sábado, 14 de dezembro de 2013

A virtude da alegria



           A alegria é uma das virtudes mais bonitas e necessárias para a vida cristã, pois é capaz de exprimir o real propósito da fé. Como cristãos temos na alegria grande parte de nossa identidade, pois, esse é o desejo de Jesus: “Que minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa.” (Jo 15, 11). Logo no início das primeiras comunidades, preocupavam-se os apóstolos com que as pessoas fossem e vivessem alegres, mesmo sendo perseguidas e em suas admoestações, parecem indicar que a alegria em si possui muita força. Escreve São Paulo aos Tessalonicenses: “Estejam sempre alegres, rezem sem cessar, dêem graças em todas as circunstâncias, por que esta é a vontade de Deus a respeito de vocês em Jesus Cristo.” (1Ts 5, 16-18) e a comunidade de Felipos diz: “Quanto ao resto, meus irmãos, fiquem alegres no Senhor” (Fil 3, 1).

Diante de ensinamentos tão bonitos perguntamo-nos, o que é alegria? Recorrendo ao Dicionário de língua Portuguesa temos a seguinte indicação: Alegria é o mesmo que contentamento, satisfação, júbilo, exultação. Portanto uma pessoa alegre é: contente, jubilosa, satisfeita. Para compreender melhor, convidamo-os para caminhar conosco no caminho que Francisco de Sales ensinou e viveu e que agora de modo simples descrevemos nas linhas que seguem neste artigo.

Dentro da ‘Espiritualidade do Amor’ (salesiana), temos a liberdade como caminho essencial para a vivência da caridade, a rainha das virtudes. Para isso, torna-se imprescindível a alegria, o ser alegre, pois esta é a característica de quem faz uma opção livre e espontânea, brotado do seu íntimo (um prisioneiro jamais será alegre). “Servi a Deus alegremente e com liberdade de espírito” (SFS).

Francisco de Sales não aceita que se seja triste: “Esmerai-vos em vencer todos os humores de melancolia e acabrunhamento. ”Sim, somos filhos da luz, (I Tes 5,5) clarão que põe o mundo a nossa vista para que dele façamos um lugar harmônico e feliz à semelhança do céu, felicidade eterna. Ora, não se faz céu com tristeza, nem se busca o certo com acabrunhamento, tampouco se cativa com melancolia, porém, se motiva com um sorriso, com um gesto cordial, que na sua simplicidade fala mais que mil palavras revelando o quanto cada pessoa consegue ser para Deus e para o outro/a. Francisco procurava ardentemente o amor de Deus, que nos conduz até o próximo, isso era a matéria de sua vida. Esse amor enche o coração de alegria, virtude esta capaz de envolver o ambiente e os seres, deixando ali, marcas do Divino Amigo. 

Para Francisco a alegria é tão essencial que está intimamente ligada a Deus, dizia Ele: “O Deus que eu conheço é o Deus da alegria”. Poder saber, assim como sabia nosso santo, que somos amados por esse Deus de alegria e podemos também amá-lo de várias formas, em todos os lugares e que Nele nossa vida pode tornar-se uma verdadeira resposta de amor, gera em nós um contentamento sem fim. É esse contentamento, vindo até mesmo do mistério de nossa existência, que transcende a normalidade dos fatos e acontecimentos que nos faz caminhantes eternos. 

Olhando a vida de Francisco de Sales, damo-nos conta que ele tinha uma forte tendência à cólera, isso exigia-lhe um enorme esforço, pois desejando permanecer em estado de graça e de caridade com o próximo, exercitava-se muito com a paciência e outras virtudes tão necessárias. Vendo assim, imaginamos o quanto o mesmo podia deixar de encolerizar-se, mas não temos como deixar a parte, o enorme esforço que empenhava em tornar-se manso e ainda mais, alegre. Alegria não é só deixar de praticar o que não é da vontade de Deus, mas é expressar o que tais abnegações e opções podem trazer a alma do que vive. Como diz Francisco, tal é seu poder que é capaz de abrir os corações - “A alegria abre e a tristeza fecha o coração!”.

