sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Material do 4º Encontro Diocesano de Catequistas: ABP e Espiritualidade

Prezados Catequistas, 

Segue o material usado no nosso último Encontro Diocesano de Catequistas - ABP e a Espiritualidade do Catequista. Agradecemos sua participação e nesse Tempo de Advento, esperando o Cristo que vem, desejamos um Feliz e Abençoado Encontro com o Senhor de nossa Vida: Jesus Cristo! Abraços fraternos e um  feliz e abençoado Advento! Abraços,                                                                    ZéCA
Elipse: 01
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ABP - ANIMAÇÃO BÍBLICA NA PRÁTICA DE JESUS – 2012

        Buscar a prática pedagógica de alguém é mergulhar na sua vida, no seu ambiente, nas suas relações, na sua fala e no seu pensamento.
        É também entender a proposta oferecida aos que o escutam, bem como a sua maneira de oferecer esta proposta. Enfim, a pedagogia de uma pessoa revela quem ela é.
        Buscar a pedagogia de Jesus é entender o caminho que ele propôs, a maneira dele chamar as pessoas para trilhar este caminho e o modo como ele mesmo trilhou este caminho.

I - Como Jesus mesmo encarnou a Palavra em sua vida.

        Naquele tempo, ninguém tinha Bíblia em casa. Só havia uma única Bíblia para todos na Sinagoga. Era no ambiente orante comunitário, tanto da Casa como da Sinagoga, que a Palavra era ouvida e meditada, anunciada e praticada.
        Em Jesus a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).
        Cada um de nós, pelo simples fato de nascer neste mundo, nasce num determinado lugar, numa determinada família, num determinado povo. Nasce marcado de muitas maneiras. Jesus também.
        A família, a cultura, a língua, o lugar do nascimento afetam a vida da gente de alto a baixo. E estas coisas, ninguém as escolhe. Elas fazem parte da existência humana. São o ponto de partida para qualquer coisa que se queira fazer na vida. É o mistério da encarnação!

CONDICIONAMENTOS
        Jesus assumiu estes condicionamentos lá onde eles pesam mais, isto é, no meio dos pobres. Jesus era um “filho do carpinteiro” (Mt 13, 55). “Sendo de condição divina, esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo”, um no meio de muitos (Fl 2, 6-7; 2Cor 8, 9). “Ele foi provado como nós, em todas as coisas, menos no pecado” (Hb 4, 15). “Mesmo sendo Filho de Deus, teve que aprender pelo sofrimento o que vem a ser a obediência” (Hb 5, 8).

Encarnação é um processo
        A encarnação da Palavra em Jesus foi um processo que se iniciou com o Sim obediente de Maria e terminou com o último Sim de Jesus na cruz quando disse: “Está tudo consumado” (Jo 19, 30).
        MOLDAR-SE pela Palavra

        Jesus deixou a Palavra de Deus entrar em si e ela tomou conta de tudo. Fazer a vontade do Pai e cumprir a missão era o eixo da vida de Jesus.
        Na carta aos hebreus, citando o salmo: “Ao entrar no mundo ele afirmou: «Eis-me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade!” (Hb 10, 5.7; Sl 40, 8-9).
        Elipse: 02 Jesus se deixou moldar pela Palavra a cada momento da sua vida. Por isso podia dizer: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). Como diz o povo do menino que se parece com o pai: “É a cara do pai!”.
        Obedecer... desobedecer
        Esta encarnação da Palavra em Jesus não era automática, mas fruto de uma luta que ele travava dentro de si para obedecer ao Pai em tudo. Jesus dizia: “Por mim mesmo nada posso fazer: eu julgo segundo o que ouço” (Jo 5, 30; 5, 19). Não foi fácil.
        Para obedecer à Palavra do Pai, Jesus teve que desobedecer várias vezes às autoridades religiosas da época.
        Ele teve momentos difíceis, em que gritava: “Afasta de mim este cálice!” (Mc 14, 36).

      Processo da encarnação da Palavra de Deus em Jesus
      Em CASA na família
        Na  2Tm transparecem os costumes familiares daquele tempo. Paulo diz: “Lembro-me da fé sincera que há em você (Timóteo), a mesma que havia antes na sua avó Lóide, depois em sua mãe Eunice e que agora, estou convencido, também há em você” (2Tim 1, 5). E ainda: “Desde a infância você conhece as Sagradas Escrituras; elas têm o poder de comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo” (2Tim 3, 15).

      Na SINAGOGA em comunidade
        Todo sábado Jesus participava da celebração da Palavra na sinagoga. Era o costume dele (Lc 4, 16). O conhecimento que tinha da Bíblia vinha destas reuniões semanais na comunidade, onde se faziam duas leituras: da Lei e dos profetas (At 13, 15).
         Em Nazaré, naquele sábado, Jesus fez a leitura do profeta Isaías (Lc 4, 18-19; Is 61, 1-2).

No TEMPLO nas romarias com o povo
        O ano litúrgico, marcado pelas grandes festas de Páscoa, Pentecostes e Tendas, mantinha no povo a memória das grandes etapas da sua história, narradas na Bíblia. Mantinha viva a consciência da sua pertença ao povo de Deus. (Ex 23, 14-17)
        Jesus participava das romarias (desde doze anos de idade) e que o empolgavam tanto a ponto de permanecer em Jerusalém no meio dos doutores para aprender mais as coisas de Deus, lembradas nas Escrituras (Lc 2, 41-50).

As propostas pedagógicas da época de Jesus

        Conhecer a prática pedagógica daquela época ajuda a entender melhor a prática pedagógica de Jesus.
        Na sociedade judaica, no primeiro século da Era Cristã, os rabinos eram os grandes educadores.
        Para exercer esta função, o candidato devia frequentar a Escola dos Escribas em Jerusalém (Eclo 51, 23; At 22, 3

Elipse: 03As propostas pedagógicas da época de Jesus
        Na sua prática educacional, os rabinos ocupavam os dois principais espaços da aldeia:
v  O primeiro espaço era o culto semanal na sinagoga onde a leitura da Escritura era feita em hebraico e a explicação para o povo era feita em aramaico.
v Esta interpretação visava dar ao povo elementos necessários para viver a fé e resistir às forças desagregadoras da ocupação romana.
         Educar era antes de tudo, preservar as tradições e não se deixar envolver pelas propostas do mundo cultural greco-romano.
v O segundo espaço era a escola, que funcionava junto à sinagoga (cf. At 15, 21). O rabino era realmente um professor. Na escola os meninos da aldeia aprendiam a ler e a escrever. As meninas estavam excluídas. O estudo permitia que os meninos, aos treze anos, fizessem o rito de iniciação chamado de Bar Mitzvah.
v Portanto, a prática pedagógica dos rabinos visava a maturidade das pessoas para que elas pudessem ser membros ativos da vida social, participando das decisões tanto da aldeia quanto do país.
        Ocupando estes dois espaços, o escriba tornava-se uma referência forte e obrigatória, metendo-se na vida de todos, opinando e interferindo, mesmo quando não era chamado. Na verdade um rabino era a grande autoridade do lugar. Sentado na cátedra da sinagoga (Mt 23, 2), ele definia o rumo da vida das pessoas colocadas sob sua guarda. Tinha muito poder e sabia exercê-lo.

Os primeiros passos de Jesus na sua formação

        Jesus cresceu neste ambiente. Até os doze anos deve ter frequentado a escola sinagogal, já que sabia ler (Lc 4, 16) e escrever (Jo 8, 6). Aos treze anos passou pelo ritual do Bar Mitzvah (Lc 2, 41-46) e foi considerado adulto por sua comunidade. O episódio da visita ao Templo relatado por Lucas não deixa de ser irônico, já que Jesus, tendo apenas doze anos, ainda era considerado uma criança. Mesmo assim, sendo apenas uma criança, ele já confunde os doutores.

