Sex, 24
de Maio de 2013 08:48 por: cnbb
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)
Bispo de Dourados (MS)
Um adolescente de 17 anos entra na casa do vizinho
e mata um menino de seis anos. Dois dias depois, é preso juntamente com a
namorada, de 19 anos, grávida de três meses, quando tentava fugir para outro
Estado. Na entrevista que, em seguida, deu à imprensa, revelou que, quando
chegou à casa da vítima, foi recebido com alegria pela criança: «Ela me
ofereceu pão e maçã, dizendo que, se eu quisesse mais, podia entrar e pegar».
Uma mãe de 42 anos e seu filho de 20 contratam os
serviços de um “matador de aluguel” para assassinar o marido e padrasto de 63
anos e ficar com os seus bens. Armando uma emboscada ao idoso, o chamam para
conversar em local insuspeito e, quando aparece, é friamente assassinado pelo
criminoso, que mal completou 17 anos.
Um adolescente de 15 anos mantém a “esposa” de 25
sob a ameaça de um facão durante varias horas. Chamada ao local, a polícia
detém a ambos: o rapaz por violência e a moça por desacato à autoridade.
Os três fatos aconteceram em Campo Grande, no Mato
Grosso do Sul, mas poderiam ter ocorrido em qualquer outra cidade. O que
impressiona – se é que ainda impressiona – é que, em todos eles, os
protagonistas são adolescentes e os delitos se sucederam no espaço de três
dias, de 4 a 6 de abril de 2013.
Mas, o que esperar de uma sociedade que, depois de
escancarar as portas ao materialismo, ao permissivismo e ao relativismo, finge
se escandalizar com suas consequências e abarrota as prisões com jovens, cujo
pecado foi seguir seus ensinamentos? Se se quer extirpar ou diminuir a
violência que grassa entre eles, mais do que diminuir-lhes a maioridade penal,
do que se precisa é investir na formação de sua consciência ética através da
família. Foi o que lembrou a CNBB, em “nota” publicada, no dia 16 de maio: «O
debate sobre a redução da maioridade penal, colocado em evidência mais uma vez
pela comoção provocada por crimes bárbaros cometidos por adolescentes,
conclama-nos a uma profunda reflexão sobre nossa responsabilidade no combate à
violência, na promoção da cultura da vida e da paz e no cuidado e proteção das
novas gerações de nosso país. A delinquência juvenil é, antes de tudo, um aviso
de que o Estado, a Sociedade e a Família não têm cumprido adequadamente com seu
dever. Criminalizar o adolescente com penalidades no âmbito carcerário seria
maquiar a verdadeira causa do problema, desviando a atenção com respostas
simplórias, inconsequentes e desastrosas para a sociedade».
É na família que se inicia a renovação, ou a
perdição, da sociedade. Nesse sentido, só deveria casar – e, mais ainda, gerar
filhos – quem está preparado e maduro para assumir os compromissos que o ato
comporta. É o que tenta transmitir uma estória que, há poucos dias, recebi via
internet. Em sua simplicidade, ela tem muito a ensinar.
Certo dia, a professora pediu aos alunos que
fizessem uma redação, expressando um pedido que gostariam fazer a Deus. Em
casa, ao corrigir os trabalhos escolares, ela se deparou com um escrito que a
deixou abalada. Entrando na sala e vendo-a soluçar, o marido perguntou: «O
que aconteceu?». Como resposta, ela lhe repassou a oração que uma aluna
redigira: «Senhor, transforma-me numa televisão! Quero ocupar o espaço dela.
Ter um lugar especial para mim e reunir a família ao redor. Ser levada a sério
quando falo. Quero ter a mesma atenção que ela recebe quando não funciona. Ter
a companhia do meu pai quando chega em casa, apesar de cansado. Que minha mãe
me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar. Que meus
irmãos “briguem” para poderem estar comigo. Quero sentir que a minha família
deixa tudo de lado para passar alguns momentos comigo». Ao ouvir a leitura, o
marido exclamou: «Pobre dessa menina! Que família ela tem!». A professora
baixou os olhos e sussurrou: «É nossa filha!».
A estória confirma o que escreveram, em 2007, os
bispos latino-americanos em sua reunião de Aparecida: «Os meios de
comunicação invadem todos os espaços, inclusive a intimidade do lar. A
sabedoria das tradições se vê obrigada a competir com a informação do último
minuto, a distração e as imagens de “vencedores” que sabem usar a seu favor as
ferramentas tecnológicas, levando as pessoas buscarem afoitamente um sentido
para a vida onde nunca poderão encontrá-lo».
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