Alegria para São Francisco de Sales, não consiste só em momentos, mas deve ser um estado de vida! Esse estado implica uma sadia e respeitosa relação com o próximo, consigo e com Deus e não há maneira melhor de exercitá-la, (ou exercitar-nos para permanecer-mos nela) do que cultivá-la passo a passo, devagar e tranqüilamente conduzindo nossos passos à união com a fé que professamos, almejando a vida devota e estabelecendo comunhão onde estamos (vida comunitária). Conscientes disso abraçamos todas as ocasiões como presente que vem e retorna as mãos do criador amoroso e terno. Presente não se escolhe, mas se acolhe, a vida só é o que é porque a recebemos misteriosamente do bom Deus. Por que então, não adorná-la com os frutos da alegria? Será que uma atitude tristonha é capaz de resolver os problemas melhor do que uma disposição alegre? Quem procura a verdadeira alegria vê por dentre a construção da vida, a toda hora, uma janelinha que permite olhar o sol, e planejar uma ponte que permita ligar-se ao irmão/a.

Na fiel busca pela perfeição, vamos direcionando nosso agir à ação de Deus, unicamente à sua santa vontade, “a perfeição da vida cristã consiste na conformidade de nossa vontade com a de nosso bom Deus, que é soberana regra e lei de todas as ações”. Sendo assim muito se pergunta como cumprir essa vontade? Francisco explica: “Não basta fazer a vontade de Deus, para ser cristão é preciso cumpri-la alegremente” (DASal 6,85), ou seja, alegria é necessária para fazer as coisas bem e como Deus as quer, pois se fazemos algo que não nos traz felicidade, contra a consciência, forçado, fazendo por fazer, jamais poderemos nos unir ao Deus que quer o bem.

A alegria pode também ser um meio de afastar o mal: “se a melancolia te atacar, distrai-te, canta, conversa com os outros; isso vale mais do que ceder ao teu mau humor, pois é isso que o nosso inimigo quer alcançar: desanimar-nos por qualquer coisa que nos acontece!” A verdadeira alegria é fruto de um sério relacionamento com Deus, do encontro natural com sua bondade “Essa alegria que o coração do homem experimenta naturalmente, ao pensar em Deus e essa confiança Nele só podem estar arraigados naquele relacionamento, que reina entre a bondade de Deus e a nossa alma.”
Francisco de Sales é reconhecido pela sua capacidade de acolher, o que traz em si a natureza da alegria como porta que se abre para que o outro possa entrar e se sentir-se bem. Uma pessoa alegre traz o mel que em sua doçura, atrai a todos.

Falando do sentimento da Alegria, aconselha e reza Francisco indicando a busca do equilíbrio. “Quando uma grande felicidade te encontra e tua alma gostaria de tremer em júbilo: Fique em paz!” Tudo o que é demais, perde sua característica real. Saber dar o tom certo para a música faz com que ela se torne doce, suave e tenha a capacidade de encantar e seduzir, animar e dizer. O equilíbrio mantém a paz, e a alegria é fruto da paz, como percebemos nesse conselho de Francisco a uma de suas filhas espirituais: “Sede alegre e jovial em Nosso Senhor , minha cara irmã, e mantende o vosso coração em paz!”(13, 53).

Faz parte da virtude alegria as ocasiões comuns de sua existência como bailes, festas, recreações e divertimentos, tudo isso é bom e indicado por São Francisco, desde que possua a medida certa e não contrarie o estado de vida de cada qual.

A alegria é a virtude que expressa de uma forma palpável o antes, o durante e o depois das boas obras, ou seja, quem compreende e assimila essa tão bela virtude, ante todas as ocasiões se dispõe alegre, realizando-as contente e sente-se feliz ao seu findar, independente dos resultados, que a olhos humanos nem sempre serão os melhores. 

Viver com alegria e buscar fazer do ordinário, extraordinário, porque superamos toda tendência desanimadora em nós mesmos levando-nos a união com o Deus do amor tão mencionado por Francisco e todos os santos e santas que seguiram a espiritualidade Salesiana. O importante é poder viver e expressar essa alegria sendo fiéis a nós mesmos, àquilo que somos e queremos ser. Pe Agnaldo Costa Junior, ao falar da alegria segundo São Francisco de Sales, diz: “A conclusão que fica é amar alegremente com simplicidade de vida!”.

Com certeza sentir-se-á realizado todo ser humano que viver esta virtude, pois unido a Deus pela alegria está semeando vida plena no jardim onde o Senhor o têm plantado, transparecendo sua fé neste Deus presente e atuante junto de si em favor do próximo e do reino.

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