A alegria é uma das virtudes mais bonitas e necessárias para a vida cristã,
pois é capaz de exprimir o real propósito da fé. Como cristãos temos na alegria
grande parte de nossa identidade, pois, esse é o desejo de Jesus: “Que minha
alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa.” (Jo 15, 11).
Logo no início das primeiras comunidades, preocupavam-se os apóstolos com que
as pessoas fossem e vivessem alegres, mesmo sendo perseguidas e em suas
admoestações, parecem indicar que a alegria em si possui muita força. Escreve
São Paulo aos Tessalonicenses: “Estejam sempre alegres, rezem sem cessar, dêem
graças em todas as circunstâncias, por que esta é a vontade de Deus a respeito
de vocês em Jesus Cristo.” (1Ts 5, 16-18) e a comunidade de Felipos diz:
“Quanto ao resto, meus irmãos, fiquem alegres no Senhor” (Fil 3, 1).
Diante de ensinamentos tão bonitos perguntamo-nos, o que é alegria?
Recorrendo ao Dicionário
de língua Portuguesa temos a
seguinte indicação: Alegria é o mesmo que contentamento, satisfação, júbilo,
exultação. Portanto uma pessoa alegre é: contente, jubilosa, satisfeita. Para
compreender melhor, convidamo-os para caminhar conosco no caminho que Francisco
de Sales ensinou e viveu e que agora de modo simples descrevemos nas linhas que
seguem neste artigo.
Dentro da ‘Espiritualidade do Amor’ (salesiana), temos a liberdade como
caminho essencial para a vivência da caridade, a rainha das virtudes. Para
isso, torna-se imprescindível a alegria, o ser alegre, pois esta é a
característica de quem faz uma opção livre e espontânea, brotado do seu íntimo
(um prisioneiro jamais será alegre). “Servi a Deus alegremente e com liberdade de
espírito” (SFS).
Francisco de Sales não aceita que se seja triste: “Esmerai-vos em vencer
todos os humores de melancolia e acabrunhamento. ”Sim, somos filhos da luz, (I
Tes 5,5) clarão que põe o mundo a nossa vista para que dele façamos um lugar
harmônico e feliz à semelhança do céu, felicidade eterna. Ora, não se faz céu
com tristeza, nem se busca o certo com acabrunhamento, tampouco se cativa com
melancolia, porém, se motiva com um sorriso, com um gesto cordial, que na sua
simplicidade fala mais que mil palavras revelando o quanto cada pessoa consegue
ser para Deus e para o outro/a. Francisco procurava ardentemente o amor de
Deus, que nos conduz até o próximo, isso era a matéria de sua vida. Esse amor
enche o coração de alegria, virtude esta capaz de envolver o ambiente e os
seres, deixando ali, marcas do Divino Amigo.
Para Francisco a alegria é tão essencial que está intimamente ligada a
Deus, dizia Ele: “O Deus que eu conheço é o Deus da alegria”. Poder saber,
assim como sabia nosso santo, que somos amados por esse Deus de alegria e
podemos também amá-lo de várias formas, em todos os lugares e que Nele nossa
vida pode tornar-se uma verdadeira resposta de amor, gera em nós um
contentamento sem fim. É esse contentamento, vindo até mesmo do mistério de nossa
existência, que transcende a normalidade dos fatos e acontecimentos que nos faz
caminhantes eternos.
Olhando a vida de Francisco de Sales, damo-nos conta que ele tinha uma
forte tendência à cólera, isso exigia-lhe um enorme esforço, pois desejando permanecer
em estado de graça e de caridade com o próximo, exercitava-se muito com a
paciência e outras virtudes tão necessárias. Vendo assim, imaginamos o quanto o
mesmo podia deixar de encolerizar-se, mas não temos como deixar a parte, o
enorme esforço que empenhava em tornar-se manso e ainda mais, alegre. Alegria
não é só deixar de praticar o que não é da vontade de Deus, mas é expressar o
que tais abnegações e opções podem trazer a alma do que vive. Como diz
Francisco, tal é seu poder que é capaz de abrir os corações - “A alegria abre e
a tristeza fecha o coração!”.