        Depois deste episódio não sabemos mais nada sobre a formação intelectual de Jesus. Sabemos apenas que ele “crescia em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52). Quando voltamos a ter noticias dele, vemos que Ele  faz opção pelo movimento popular de sua época, marcado pela mensagem profética de João Batista (Mt 3, 13-15; Mc 1, 2-11; Lc 3, 1-22; Jo 1, 19-34). Suas decisões de vida, das quais não sabemos muita coisa, marcaram sua trajetória.

        Ao iniciar a sua vida pública, Jesus percebe que, dentro da sociedade de seu tempo, uma grande multidão está sem rumo, “como ovelhas sem pastor” (Mt 9, 36; Mc 3, 7-8).
        Na verdade ele passa a se relacionar com pessoas bem concretas, fazendo-lhes uma proposta: “O tempo já se cumpriu; o Reino de Deus está próximo; mudem de vida e acreditem nesta Boa Nova” (Mc 1, 15).

Elipse: 04Qual a  maneira pedagógica de Jesus  em oferecer esta proposta muito simples ao povo de sua época que podemos chamar de pastoral ou pedagogia de Jesus?
        Jesus foi um mestre singular, já que não tinha a idade de fazer pregações públicas nem tinha frequentado a Escola dos Escribas (Jo 7, 15). O que ele trazia consigo era sua bagagem de educador caseiro...
A escola de Jesus
        Jesus não teve a oportunidade, como o apóstolo Paulo, de estudar na escola superior de Jerusalém com um doutor como Gamaliel (At 22, 3). Dos trinta e três anos da sua vida, ele passou mais de trinta no anonimato, em Nazaré, uma aldeia pequena e sem importância (Jo 1, 46). Lá ele viveu e se formou, aprendendo em casa com a família e na comunidade com o povo (cf. Lc 2, 52). Esta foi a ESCOLA de Jesus.

        A escola de Jesus era, antes de tudo, a vida em casa, na família, onde vivia com os pais, obediente a eles (Lc 2, 51). Mas é bom sabermos que família, naquela época, reunia muita gente. Na verdade eram famílias ampliadas, reunindo pessoas unidas por laços de parentesco e que hoje chamamos de clã. Foi lá, no meio de muita gente, que ele aprendeu a amar, a andar, a falar, a conviver, a rezar, a trabalhar e a pensar.

        A escola de Jesus era a Bíblia, lida na comunidade (sinagoga) e ruminada em casa. Pelos Evangelhos, como veremos mais adiante, a gente percebe que Jesus conhecia muito bem a Bíblia. Se alguém juntar todas as alusões ou citações que Jesus faz da Bíblia, perceberá que ele conhecia a Bíblia de cor e salteado.

        A escola de Jesus era a Tradição, transmitida pelos escribas ou doutores da lei. Jesus reconhece a autoridade dos escribas, os teólogos da época. Mas avisa: “Façam o que eles dizem, mas não o que eles fazem!” (Mt 23, 3). Reconhece que eles transmitem a vontade de Deus. Mas denuncia: muita coisa do que eles exigem não tem nada que ver com a vontade do Pai. Eles esvaziam o mandamento de Deus (Mc 7, 13). “Vocês abandonam o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens” (Mc 7, 8).

        A escola de Jesus era a convivência com o povo de Nazaré. Nazaré era um povoado pequeno, onde todo mundo conhecia todo mundo. Eles conheciam Jesus e a sua família (Mc 6, 3). Jesus conhecia o povo (Jo 2, 24-25).

        A escola de Jesus era o trabalho. Jesus se formou trabalhando. Aprendeu a profissão de seu pai (Mt 13, 55). A palavra carpinteiro que define a profissão de Jesus dá a ideia de um artesão da comunidade. Jesus servia ao povo de Nazaré como carpinteiro, pedreiro e ferreiro (Mc 6, 3). Além disso, como todo judeu do interior, trabalhava na roça como agricultor. Carpintaria e roça! Trabalho duro para viver e sobreviver.

        A escola de Jesus era o mundo. O povo da Galiléia tinha uma maneira diferente de conviver com os outros povos. Era mais aberto e mais ecumênico que o da Judéia, no Sul. A Galiléia estava cercada de cidades pagãs (Damasco, Tiro, Sidônia, Ptolemaida, Cesaréia, Samaria e a Decápole).

        Elipse: 05A escola de Jesus era a sua vida de intimidade com Deus, seu Pai. Jesus rezava muito. Passava noites em oração (Lc 6, 12). Na oração, procurava saber o que o Pai queria dele (Mt 26, 39). Na medida em que crescia nele a intimidade com o Pai, crescia também a consciência de filho...
Jesus assume a missão do Servo
        Naqueles trinta anos em Nazaré, Jesus “crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele” (Lc 2, 40). A Palavra de Deus foi entrando nele, tomando conta da sua vida. Já aos doze anos, lá no templo, ele respondia aos pais: “Então, vocês não sabiam que devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2, 49). Jesus meditava as histórias e as profecias e, aos poucos, ia encontrando nelas o rumo da sua missão. É, sobretudo, a missão do Servo de Deus, anunciado por Isaías, que o atraía (Is 42, 1-9; 49, 1-6; 50, 4-9; 52, 13-53, 12)
        Esta auto-compreensão de Jesus como Servo de Deus tem sua raiz na esperança dos pobres e na convivência em família e em comunidade. O ensino oficial esperava um Messias glorioso.
         Só os pobres esperavam um Messias pobre e servidor, anunciado por Isaías, e encaravam a missão do povo de Deus não como um domínio, mas como um serviço à humanidade. Maria, a pobre de Javé, dizia ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor!” Foi a partir dela e dos pobres, dos anawim, que Jesus leu as Escrituras e aprendeu o caminho do serviço.
 
II - COMO JESUS ANUNCIAVA A PALAVRA DE DEUS AO POVO
Modo novo de anunciar a Boa Nova de Deus
        Depois deste longo e duro aprendizado, Jesus começa a transmitir sua experiência de vida. Ele não quer ensinar as pessoas a viverem melhor os mandamentos da Lei ou a obedecerem às autoridades constituídas. Jesus quer que as pessoas cresçam para que mantenham um relacionamento adulto e consciente com Deus.
         Jesus não quer estabelecer uma relação de dependência entre professor-aluno, mas é como um amigo que está a serviço de seus amigos e amigas. Foi desta maneira que ele começou a educar
        Alguns aspectos que caracterizam o jeito de Jesus anunciar a Boa Nova de Deus e de ser um sinal vivo da mesma:

        Refazer o relacionamento humano na base
        As atividades pedagógicas de Jesus visavam, antes de tudo, refazer os relacionamentos humanos na base que estavam em total desintegração. Jesus percebe a situação concreta de desintegração em que se encontrava a vida comunitária de seu povo. No antigo Israel, o clã, isto é, a família ampliada, a Casa, a comunidade, era a base da convivência social. Uma pessoa excluída desta convivência vagava sem rumo e sem identidade. A Casa era a garantia de vida para uma pessoa. A Casa garantia a terra, a proteção, a defesa, os relacionamentos, as tradições que davam identidade a uma pessoa. Era a maneira concreta do povo daquela época encarnar o amor a Deus e ao próximo. Defender a Casa, o clã, era o mesmo que defender a Aliança entre Deus e o povo.

Elipse: 06Mas na época de Jesus a Casa estava muito enfraquecida.
        O que estava enfraquecendo as casas:
ü a política dos romanos e de Herodes, que estava confiscando a produção das casas através dos impostos;
ü  a prática religiosa centrada nos sacrifícios e nos dízimos canalizava para o templo de Jerusalém grande parte dos produtos necessários para a sobrevivência das famílias.

        Mais da metade do salário familiar era recolhida como imposto, tributo, taxa e dízimo. Tais políticas geravam doentes, famintos, marginalizados, viúvas, órfãos, possessos, pobres e mendigos. Mas geravam também uma forte oposição ao sistema, como a dos zelotas, dos sicários e do movimento profético popular, a exemplo do movimento do Batista.

