Sex, 31
de Maio de 2013 11:22 / Atualizado - Sex, 31 de Maio de 2013 11:24 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)
A Igreja Católica, em todo o mundo, celebrou a
Solenidade de Corpus Christi ontem, dia 30. Neste dia, a Eucaristia, centro e
ápice da fé cristã, é testemunhada publicamente, com procissões pelas ruas,
programações especiais nas paróquias e nos bairros. A celebração de Corpus
Christi é oportunidade para que todos os fiéis fortaleçam a compreensão deste
Sacramento como experiência e compromisso social. Assim, não se trata
simplesmente de um culto. A Celebração Eucarística é a vivência do mistério
pascal, a origem da Igreja.
A Igreja nasce e vive da Eucaristia.
Nela, a escuta
da Palavra de Deus é essencial, abrindo mentes e corações para a vivência do
memorial do sacrifício de Jesus Cristo que se oferece na cruz, morre e
ressuscita, para a salvação da humanidade. Ao celebrar a Eucaristia, os olhos
da alma se fixam no Tríduo Pascal, ápice na vivência da Semana Santa, a partir
de tudo que se realizou na Quinta-feira Santa e nas horas sucessivas. Quando
Jesus institui a Eucaristia, na Ceia Pascal derradeira, antecipa
sacramentalmente os acontecimentos vividos logo em seguida, a começar pela
agonia de nosso Salvador no Getsêmani. Jesus sai do Cenáculo, vai ao Horto das
Oliveiras, vive a sua agonia, em oração e começa sua entrega a Deus seu Pai,
sofrendo a sua dolorosa paixão. Crucificado, morto e sepultado, ressuscita no
terceiro dia. É a vitória definitiva da vida sobre a morte.
A celebração de Corpus Christi é, pois, a Igreja -
o Povo de Deus - publicamente aclamando e dizendo “anunciamos, Senhor, a vossa
morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. Com essas
palavras nossa Igreja testemunha e sublinha o traço marcante de sua identidade:
ser uma Igreja Eucarística. E cada cristão católico é convocado
permanentemente, pela Eucaristia, como compromisso de fé, a assumir
prioritariamente a prática da caridade. Algo além de um gesto pontual qualquer,
ou rápida ação de misericórdia. Ao testemunhar publicamente sua fé eucarística,
a Igreja se compromete a praticar uma caridade com força de transformação e com
incidência profética sobre a vida da sociedade.
Isso significa que a Eucaristia celebrada e
professada exige um empenho em prol da justiça. Em questão se coloca a justa
ordem da sociedade e do Estado. Deste modo, o culto eucarístico, sua celebração
e adoração, se desdobra em compromisso social cidadão, iluminado pela fé. Ao
celebrar o Corpus Christi no interior das igrejas e, especialmente, nas praças
e ruas onde está o povo, assume-se também o compromisso de acompanhar o Estado
para que ele se conduza segundo a justiça. Ignorar seus funcionamentos ou não
interferir pela força da cidadania, permitindo que o Estado se torne lugar da
corrupção ou da indiferença para com os mais pobres, é conivência. Aborrece a
Deus que se oferece pelo bem da humanidade. Segue-se na contramão da vida plena
para todos.
A Igreja é lugar para a expressão social da fé
cristã, na sua dinâmica comunitária, com força de diálogo e de recíproca
relação com as instâncias da sociedade civil. Os cristãos devem contribuir para
que se alcance sempre a justiça, medida intrínseca da política, que não pode
ser entendida como mera questão técnica nos ordenamentos públicos. A justiça é
um compromisso de natureza ética na vivência da fé e da cidadania.
A razão trata propriamente da questão da justiça. A
fé tem, neste âmbito, uma determinante contribuição. Ela purifica a razão que
não raramente se resume em poder, dominação e desvios na contramão de uma
almejada sociedade justa e solidária. Política e fé, neste âmbito, devem se
tocar.
A celebração de Corpus Christi é importante
oportunidade para cada cristão assumir com vigor o compromisso no seguimento da
Palavra de Deus e para a Igreja renovar o seu empenho na promoção da justiça,
abrindo mentes e vontades às exigências do bem.
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