Dom Orani João Tempesta, O.
Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Entramos no novo Ano Litúrgico com o tempo do
Advento. Este tempo nos chama a atenção para a Vigilância, para acolher os
Sinais de Deus nesse Ano A, em que nos acompanhará aos domingos principalmente
o Evangelho de São Mateus.
Com o Advento, entramos no tempo que nos prepara
para a segunda vinda de Cristo e para o Natal do Senhor, sua primeira vinda na
história. Este tempo de esperança nos faz relembrar e reviver as primeiras
etapas da História da Salvação, quando os homens e as mulheres se preparavam
para a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em
nossa vida a vinda de Cristo por ocasião do Natal. Nas duas primeiras semanas
do Advento, vigilantes e alertas, esperamos a vinda definitiva e gloriosa do Cristo
Salvador, e nas duas últimas semanas, lembrando a espera dos profetas e de
Maria, preparamos mais especialmente o seu nascimento em Belém.
O tempo do Advento vem acompanhado do convite do
profeta Isaías: "Dizei aos que têm o coração pusilânime: "Tomai
ânimo, não temais... o nosso Deus... vem em pessoa salvar-nos “" (Is 35,
4). Ele torna-se mais envolvente com a aproximação do Natal, enriquecendo-se
com a exortação a preparar o coração para o acolhimento do Messias. Aquele que
o povo espera virá certamente, e a sua salvação será para todos os homens.
A liturgia do Advento, repleta de evocações
constantes da expectativa jubilosa do Messias, ajuda-nos a compreender
plenamente o valor e o significado do mistério do Natal. Não se trata de
comemorar apenas o acontecimento histórico, que se verificou há mais de dois
mil anos numa pequena aldeia da Judéia. Ao contrário, é preciso compreender que
toda a nossa vida deve ser um "advento", uma expectativa vigilante da
vinda definitiva de Cristo. Para predispor o nosso coração para receber o
Senhor que, como dizemos no Credo, virá um dia para julgar os vivos e os
mortos, devemos aprender a reconhecê-Lo, Ele que está presente nos
acontecimentos da existência quotidiana. Então o Advento é, por assim dizer, um
treino intenso que nos orienta decisivamente para Aquele que já veio, que virá
e que vem continuamente.
“Na linguagem da Igreja, a palavra Advento tem dois
significados: presença e expectativa. Presença: a luz está presente, Cristo é o
novo Adão, está conosco e no meio de nós. Já resplandece a luz e devemos abrir
os olhos do coração para ver a luz e para nos introduzirmos no rio da luz.
Estar, sobretudo, gratos pelo fato de que o próprio Deus entrou na história
como nova fonte de bem. Mas Advento significa também expectativa. A noite
escura do mal ainda é forte! E por isso rezemos no Advento com o antigo povo de
Deus: "Rorate caeli desuper". E rezemos com insistência: vem, Jesus,
dá força à luz e ao bem; vem onde dominam a mentira, a ignorância de Deus, a
violência, a injustiça, vem, Senhor Jesus, dá força ao bem no mundo e ajuda-nos
a ser portadores da tua luz, artífices da paz, testemunhas da verdade. Vem,
Senhor Jesus!" (Papa Bento XVI)
O Advento é celebrado com sobriedade e com uma
alegria discreta, quase contida. Por isso, não se canta o Glória, que fica
reservado para a noite e o dia do Natal, quando juntamos nossa voz à dos anjos
para dar glória a Deus pela salvação que realiza em nosso meio.
A celebração do Advento é, portanto, um meio
precioso e indispensável para nos ensinar sobre o mistério da salvação e
colocarmos a nossa vida tendo como referência Jesus, fundamento da nossa fé,
dispondo-nos a “perder” a vida em favor do anúncio e instalação do Reino. Por
isso, a liturgia do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores
essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a
pobreza, a conversão. Deus é fiel às suas promessas: o Salvador virá; daí a
alegre expectativa, que deve, neste tempo, não só ser lembrada, mas vivida,
pois aquilo que se espera acontecerá com certeza.
Portanto, não se está diante de algo irreal,
fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da
Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo, mas que só se consumará
definitivamente na parusia do Senhor. Por isso, o brado da Igreja
característico neste tempo é “Maranatha”! Vem, Senhor Jesus!
O tempo do Advento é tempo de esperança, porque
Cristo é a nossa esperança (1Tm 1, 1); esperança na renovação de todas as
coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna,
esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da
vida, diante das perseguições etc.
O Advento é tempo propício à conversão. Sem um
retorno de todo o ser a Cristo não há como viver a alegria e a esperança na
expectativa da sua vinda. É necessário que “preparemos o caminho do Senhor” nas
nossas próprias vidas, “lutando até o sangue” contra o pecado, por meio de uma
maior disposição para a oração e mergulho na Palavra. Nesse sentido agradeço
todo o trabalho dos “mutirões de confissões” que acontecem em toda a
Arquidiocese quando tantos padres se dedicam, com afinco, ao atendimento das
confissões. Poderíamos até pensar em dias e horários para atendimento de
confissões em locais públicos, fora dos templos, para ajudar aqueles que
trabalham nos shopping centers e em outros locais, como tivemos também durante
a Jornada Mundial da Juventude. Devemos ir ao encontro daqueles fiéis batizados
que não atingimos com nossas estruturas paroquiais.
No Advento, precisamos nos questionar e aprofundar
a vivência da pobreza e da misericórdia, como nos tem pedido insistentemente o
Papa Francisco. Na tarde do último sábado, dia 30 de novembro, como já é
tradição no inicio do Advento, o Papa rezou na Basílica de São Pedro as
primeiras Vésperas com os Estudantes e Professores das Universidades
Pontifícias e Ateneus Romanos e italianos. Nas palavras que lhes dirigiu,
o Papa Francisco disse que Deus nos concedeu muitos tesouros espirituais. Por
que, então, deve intervir sempre para mantê-los íntegros? – perguntou-se, logo
respondendo que é porque nós somos débeis, a nossa natureza humana é frágil e
os dons de Deus são conservados em nós como que num vaso de barro (ele tratou
desse tema aqui no Rio de Janeiro, na missa que celebrou para o Seminário São
José, no Sumaré). Disse o Papa que a intervenção de Deus a favor da nossa
perseverança até ao encontro definitivo com Jesus é expressão da sua
fidelidade, antes de mais consigo próprio. A obra que começou em cada um de nós
leva-o a cumprimento. E isto dá-nos segurança e confiança, uma confiança que
assenta em Deus e requer a nossa colaboração ativa e corajosa, perante os
desafios do presente. O convite do Papa aos jovens universitários, que com a
sua vontade e capacidade, unidas à potência do Espírito Santo que habita em
cada um, consentem-lhes ser não espectadores, mas protagonistas do mundo
contemporâneo, vale para todos os que são batizados e deve ser a mola
propulsora deste tempo da graça, de fidelidade à Palavra de Deus e de fazer da
nossa vida um verdadeiro presépio.
Abrindo o tempo do Advento, assim se expressou o
Papa Francisco: “Na vida de cada um de nós há sempre uma necessidade de
recomeçar, de levantar-se, de recuperar o sentido da meta de sua existência”.
“Assim, para a grande família humana, é necessário renovar sempre o horizonte
comum para o qual estamos a caminho. O horizonte da esperança! O tempo do
Advento, que hoje novamente iniciamos, nos dá o horizonte da esperança, uma
esperança que não desilude, porque é fundada sobre a Palavra de Deus.” Bom
advento a todos!
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