        A participação de Jesus neste ambiente tenso e carregado, bem como sua opção pelo movimento popular de João Batista, foi determinante para a escolha de sua missão e para a formação que Ele deu aos discípulos e discípulas.

Visitar o povo nas casas e recuperar a dimensão festiva da vida

        Numa época em que a religião oficial insistia no espaço sagrado do Templo e nas coisas ligadas ao culto, Jesus recupera a dimensão caseira da fé. É impressionante verificar como nos evangelhos o ambiente da Casa exerce um papel central na atividade pastoral de Jesus. Durante os três anos que andou pela Galiléia ele entrava e vivia nas casas do povo. Entrou na casa de Pedro (Mt 8, 14), de Mateus (Mt 9, 10), de Jairo (Mt 9, 23), de Simão o fariseu (Lc 7, 36), de Simão o leproso (Mc 14, 3) e de Zaqueu (Lc 19, 5). O oficial reconhece: “Não sou digno de que entres em minha casa” (Mt 8, 8). E o povo procurava Jesus na casa dele (Mt 9, 28; Mc 1, 33; 2, 1; 3, 20). Quando ia a Jerusalém, Jesus parava em Betânia na casa de Marta, Maria e Lázaro (Jo 11, 3.5.45; 12, 2). No envio dos discípulos e discípulas a missão deles é entrar nas casas do povo e levar a paz (Mt 10, 12-14; Mc 6, 10; Lc 10, 1-9).

Visitar o povo nas casas e recuperar a dimensão festiva da vida

        Jesus, sua mãe e todos os discípulos participam da festa de casamento em Caná (Jo 2, 1-2). Aceita convite para almoçar e jantar nas casas do povo: de Simão o leproso (Mc 14, 3), de Simão o fariseu (Lc 7, 36), de Marta e Maria (Jo 12, 2), de outro fariseu (Lc 11, 37; 14, 12). É na sala superior da casa de um amigo que Jesus celebrou a última páscoa com seus amigos (Mt 26, 18-19). Envia os discípulos e discípulas para reconstruir o clã nas aldeias da Galiléia nas quatro bases da vida comunitária: hospitalidade, partilha, comunhão de mesa e acolhida aos excluídos (Lc 10, 1-9). Tanto assim, que os adversários o acusavam de ser um comilão e um beberrão (Mt 11, 19; Lc 7, 34). Depois da ressurreição, Jesus entrou em casa com os dois discípulos em Emaús e foi reconhecido por eles no gesto tão caseiro da fração do pão (Lc 24, 29-30).

Elipse: 07 

Cuidar dos doentes e acolher os excluídos
        Podemos dizer, a partir dos evangelhos, que o primeiro trabalho pastoral de Jesus foi cuidar de doentes (Mc 1, 32). Os enfermos, por causa de sua doença considerada um castigo divino, eram afastados do convívio social, perambulando pelas ruas, aguardando uma esmola. Ao voltar-se para os doentes, Jesus conscientemente assumiu um lado da sociedade de seu tempo. Assumiu conscientemente uma marginalização social, a ponto de já não poder entrar nas cidades (Mc 1, 45). Com esta sua atitude, a pessoa mesma de Jesus, compreendida a partir desta sua opção pastoral, é sua primeira proposta formativa.

        Cuidar dos doentes e acolher os excluídos
        As pessoas ao seu redor passam a chamá-lo de rabi (Mestre) (Jo 1, 38). Jesus não é um professor que ensina um saber acadêmico. Ele é um mestre que convive com seus seguidores e seguidoras. Podemos concluir que a vida pública de Jesus começa com seu trabalho educativo cuidando dos doentes, convivendo com os pobres e os marginalizados. Jesus sintetiza esta sua opção através de um ditado popular bastante óbvio: “Não são os sadios que necessitam de médico, mas os enfermos” (Mc 2, 17). Esta sua atitude pastoral é a primeira proposta formativa.

        Ir ao encontro das pessoas e propor um caminho
        Jesus adota um estilo de vida que revela sua pedagogia, diferente da pedagogia dos escribas de sua época. No lugar de encerrar-se numa sinagoga ou numa escola e exercer o poder de um escriba, Jesus rompe este esquema, tornando-se um pregador ambulante. Onde encontra gente para escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus. Em qualquer lugar. Nas sinagogas durante a celebração da Palavra aos sábados (Mc 1, 21; 3, 1; 6, 2). Em reuniões informais nas casas de amigos (Mc 2, 1.15; 7, 17; 9, 28; 10, 10). Andando pelo caminho com os discípulos (Mc 2, 23). Ao longo do mar, à beira da praia, sentado num barco (Mc 4, 1). No deserto para onde se refugiou e onde o povo o procura (Mc 6, 32-34). Na montanha, de onde proclama as bem-aventuranças (Mt 5, 1). Nas praças das aldeias e cidades, onde povo carrega seus doentes(Mc 6, 55-56). Mesmo no Templo de Jerusalém, nas romarias, diariamente, sem medo (Mc 14, 49)! Ele vai ao encontro das pessoas, estabelecendo com elas uma relação direta através da prática do acolhimento.

Ir ao encontro das pessoas e propor um caminho
        Algumas pessoas começam a rever suas vidas e a encarar Jesus de uma maneira diferente. Ele não apenas ensina, mas apresenta sua prática como exemplo. Estas pessoas começam a seguir Jesus. A proposta pedagógica de Jesus é a do discipulado. Antes de propor ou expor um conteúdo básico doutrinário, Jesus propõe a estas pessoas um caminho de vida. A resposta da pessoa é seguir Jesus neste caminho. Ele mesmo tem consciência de que seu exemplo de vida é pedagógico: “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso... aprendam de mim...” (Mt 11, 28-30).

Elipse: 08Criar comunidade e reconciliar as pessoas
        Segundo os evangelhos vemos que um grande número de pessoas, das mais diferentes origens e ocupações, começa a seguir Jesus. Primeiro aparece um grupo de pescadores. Pedro, André, Tiago e João...trabalhadores, gente sem muita instrução (At 5, 38), naturais de Betsaida, uma pequena aldeia da Galiléia (Mc 1, 16-20). Desta mesma aldeia veio Filipe (Jo 1, 44), provavelmente outro pescador. Mateus é um publicano, um cobrador de impostos, um judeu que serve aos romanos (Mt 9, 9). Ao lado dele encontramos Simão, o zelota (Mt 10, 4). Um zelota era um guerrilheiro que combatia duramente a ocupação romana.

Criar comunidade e reconciliar as pessoas
        E agora Mateus e Simão caminham juntos, lado a lado, unidos pela mesma opção. Como Jesus conseguiu esta proeza, não sabemos. Sinal de que fazia parte de sua pedagogia aceitar gente das mais extremadas posições sociais e políticas dentro de Israel. Sua proposta era de construir uma comunidade que traduzisse toda a diversidade da sociedade de seu tempo e, ao mesmo tempo, mostrasse a possibilidade de uma reconciliação social, onde todas as correntes encontrassem um espaço de convivência.

Superar as barreiras de gênero, religião, raça e classe
        A pedagogia de Jesus supera as mais difíceis barreiras de gênero, de religião, de raça e de classe. Ele acolhe e conversa com Nicodemos (Jo 3, 1), que era um membro da alta classe judaica, com assento no Sinédrio. Jesus não só acolhe o pedido de um oficial romano para curar o filho doente (Mt 8, 5; Lc 7, 2), mas também elogia sua fé: "Eu declaro a vocês que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé" (Lc 7, 9). Ele acolhe o pedido da mulher Cananéia que era de outra raça e de outra religião (Mc 7, 25-29), e é criticado pelo fato de entrar na casa dos cobradores de impostos (Mc 2, 15-16).

