, realizada em Aparecida-SP, dos dias 10 a 19 de abril de 2013).
dos Bispos do Brasil – CNBB, realizada em Aparecida-SP, dos dias 10 a 19 de abril de 2013).
As paróquias e as comunidades eclesiais são
expressão visível, abrangente e consolidada da presença da Igreja na sociedade.
Presentes num território delimitado, as paróquias e suas comunidades são
importantes e essenciais instrumentos para a missão evangelizadora da Igreja. A
paróquia tem base sólida no código de direito canônico, que lhe dá consistência
e respaldo, considerando, dentro da Igreja diocesana, o território onde ela
está instalada e constituída, onde seus equipamentos (a igreja matriz, capelas
e outros) são edificados e o lugar onde o povo de Deus se congrega.
O Documento de Aparecida, resultado da 5ª
Conferência do episcopado latino-americano (realizada em 2007, com abertura
feita pelo Papa Bento XVI), fala da necessidade de renovação, revitalização e
mesmo transformação das estruturas da Igreja, a começar pela Paróquia. Fala do
esforço a ser empreendido para superar uma pastoral de manutenção e da
necessidade de uma conversão pastoral.
É nesse contexto de desafios que emerge o fenômeno
da migração religiosa, que vem acontecendo de forma intensa há pelo menos duas
décadas. Os dois últimos censos (2000 e 2010) oferecem um mapa dessa migração,
mostrando a diminuição considerável do número de católicos no Brasil. Em 1990,
os católicos somavam cerca de 83% da população brasileira; em 2000, somavam
73,6% dos brasileiros e, em 2010, diminuíram para 64,6%. Tais dados trazem
preocupação à Igreja, chamada, hoje, a responder a importantes e novos
desafios:
1. O desafio da vida urbana. As paróquias hoje
são, geralmente, demograficamente densas, territorialmente grandes,
especialmente as localizadas em áreas periféricas das grandes e médias cidades.
Daí a necessidade de uma descentralização por meio da existência, em cada
paróquia, de outras comunidades eclesiais, além daquela que se reúne na igreja
matriz. A expressão “comunidade de comunidades” indica a paróquia em sua
presença expandida, formando como que uma rede de comunidades. Onde surge um
novo bairro, sem demora, a Paróquia deveria providenciar espaço físico
(terreno) para uma nova comunidade.
2. O desafio da identidade. Uma comunidade
eclesial será sempre constituída levando em conta as três dimensões
fundamentais da vida da Igreja: palavra – liturgia – caridade. A Palavra de
Deus chega pelo anúncio do evangelho e pela catequese em todos os níveis, na
Igreja. A caridade é o testemunho visível de amor ao próximo, especialmente aos
pobres. Tal testemunho dá credibilidade à presença dos cristãos chamados a ser
“luz do mundo”. A vida litúrgica e demais aspectos da vida da Igreja têm seu
centro na Eucaristia, especialmente a dominical, celebrada no dia do Senhor.
Daí a necessidade da presença do sacerdote, a importância de uma eficaz
pastoral vocacional e a valorização do ministério ordenado do presbiterato.
3. O protagonismo dos leigos. Cada cristão,
isto é, cada batizado, é a presença viva da Igreja no ambiente da sociedade
onde ele vive, trabalha, se relaciona. É no mundo e para o mundo que ele dá
testemunho público de sua fé e o bom exemplo de pai, mãe, profissional,
cidadão... Através do leigo, a Igreja se faz presente nas realidades seculares
(presença do mundo no coração da Igreja e presença da Igreja no coração do
mundo). Para que isso aconteça, é necessário que o leigo seja valorizado,
incentivado, formado e a ele sejam confiados serviços (ministérios), a partir
de seus dons (carismas).
Há serviços que os leigos realizam no âmbito
interno da Igreja: anúncio da palavra (ministros da palavra), catequese,
serviço do altar (ministros extraordinários da sagrada comunhão, salmistas),
ministério da coordenação, administração, pastoral dos enfermos, serviço da
caridade, isto é, aos pobres, cf. palavras do apóstolo Paulo: nós só nos
deveríamos lembrar dos pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude
(Gl 2,10). E a opção preferencial pelos pobres se expande considerando a
dimensão profética e transformadora da missão dos leigos, sendo fermento, sal e
luz (agente) na construção de uma sociedade justa e solidária.
4. Novas expressões. A Paróquia – com seu
pároco, suas comunidades, pastorais e conselhos – deve ser o lugar de acolhida
das novas realidades ou novas expressões da vida eclesial, como os movimentos,
as novas comunidades, as comunidades de vida, as associações. Deve abrir-se
também à possibilidade da existência de comunidades e paróquias ambientais, ou
seja, aquelas cuja presença e organização transcendem a territorialidade, uma
vez que contará com membros participantes de diversos lugares.
5. Novos métodos. Novo ardor e novas
expressões, no dizer do Beato João Paulo II, requerem novos métodos. A
conversão pastoral requer abertura a realidades novas e a coragem de inovar e
não fazer sempre as mesmas coisas, utilizando-se das mesmas estruturas, muitas
vezes ultrapassadas. Supõe também, e antes de tudo, conversão pessoal, mudança
de coração e de vida, para, depois, sair de si e ir ao encontro dos irmãos,
especialmente os afastados, dando-lhes acolhida, propondo um retorno. Acolher
de modo especial os jovens, os pobres, doentes, os “contritos de coração”,
(tristes, angustiados, deprimidos, solitários, etc...), oferecendo-lhes amparo.
6. Novo ardor (Família e missão). A Igreja,
família dos discípulos de Jesus Cristo, é formada pelas famílias. A pastoral
familiar empreende esforço para ajudar os casais e as famílias, buscando
respostas a novas situações familiares, como a dos casais em segunda união
estável e outras ... A Igreja ajudará as famílias a educarem seus filhos na fé,
na piedade, na freqüência aos sacramentos, numa conduta exemplar. Do novo ardor
cristão nas famílias decorre um novo ardor vocacional e missionário ...
7. Anúncio e Catequese. Não se descuide da
transmissão da fé (católica), a partir de um processo contínuo de iniciação
cristã (catecumenato) e formação catequética e doutrinal em todos os âmbitos e
para todas as idades. Serve de inspiração o Sínodo para a “Nova evangelização
para a transmissão da fé cristã”, acontecido em outubro de 2012, e que contou
com a participação de cerca de 400 pessoas do mundo inteiro e a presença do
então Papa Bento XVI.
A perda de fiéis católicos e os inúmeros desafios
do mundo urbano deveriam suscitar na Igreja uma nova missionariedade, um novo
esforço, um novo entusiasmo evangelizador. Isso vem do próprio mandato do
Senhor ressuscitado aos apóstolos: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho
a toda criatura” (Mc 16,15). E também: “Ide e fazei que todas as nações se
tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e
ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos
os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,19-20). E ao prometer e anunciar a
vinda do Espírito Santo: “vós sois testemunhas disso” (Lc 24,48).
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