Alegria para São Francisco de Sales, não consiste só em momentos, mas
deve ser um estado de vida! Esse estado implica uma sadia e respeitosa relação
com o próximo, consigo e com Deus e não há maneira melhor de exercitá-la, (ou
exercitar-nos para permanecer-mos nela) do que cultivá-la passo a passo,
devagar e tranqüilamente conduzindo nossos passos à união com a fé que
professamos, almejando a vida devota e estabelecendo comunhão onde estamos
(vida comunitária). Conscientes disso abraçamos todas as ocasiões como presente
que vem e retorna as mãos do criador amoroso e terno. Presente não se escolhe,
mas se acolhe, a vida só é o que é porque a recebemos misteriosamente do bom
Deus. Por que então, não adorná-la com os frutos da alegria? Será que uma
atitude tristonha é capaz de resolver os problemas melhor do que uma disposição
alegre? Quem procura a verdadeira alegria vê por dentre a construção da vida, a
toda hora, uma janelinha que permite olhar o sol, e planejar uma ponte que
permita ligar-se ao irmão/a.
Na fiel busca pela perfeição, vamos direcionando nosso agir à ação de
Deus, unicamente à sua santa vontade, “a perfeição da vida cristã consiste na
conformidade de nossa vontade com a de nosso bom Deus, que é soberana regra e
lei de todas as ações”. Sendo assim muito se pergunta como cumprir essa
vontade? Francisco explica: “Não basta fazer a vontade de Deus, para ser
cristão é preciso cumpri-la alegremente” (DASal 6,85), ou seja, alegria
é necessária para fazer as coisas bem e como Deus as quer, pois se fazemos algo
que não nos traz felicidade, contra a consciência, forçado, fazendo por fazer,
jamais poderemos nos unir ao Deus que quer o bem.
A alegria pode também ser um meio de afastar o mal: “se a melancolia te
atacar, distrai-te, canta, conversa com os outros; isso vale mais do que ceder
ao teu mau humor, pois é isso que o nosso inimigo quer alcançar: desanimar-nos
por qualquer coisa que nos acontece!” A verdadeira alegria é fruto de um
sério relacionamento com Deus, do encontro natural com sua bondade “Essa alegria
que o coração do homem experimenta naturalmente, ao pensar em Deus e essa
confiança Nele só podem estar arraigados naquele relacionamento, que reina
entre a bondade de Deus e a nossa alma.”
Francisco de Sales é reconhecido pela sua capacidade de acolher, o que
traz em si a natureza da alegria como porta que se abre para que o outro possa
entrar e se sentir-se bem. Uma pessoa alegre traz o mel que em sua doçura,
atrai a todos.
Falando do sentimento da Alegria, aconselha e reza Francisco indicando a
busca do equilíbrio. “Quando uma grande felicidade te encontra e tua alma
gostaria de tremer em júbilo: Fique em paz!” Tudo o que é demais, perde sua
característica real. Saber dar o tom certo para a música faz com que ela se
torne doce, suave e tenha a capacidade de encantar e seduzir, animar e dizer. O
equilíbrio mantém a paz, e a alegria é fruto da paz, como percebemos nesse
conselho de Francisco a uma de suas filhas espirituais: “Sede alegre e jovial
em Nosso Senhor , minha cara irmã, e mantende o vosso coração em paz!”(13,
53).
Faz parte da virtude alegria as ocasiões comuns de sua existência como
bailes, festas, recreações e divertimentos, tudo isso é bom e indicado por São
Francisco, desde que possua a medida certa e não contrarie o estado de vida de
cada qual.
A alegria é a virtude que expressa de uma forma palpável o antes, o
durante e o depois das boas obras, ou seja, quem compreende e assimila essa tão
bela virtude, ante todas as ocasiões se dispõe alegre, realizando-as contente e
sente-se feliz ao seu findar, independente dos resultados, que a olhos humanos
nem sempre serão os melhores.
Viver com alegria e buscar fazer do ordinário, extraordinário, porque
superamos toda tendência desanimadora em nós mesmos levando-nos a união com o
Deus do amor tão mencionado por Francisco e todos os santos e santas que
seguiram a espiritualidade Salesiana. O importante é poder viver e expressar
essa alegria sendo fiéis a nós mesmos, àquilo que somos e queremos ser. Pe
Agnaldo Costa Junior, ao falar da alegria segundo São Francisco de Sales, diz:
“A conclusão que fica é amar alegremente com simplicidade de vida!”.
Com certeza sentir-se-á realizado todo ser humano que viver esta
virtude, pois unido a Deus pela alegria está semeando vida plena no jardim onde
o Senhor o têm plantado, transparecendo sua fé neste Deus presente e atuante
junto de si em favor do próximo e do reino.
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