Superar as barreiras de gênero, religião, raça e classe
        Jesus também acolhe e conversa com uma mulher samaritana (Jo 4, 7).da qual não sabemos sequer o nome, Jesus consegue estabelecer um diálogo construtivo, superando uma das mais difíceis barreiras, a religião. Para a samaritana Jesus era um judeu (Jo 4, 9), ou seja, um inimigo religioso, opressor dos samaritanos. Jesus teve que, pacientemente, desarmar a samaritana e dizer: “Mulher, eu sou judeu, mas não sou teu inimigo!”.
        O longo diálogo entre Jesus e a samaritana mostra o quanto Jesus estava aberto para a presença das mulheres em seu grupo. Afinal, dentro da redação do evangelho de São João, a primeira pessoa a quem ele se revelou como Messias foi para aquela mulher considerada herética pelos judeus! Contrariando um grande número de rabinos, que não aceitavam mulheres em seus grupos de estudo, sabemos que muitas mulheres seguiam Jesus (Mc 15, 41; Lc 8, 2-3). O texto de João mostra que os próprios discípulos ficam surpresos com o diálogo de Jesus com a samaritana (cf. Jo 4, 27). Aceitar as mulheres em igualdade dentro do grupo não deve ter sido fácil para os discípulos (Lc 24, 11).
Elipse: 09+2.2 O uso que Jesus faz da Bíblia para anunciar a Boa Nova de Deus

Jesus usa a Bíblia com FAMILIARIDADE
        O que caracteriza o uso que Jesus fazia da Bíblia é a familiaridade. Passando os olhos pelos quatro evangelhos, a gente percebe que, para Jesus, a Bíblia não era um livro estranho nem um livro de estudo ou um manual a ser decorado, mas sim um espelho onde encontrava refletida a vida do povo com seus problemas. Jesus ligava a Bíblia com a vida para iluminar os fatos e esclarecer as perguntas do povo. Ele conhecia tanto os livros como as etapas e os personagens da história do seu povo. Com a máxima facilidade ele usa e cita a Bíblia para esclarecer, ensinar, discutir, rezar, formar, se defender e provocar.

FAMILIARIDADE
        Escutando os ensinamentos de Jesus escutamos neles a história da Bíblia inteira, do começo ao fim: desde Abraão, Isaac e Jacó (Mc 12, 26), a história de Moisés na sarça ardente (Mc 12, 26), as prescrições da Lei sobre a pureza legal (Mc 1, 44; 7, 10) e sobre o divórcio (Mc 10, 3), até Jonas (Mt 12, 39-41), a rainha do Sul (Mt 12, 42), Salomão (Lc 11, 31), Elias, Eliseu e as histórias de Naamã o Sírio e da viúva de Sarepta (Lc 4, 25-27), e tantos outros.

        Ao jovem rico ele lembra os mandamentos da lei de Deus (Mc 10, 19). Na expulsão dos vendedores do templo, ele cita de memória textos de Jeremias: “Vocês fizeram do templo uma toca de ladrões” (Mc 11, 17 e Jr 7, 11), e de Isaías: “Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Mc 1, 17 e Is 56, 7). Cita Oséias: “Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9, 13; 12, 7 e Os 6, 6). Cita o primeiro mandamento do livro do Deuteronômio (Mc 12, 29-30 e Dt 6, 4-5) e a lei do amor ao próximo do livro do Levítico (Mc 12, 31 e Lv 19, 18).

        O resultado do longo aprendizado de trinta anos em Nazaré transparece, sobretudo, na facilidade e na frequência com que Jesus usa, reza e cita os salmos. Os salmos eram o livro de canto que todos sabiam de memória. Jesus os cita e evoca nas bem-aventuranças, nas parábolas, no Sermão da Montanha: “Felizes os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5, 4; Sl 37, 11); “Felizes os que choram porque serão consolados” (Mt 5, 5; Sl 126, 5); “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8; Sl 24, 3-4). O pai que vê em segredo, escutará a prece feita em segredo (Mt 6, 4; Sl 139, 2-3). O abandono à providência divina (Mt 6, 25-34; Sl 127). A parábola da vinha (Mc 12, 1; Sl 80, 9-19). “Eu sou o bom pastor” (Jo 10, 11; Sl 23).

        Nas discussões com os fariseus e doutores os textos da Bíblia que ele mais cita espontaneamente são os salmos. Sinal de que os conhecia de memória. “Da boca dos pequeninos e das criancinhas preparaste um louvor para ti” (Mt 21, 16; Sl 8, 3 LXX). “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Mt 21, 42; Sl 118, 23). “O Senhor disse ao meu Senhor: senta-te à minha direita” (Mt 22, 44; Sl 110, 1). “Vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso” (Mc 14, 62; Sl 110, 1).
Elipse: 10FAMILIARIDADE
        Jesus revela sua união com o Pai através da reza dos salmos, sobretudo na hora do sofrimento. No Horto, ele desabafa “Minha alma está triste” (Mc 14, 34). A frase lhe é fornecida por vários salmos (Sl 31, 9-10; 42, 5-6). Na cruz, ele reza dois salmos: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15, 34; Sl 22, 1) e “Em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46; Sl 31, 6).

Nos três anos da sua atividade pastoral Jesus praticou o que aprendeu nos trinta anos em Nazaré. Sua ação pastoral é o reflexo da leitura que fazia da Bíblia em casa e na comunidade. Sem este ambiente orante comunitário não se entende o uso que Jesus fazia da Bíblia.
         O Pai-Nosso é um resumo orante de tudo que Jesus ensinou, sendo retomados os grandes ensinamentos que vinham desde o Antigo Testamento: santificação do Nome, vinda do Reino, realização da vontade expressa na lei, o maná ou o pão de cada dia, perdão das dívidas e resistência contra as tentações (Mt 6, 9-13).
        No “Pai Nosso” Jesus oferece um resumo prático de tudo que a lei e os profetas ensinavam (Mt 7, 12).

O uso que Jesus faz da Bíblia incomoda os conservadores: LIBERDADE
        A  familiaridade indica não só o amplo conhecimento que Jesus tinha da Bíblia, mas também a consciência de que a Bíblia não é um livro estranho que pertence aos outros, mas é da nossa família. Esta consciência de “pertença familiar” vinha do ambiente comunitário no qual se lia, usava e se transmitia a Bíblia. É nosso livro, fala de nós! Eu não posso dispor de algo que não é meu. Mas quando uma coisa me pertence, quando ela é nossa, aí tenho a liberdade de dispor dela. Jesus revela esta liberdade frente às Escrituras Sagradas do seu povo, não para usá-las em seu próprio benefício, mas para expressar a sua total fidelidade ao sentido mais profundo da mensagem de Deus revelada na Bíblia.

        Jesus critica fortemente os doutores que insistem na observância da letra da lei e que, por isso mesmo, já não percebem o objetivo da lei: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês pagam o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixam de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês deveriam praticar isso, sem deixar aquilo. Guias cegos! Vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo” (Mt 23, 23-24).

        Jesus critica o fundamentalismo que em nome de uma pretensa fidelidade transgride o objetivo da lei: “Vocês são bastante espertos para deixar de lado o mandamento de Deus a fim de guardar as tradições de vocês. Com efeito, Moisés ordenou: 'Honre seu pai e sua mãe'. E ainda: 'Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer'. Mas vocês ensinam que é lícito a alguém dizer a seu pai e à sua mãe: 'O sustento que vocês poderiam receber de mim é Corbã, isto é, consagrado a Deus'. E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe. Assim vocês esvaziam a Palavra de Deus com a tradição que vocês transmitem. E vocês fazem muitas outras coisas como essas" (Mc 7, 9-13).
        Elipse: 11O uso que Jesus faz da Bíblia incomoda os conservadores: LIBERDADE

        A liberdade com que Jesus interpretava a Bíblia incomodava os conservadores. Em nome da compreensão fundamentalista da lei eles criticam a atitude pastoral de Jesus e se recusam a crer nele (Mc 2, 7.16.18.24; 3, 2-4.22; 7, 1-8). Eles o observam para poder acusá-lo e a acusação sempre vem da Bíblia, isto é, da interpretação que eles faziam da Bíblia.
        Jesus  resposnde às acusações dos conservadores também  com a Bíblia. Nas respostas em torno do que pode e não pode em dia de sábado, Jesus cita as palavras de Oséias (Mt 9, 11-13 e Os 6, 6), lembra como o próprio Davi transgredia a lei para atender à fome dos seus companheiros (Mc 2, 25-26) e esclarece o sentido exato da pureza, quebrando assim o literalismo das interpretações dos doutores e fariseus (Mc 7, 5-8.14-22).
         Esta liberdade no uso da Bíblia  colocou Jesus em conflito com as autoridades religiosas e foi a causa da sua condenação à morte.

        Ele esclarece a João Batista que, em nome da sua maneira estreita de entender a Bíblia, ficou na dúvida a respeito de Jesus: “É o senhor ou devemos esperar por outro?” (Mt 11, 2-3). Jesus usa textos de Isaías para ajudar o amigo a ler melhor os fatos da vida: “Vão e digam a João o que estão vendo e ouvindo: cegos veem, coxos andam, leprosos são limpos, e feliz quem não se escandalizar comigo!” (Mt 11, 4-6 e Is 35, 5-6).

        Quando recebe a notícia da prisão de João Batista (Mc 1, 14), Jesus capta a palavra de Deus nos sinais dos tempos (cf. Mt 16, 3) e diz: “Esgotou-se o prazo, o Reino de Deus chegou! Mudem de vida e acreditem nesta Boa Notícia” (Mc 1, 15). Esta maneira de ler os fatos à luz da Bíblia dá a Jesus olhos novos para perceber a presença do Reino de Deus no meio do povo. O Reino já estava aí, mas ninguém o percebia (Lc 17, 20-21). Jesus o percebe e o revela (Mt 16, 1-3).

        O anúncio do Reino é o centro do ensino de Jesus ao povo. Nas parábolas, ele usa as coisas mais simples do dia a dia para ajudar o povo a perceber a presença do Reino nos fatos da vida. Deste modo, a própria vida com todos os seus detalhes começa a ser um instrumento para poder entender a mensagem mais central das promessas em torno do Reino de Deus. Jesus sabe usar o segundo livro de Deus que é a Bíblia para ajudar o povo a entender o primeiro livro de Deus que é a vida.

Jesus manda ultrapassar a letra:
FIDELIDADE
        Por causa de sua liberdade na interpretação da Bíblia, Jesus foi criticado. Diziam que ele estava acabando com a Lei de Deus e com a Tradição dos Antigos. Ele responde: “Não vim para acabar com a Lei, mas para levá-la ao pleno cumprimento” (Mt 5, 17). E dizia: “Se a justiça de vocês não for maior do que a justiça dos escribas e fariseus, vocês não vão poder entrar no Reino de Deus” (Mt 5, 17).

Elipse: 12Jesus manda ultrapassar a letra: FIDELIDADE

        Jesus ajuda o povo a ultrapassar a letra e a descobrir o espírito da lei. A lei do sábado deve estar a serviço da vida (Mc 2, 27). No Sermão da Montanha, seis vezes em seguida ele tem a coragem de dizer: “Antigamente foi dito, mas eu digo” (Mt 5, 21-22.27-28.31-32.33-34.38-39.43-44). Assim ele esclarece o objetivo último do mandamento “Não matarás!” Só observa plenamente este mandamento aquele que for capaz de eliminar de dentro de si tudo aquilo que, de uma ou de outra maneira,

        Na longa instrução aos discípulos no evangelho de Marcos (Mc 8, 27-10, 45), Jesus os ajuda a entender o verdadeiro sentido da profecia de Isaías sobre o Servo de Javé. Ele cita três vezes aquelas palavras da profecia que falam do sofrimento e da morte do Servo e as aplica a si mesmo (Mc 8, 31; 9.31; 10, 33-34). Mas os discípulos não deram conta de entender a interpretação de Jesus (Mc 8, 32-33; 9, 32). Em vez de pensar na cruz, pensavam na sua própria promoção. Jesus tentou ajudá-los (Mc 10, 35-45), mas nem sempre conseguia. A catequese tradicionalista os impedia de perceber a novidade trazida por Jesus.

        O evangelho de Lucas usa o episódio de Emaús para sugerir aos cristãos dos anos 80 o método que Jesus usava na interpretação da Bíblia (Lc 24, 13-35). A primeira atitude de Jesus é aproximar-se, caminhar junto e escutar a conversa. Ele faz perguntas e quer saber o que estão falando (Lc 24, 15-19).  Ele usa a Bíblia não para dar uma aula sobre a Bíblia, mas para iluminar o problema da vida (Lc 24, 25-27). A Bíblia sozinha, não abre os olhos, não faz enxergar. Ela faz arder o coração (Lc 24, 32), mas o que faz enxergar de fato é o gesto comunitário da hospitalidade, de sentar juntos à mesa, de rezar e de partilhar o pão. Aí os olhos se abrem e eles mesmos ressuscitam (Lc 24, 28-31).

2.3 A prática pastoral de Jesus

        A palavra seguir é o termo que define a prática pastoral de Jesus. Tal palavra indica o tipo especial de relacionamento entre Jesus, chamado mestre, e os seus seguidores e seguidoras, chamados discípulos e discípulas. O relacionamento mestre-discípulo é muito diferente do relacionamento professor-aluno. Seguindo o mestre, o discípulo aprende convivendo com ele.

        Só entenderemos a prática pastoral de Jesus se entendermos sua prática formativa desenvolvida na convivência com as pessoas que o seguiam. Formando uma comunidade com seus discípulos, Jesus aponta como caminho pedagógico sua prática de ser um com eles.

        Alguns passos deste método educativo de convivência comunitária:

...parte da realidade
        Elipse: 13

Jesus convida as pessoas à reflexão a partir das coisas ou dos fatos mais corriqueiros. Salgar a comida (Mt 5, 13), acender uma lâmpada (Mt 5, 14), pescadores que puxam rede (Mt 13, 47), camponeses semeando (Mt 13, 4), plantas que crescem (Mt 13, 31), pastores trabalhando (Lc 15, 4), uma galinha choca que protege seus pintainhos debaixo das asas (Mt 23, 37), uma torre que cai sobre os operários (Lc 13, 4), mulher fazendo pão (Lc 13, 20), filhos que saem de casa (Lc 15, 13), brigas familiares (Mc 3, 25), juizes corruptos (Lc 18, 2), trabalhadores desempregados (Mt 20, 7), mendigos sentados nas portas (Lc 16, 20), odres que se rompem (Mc 2, 22), roupas remendadas (Mt 9, 16), festa de casamento (Mt 22, 2) etc.
        Qualquer situação humana é material suficiente para Jesus transmitir um ensinamento. Sua pedagogia parte da observação, da realidade, do cotidiano. Nada de decorar conteúdos ou raciocinar em cima de abstrações, mas de analisar fatos e situações bem concretas. Partindo destas situações caseiras, Jesus consegue se fazer entender por qualquer pessoa (Lc 10, 21), permitindo que sua mensagem atinja a todos, sem discriminação.

É participativa
        Ao optar pelo ensinamento através de parábolas, Jesus adota uma pastoral de participação do ouvinte. A palavra parábola vem do grego e significa “comparação”. Na verdade, parábola tenta traduzir o hebraico mashal.
        Um mashal é mais do que uma comparação. Mashal é uma sentença sapiencial, uma frase, um dito, um provérbio, enfim, o alicerce da Sabedoria que define o pensamento próprio do povo de Israel (cf. Sl 78, 1-8).

        Ao adotar o mashal como instrumento pedagógico (Mc 4, 33), Jesus está sendo fiel ao pensamento e à cultura de seu povo. Ao construir suas historietas, seus contos, seus “causos”, Jesus sabe que o mashal só se completa com a reação e a participação do ouvinte. Desta forma, vemos que Jesus faz sua opção por uma pedagogia participativa e de fácil acesso, sendo compreendido por todos.

        A parábola provoca. Ela é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não dá tudo trocado em miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela leva a pessoa a refletir sobre a sua própria experiência de vida e faz com que esta experiência a leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano, no dia a dia. Esta era a novidade da Boa Nova trazida por Jesus, diferente dos doutores que ensinavam que Deus só se manifestava na observância da lei.

        Jesus diz: “O Reino está presente no meio de vocês!” (Lc 17, 21).

         A parábola muda os olhos, faz da pessoa uma observadora da realidade. Jesus tinha uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus com as coisas mais simples da vida. Isso supõe duas coisas que marcam a pedagogia de Jesus: estar bem por dentro das coisas da vida do povo e estar por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus.
Elipse: 14

Cria comunidades
        Jesus propõe um caminho. No seu esforço de ser um com seus discípulos e discípulas, Jesus oferece a todos uma convivência. Nessa proposta ele não seleciona pessoas. Acolhe a todos e todas. Sabe conviver com todos, transmitindo e ensinando qualquer um que se proponha a ouvi-lo.

        Por outro lado, Jesus não trata a todos por igual. Ele sabe distinguir as pessoas com métodos particulares, conforme a situação peculiar de cada uma delas. Tanto Nicodemos quanto a samaritana receberam um ensinamento sobre o batismo. Mas o diálogo de Jesus com Nicodemos não é o mesmo que ele estabelece com a samaritana.
        Ao longo daqueles três anos, Jesus acompanha os discípulos e as discípulas. Ele é o amigo (Jo 15, 15) que convive com elas e com eles, conversa com eles, come com eles, anda com eles, alegra-se com eles e sofre com eles. É através desta convivência pedagógica que os discípulos e as discípulas se formam.
         Muitos pequenos gestos refletem o testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos. O seu jeito de ser e de conviver com os amigos, de relacionar-se com as pessoas e de acolher o povo que vinha falar com ele era a maneira dele dar forma humana à sua experiência de Deus como Pai.
        Um ponto importante nesta prática pastoral é saber delegar, engajar e envolver os discípulos e discípulas na sua própria missão. Desde o primeiro momento do chamado, ele os envolve na missão (Lc 9, 1-2; 10, 1). Devem ir, dois a dois, para anunciar a chegada do Reino (Mt 10, 7; Lc 10, 1.9), curar os doentes (Lc 9, 2), expulsar os demônios (Mc 3, 15), anunciar a paz (Lc 10, 5; Mt 10, 13) e rezar pela continuidade da missão (Lc 10, 2).
        Ele os forma dentro da ação, envolvendo-os na missão que ele mesmo estava realizando em obediência ao Pai.

Uma pastoral libertadora
        Jesus vive e faz o que ensina e ninguém consegue acusá-lo de algum pecado (Jo 8, 46).
         Ele é livre e comunica liberdade aos que o cercam (Jo 8, 32-36), dando-lhes coragem de transgredir as tradições caducas dos escribas e arrancar espigas no campo (Mt 12, 1-8).
        Com os discípulos e discípulas cria relações intensas e profundas que ajudam as pessoas a crescer e se libertar.
        Jesus soube ser:
        Amigo: compartilha tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jo 15, 15).
        Carinhoso: provoca respostas fortes de amor (Lc 7, 37-38; 8, 2-3; Jo 21, 15-17; Mc 14, 3-9).
        Atencioso: preocupa-se com a alimentação (Jo 21, 9) e o descanso deles (Mc 6, 31).
        Pacificador: inspira paz e reconciliação (Jo 20, 19; Mt 10, 26-33; Mt 18, 18-22; Mt 16,   19).
        Comprometido: defende os amigos quando são criticados pelos adversários (Mc 2, 18-19; 7, 5-13).
        Elipse: 15Realista e observador: desperta a atenção dos discípulos para as coisas da vida (Lc 8, 4-8).
        Livre: desperta e provoca liberdade e libertação (Mc 2, 27; 2, 18.23).
        Misericordioso, manso e humilde: acolhe a todos, especialmente os pobres (Mt 11, 28).
        Preocupado: com a situação do povo, esquece o próprio cansaço e acolhe o povo (Mt 9, 36-38).
        Compreensivo: aceita os discípulos do jeito que são, até mesmo a fuga, a negação e a traição, sem romper com eles (Mc 14, 27-28; Jn 6, 67).
     
      Jesus é humano, muito humano, tão humano como só Deus pode ser humano! Pelo seu jeito de ser e pelo testemunho de sua vida, Jesus encarnava o amor de Deus e o revelava aos discípulos (Mc 6, 31; Mt 10, 30; Lc 15, 11-32). Tornava-se para eles uma pessoa significativa que os marcou pelo resto de suas vidas como "caminho, verdade e vida" (Jo 14, 6).

2.4  O objetivo do uso da Bíblia na Catequese/Pastoral: revelar a presença de Deus na vida
        O objetivo...
        Jesus fazia uso da Bíblia não para ajudar os outros a entender a Bíblia, mas sim para ajudá-los a interpretar a vida com a ajuda da Bíblia, pois a Bíblia, o Segundo Livro de Deus, foi escrito não para ocupar o lugar da vida, mas para ajudar o povo a entender a vida e a descobrir, dentro da vida, os sinais dos apelos e da presença da Deus.
        DNC 108= Objetivos do uso da Bíblia na Catequese
Primeiro Livro: a criação, a natureza, a vida, o mundo, os fatos e a história
        A Voz da Palavra ressoa em primeiro lugar na natureza, no universo, na vida e nos fatos, como diz o salmo (Sl 19, 2-5).
        O primeiro livro de Deus não é a Bíblia, mas sim a natureza, a criação, o mundo, a vida, a história e os acontecimentos.
        É através deste Livro da Natureza ou da Vida que Deus quer falar conosco.
        De que maneira a natureza é o Livro de Deus? Deus criou as coisas falando. Ele disse: “Luz!” E a luz começou a existir (Gn 1, 3). Tudo que existe é a expressão de uma palavra divina. Cada ser humano é uma palavra ambulante de Deus (Gn 1, 27). As crianças são palavra de Deus para os pais; os pais são palavra de Deus para as crianças . Mas nós já não nos damos conta de que estamos vivendo no meio do livro de Deus e que cada um de nós é uma página viva deste livro divino. Há algo que nos impede de reconhecer a presença da Palavra na vida, algo que “sufoca a verdade” (Rm 1, 18). O que nos impede?
        Santo Agostinho diz que foi o pecado, esta nossa mania de querer dominar tudo, de tratar a natureza como mercadoria e de achar que somos donos de tudo. Por isso, as letras do Primeiro Livro de Deus se atrapalharam e a humanidade já não consegue descobrir a fala de Deus no Livro da Vida. Perdemos o olhar da contemplação, nossa capacidade de admirar (cf. Eclo 42, 17.22-25; 43, 11.27-28). Por isso, surgiu a segunda etapa da encarnação e do anúncio da Palavra de Deus. Nasceu a Bíblia, o Segundo Livro de Deus.
        Elipse: 16

Segundo Livro: a Bíblia
        A Bíblia foi escrita, não para substituir o Livro da Vida, mas sim para ajudar-nos a entendê-lo melhor e a descobrir nele os sinais da presença de Deus. O estudo e a leitura orante da Bíblia nos devolvem o olhar da contemplação, nos ajudam a decifrar e a interpretar o mundo, os acontecimentos e a natureza. Fazem com que o Universo se torne novamente uma revelação de Deus, volte a ser o que deve ser: O Primeiro Livro de Deus para nós.
        Como é que Deus faz isso? Como é que a Bíblia foi escrita? O texto da Bíblia não caiu pronto do céu. Nasceu ao longo dos séculos, fruto da ação do Espírito de Deus e de um demorado processo de busca. Impelido pelo desejo de encontrar Deus, o povo foi descobrindo os sinais da sua presença escondida na vida, na história, na natureza e, dentro dos critérios da sua cultura, os transmitia para as gerações seguintes. Assim, foi nascendo a Tradição Viva do Povo de Deus, transmitida oralmente de geração em geração. No fim, registraram todas as suas descobertas num livro (cf. Ex 17, 14). Este livro é a Bíblia.
        A Bíblia traz o resultado da leitura que o povo hebreu fez da vida e da natureza para descobrir nelas a fala e os apelos de Deus. Este Segundo Livro de Deus (a Bíblia), assim dizia Santo Agostinho, ajudou o povo a redescobrir e a entender melhor o Primeiro Livro de Deus (a Vida, a Natureza). A Bíblia é o resultado da Pastoral que se fazia naquela época para ajudar as pessoas a descobrir Deus na vida.
        Aqui está o objetivo mais importante de toda a Pastoral que pode ser resumido da seguinte maneira: com a ajuda e a orientação da Bíblia devemos também nós escrever a nossa Bíblia, isto é, devemos imitar o povo de Deus e, como eles, tentar ler a nossa realidade, descobrir nela os apelos de Deus, expressá-los e proclamá-los dentro dos critérios da nossa cultura.
  2.5 Mística: só trabalha com a Palavra quem se deixa trabalhar pela Palavra
        Resta uma pergunta: qual foi a mística que sustentava a Jesus na encarnação e no anúncio da palavra e o mantinha na fidelidade, a vida inteira, até a morte, e morte de cruz? O segredo escondido da vida de Jesus era o Pai. Jesus vivia unido a Ele através da oração. É na oração que ele assimilava e encarnava a Palavra em sua vida. A palavra que Jesus anunciava era a experiência que ele mesmo tinha da palavra. Ele dizia: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado!” (Mt 11, 25-26).
        Jesus experimentava a presença de Deus em sua inserção no meio do povo.
        Mística...
        Os primeiros cristãos conservaram uma imagem de Jesus orante que vivia em contato permanente com o Pai (Jo 4, 34). Em vários momentos ele aparece rezando, sobretudo nos momentos decisivos de sua vida.
        Mística...
        Jesus rezava nos momentos importantes da sua vida: na crise e na tentação, na escolha dos apóstolos e na decisão de ir para Jerusalém, na agonia do Horto e na hora de morrer na cruz, na alegria e na tristeza. Sua vida era uma oração permanente: "Eu a cada momento faço o que Pai me mostra para fazer!" (Jo 5, 19.30). A ele se aplica o que diz o Salmo: "Eu (sou) oração!" (Sl 109, 4).
Elipse: 17

   CONCLUSÕES PRÁTICAS PARA A ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORAL

        Meditação constante da Palavra de Deus

        Ambiente comunitário

        Ambiente orante e celebrativo

        Usar a Bíblia para interpretar a vida

        Fomentar a admiração diante da natureza

        Obediência ao sopro do Espírito

        Evitar o fundamentalismo pela leitura crítica do texto

        Itinerância e novas formas de pastoral

        A prática da partilha

        Pastoral de inclusão

                                     


ABP: ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORAL – O QUE É? ... COMO OCORRE?...

        Em todos os continentes quando se faz referência à presença da Palavra de Deus na vida e missão da Igreja, se começa a falar de Animação Bíblica da Pastoral (ABP).
        Trata-se de uma nova linguagem e uma nova compreensão.
 
 ANTES DO VATICANO II
        O trabalho evangelizador com a Sagrada Escritura era entendido como um Movimento Bíblico: finalidade era distribuir bíblias ao povo e dar a conhecer o livro Bíblia, pois era escasso o conhecimento dos católicos sobre a Bíblia.
Com o Concílio Vaticano II
        O trabalho com a Sagrada Escritura começa a ser entendido       como aquele serviço da Igreja, realizado ao estilo das outras pastorais comunitárias, paroquiais, diocesanas: uma “pastoral bíblica”. Diferentemente do “movimento bíblico”, ela se encarregava, sobretudo, da formação bíblica mediante cursos, retiros, grupos e círculos bíblicos.
Como entender a Animação Bíblica da Pastoral?
        Em “nossa casa” que é a Igreja Católica, o discípulo missionário encontra tudo aquilo que alimenta sua vinculação íntima com Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida.
        Não qualquer caminho, qualquer verdade e qualquer vida. Mas sim, o Caminho certo, a Verdade segura e a Vida plena (cf. DAp 246).
        O que primeiramente a Igreja oferece aos seus membros é a proclamação da Palavra de Deus e a possibilidade de encontrar  Jesus Cristo na Sagrada Escritura, lida na Igreja e no contexto da vida.
        A Sagrada Escritura cumpre esse seu papel de efetiva mediação quando é lida como Palavra de Deus vivida [experiência de Deus do Povo de Deus], falada [tradição oral do Povo de Deus] e escrita [tradição escrita do Povo de Deus].
        É indispensável “propor aos fiéis a Palavra de Deus como dom do Pai para o encontro com Jesus Cristo vivo, caminho de ‘autêntica conversão e de renovada comunhão e solidariedade’” (Ecclesia in America 12; cf. DAp 248).

URGÊNCIAS NA AÇÃO EVANGELIZADORA

 3.1. Igreja: em estado permanente de missão
3.2.  Igreja: casa da iniciação à vida cristã
3.3.  Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral
3.4.  Igreja: comunidade de comunidades
3.5.  Igreja: a serviço da vida plena para todos

        Iniciação à Vida Crista
        Cada tempo e cada lugar têm um modo característico para apresentar Jesus Cristo e suscitar nos corações o seguimento apaixonado não a algo, mas à sua PESSOA.
        A adesão a Jesus Cristo implica anúncio, apresentação, proclamação. Em outras épocas, a apresentação de Jesus Cristo se dava através de um mundo que se concebia cristão. Família, escola e sociedade ajudavam a se inserir na cultura, apresentavam também a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo (n.38). E hoje????
        Iniciação à Vida Crista
        O estado permanente de missão só é possível a partir de uma efetiva iniciação cristã (n.39).
        A conferência de Aparecida, além de elevar a iniciação à vida cristã à categoria de urgência, lembra que ela deve acontecer não apenas uma única vez na vida de cada pessoa... Comunidades precisam ser diuturnamente mistagógicas.. (n. 41)

IGREJA: LUGAR DE ANIMAÇÃO BÍBLICA DA VIDA E DA PASTORAL
ü  Importante que o povo de Deus seja educado  e formado claramente para se abeirar das Sagradas Escrituras na sua relação com a Tradição viva da Igreja, reconhecendo nelas a própria Palavra de Deus.
ü  Pois é a Tradição viva e dinâmica da Igreja que faz compreender adequadamente a SE como PD.

IGREJA: LUGAR DE ANIMAÇÃO BÍBLICA DA VIDA E DA PASTORAL
v Convite do atual momento da ação evangelizadora: que o discípulo missionário redescubra o contato pessoal ecomunitário com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo. (n.45)
v “Ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo” (São Jerônimo)

ABP nas DGAE  2011-2015
        Ao se curvar diante da Palavra, o discípulo missionário sabe que não o faz isoladamente...
        abp nas dgae 2011-2015
ü  O encontro com a Palavra viva exige a experiência de fé.
ü  Todos os serviços eclesiais precisam estar fundamentados na Palavra de Deus e serem por ela iluminados.

ENCONTROS QUE TRANSFORMAM
        Para mostrar as consequências do conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus, o DAp nos recorda alguns encontros com o Senhor: o de “Nicodemos e sua ânsia de vida eterna ( cf. Jo 3,1-21), a da Samaritana e seu desejo de culto verdadeiro (cf. Jo 4,1-42), o do cego de nascimento e seu desejo de luz interior (cf. Jo 9), o do Zaqueu e sua vontade de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)...”, e assim tantos outros (DAp 249).
        Trata-se de homens e mulheres que chegaram ao encontro com Jesus Cristo, com sua história íntima, desejosos de algo novo, e que alcançaram a luz e foram recriados “porque se abriram à experiência da misericórdia do Pai que se oferece por sua Palavra de Verdade e Vida.
        Não abriram o coração para algo do Messias, mas ao próprio Messias” (DAp 249).
        Este encontro com o Senhor é o que inicia um processo de discipulado, de vida em comunhão com os irmãos, de testemunho do Reino e de transformação da sociedade (cf. DAp 249).
        Para eles, a Palavra de Deus não se reduziu somente a noções, mas iluminou e alimentou sua vida em Cristo (cf. DAp 323).
        O Documento de Aparecida nos recorda ainda que “a todos nos toca recomeçar a partir de Cristo reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DAp 12).
        Pela centralidade insubstituível do encontro com Jesus Cristo, aqueles que participam da ação evangelizadora da Igreja, seja como agentes ou como interlocutores, necessitam escutar e encarnar a Palavra de Deus que a Sagrada Escritura contém.
        Só dessa forma amadurece a experiência religiosa de cada fiel na Igreja (cf. DAp nº 226,a).  
        uma metáfora...
         A Palavra de Deus não pode ser um ramo a mais do conjunto da árvore que é a Igreja, mas a seiva que corre por seu tronco e nutre todos os ramos.

OUTRA metáfora:
        Os Bispos em Aparecida, por sua vez, aludem à metáfora do farol para falar da Sagrada Escritura que ilumina e guia o caminho e a atuação da Igreja de Cristo (cf. DAp 180).
        Onde há evangelização aí deve estar a seiva e a luz da Palavra de Deus que, com sua multiforme presença, anima o anúncio e a realização do Reino de Deus.
        A Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura deve suscitar, formar e acompanhar a vocação e a missão do discípulo missionário de Jesus Cristo e dar conteúdo às ações organizadas da Igreja em sua missão de ir e  fazer “discípulos a todos os povos” (Mt 28,19).
         Desta forma, além de ser “a alma da teologia” (DV 24), a Palavra de Deus está chamada a converter-se em “alma da ação evangelizadora da Igreja” (DP 372; DAp 248).

A FINALIDADE DA ABP: Para que serve a Animação Bíblica da Pastoral?
        À LUZ DE APARECIDA (248)
        Os discípulos de Jesus desejam alimentar-se com o Pão da Palavra: querem chegar à interpretação adequada dos textos bíblicos, empregá-los como mediação de diálogo com Jesus Cristo, e a que sejam alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus a todos.
        À LUZ DE APARECIDA  (248) E DO doc. 97
        Podemos compreender a Animação Bíblica da Pastoral sob três eixos ou com três funções:
1- Caminho de conhecimento e interpretação da Palavra (Eixo FORMAÇÃO);
2- Caminho de comunhão com Jesus e oração com a Palavra (Eixo ORAÇÃO);
3- Caminho de evangelização inculturada e de proclamação da Palavra (eixo ANÚNCIO).
        Textos iluminadores da abp
1- Diácono Filipe encontrando-se com o eunuco etíope: At 8,26-40;
2- Discípulos de Emaús”: Lc 24,13-35,
3- Lídia de Filipos: At, 16,11-15,
4- Maria de Betânia: Lc 10,38-42)
Descobrir  as funções básicas da Animação Bíblica da Pastoral.
        Primeira função
caminho de Conhecimento e Interpretação da Palavra
       
“Prepara-te/ Levanta-te e vai em direção do sul…
Filipe levantou-se  e foi”
        Primeiro momento, o Espírito conduz Filipe até o etíope, para explicar-lhe o sentido da passagem do profeta Isaías que estava lendo, sem poder compreender.
        Segundo momento, após a explicação do sentido da Palavra por Filipe, o etíope pede para ser batizado.
        Terceiro momento, após o batismo, o eunuco prossegue sua viagem, “cheio de alegria”, característica marcante daquele que se deixou encontrar pela Palavra.
        Então... O Espírito disse Filipe:
 aproxima-te... E acompanha-o
        Aproximar-se é dispor-se a conhecer e sentir de perto a necessidade do outro: suas angústias, decepções, alegrias, esperanças, sonhos.
        Tu compreendes o que estás lendo?...
        Como poderia, se ninguém me orienta? ..
   Peço que me expliques de quem o profeta está dizendo isso... Filipe começou a falar  e, partindo dessa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus.
        Como a Sagrada Escritura é obra literária, chega-se à Palavra de Deus pela “linguagem” dos autores que a colocaram por escrito (em hebraico, aramaico e grego).
         Para conhecer adequadamente a Palavra de Deus se requer a interpretação da mediação de comunicação dos autores humanos (a linguagem) segundo seus contextos literários, históricos, culturais e religiosos e então conhecer a Palavra, descobrindo a revelação de Deus.
        Portanto, a primeira função da Animação Bíblica da Pastoral é conhecer e interpretar a Palavra, isto é, ajudar a compreender e assimilar a compreensão dos sentidos genuínos dos textos bíblicos.  Interpretar não apenas como mero conhecimento intelectual e instrumental, mas que proporciona um conhecimento do sentido pleno da Palavra.
        A leitura, a escuta e a interpretação da Palavra, realizada no seio da comunidade eclesial, pode e deve se tornar um caminho de encontro com o Senhor para um autêntico processo de compreensão do real sentido da existência.
        O contato com a Palavra e a interpretação de seu significado não somente nos levam ao conhecimento do que o texto sagrado quer revelar, mas ao conhecimento de nós mesmos, de nossa existência e da realidade em que vivemos.
        Diante de uma sociedade em que se valorizam as experiências subjetivas, muitas vezes voltadas a projetos pessoais, egocêntricos e individualistas, é preciso criar ambientes que proporcionem uma experiência autêntica, definitiva e marcante de encontro com Aquele que dá sentido real à existência.
        Esses ambientes somente poderão ser criados por aqueles que possuem uma familiaridade com o Senhor e com sua Palavra que, sensíveis aos anseios humanos pós-modernos, sabem que a resposta para suas aspirações mais profundas é Jesus Cristo.
        Além dos ambientes propícios ao encontro com a Palavra, é preciso ainda atenção ao estudo bíblico.
        “A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”
        Conhecimento e Interpretação
        O primeiro eixo da compreensão da pastoral à luz da animação bíblica é o de proporcionar que, na catequese e nos diversos ambientes eclesiais, a leitura, a escuta e a interpretação das Escrituras alcancem seu devido lugar. Aí, descobriremos quem somos e qual sentido devemos dar à nossa vida.
             Escutar...
        Sem o silêncio não é possível a verdadeira escuta, entendida, aqui, não somente como acolhida da Palavra, mas, sobretudo, enquanto comunhão com Aquele que é a Palavra. “Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre, no silêncio, a possibilidade de falar com Deus e de Deus”. (BENTO XVI, “Silêncio e palavra: caminho de evangelização”, Mensagem para o 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2012). 
        Hoje...
        Como Filipe, queremos ter uma escuta atenta às perguntas e questionamentos, explícitos ou não, dos homens e mulheres de nosso tempo: compreendem sempre o sentido das suas vidas, dos acontecimentos, das buscas, dos encontros e desencontros…?
        Hoje...
        Filipe parte do texto, mas não fica só nele.  A partir do texto revela a presença de Jesus Cristo, Palavra eterna e definitiva do Pai.
        Também nós cremos que a Escritura é insubstituível para a interpretação da realidade de nossos povos; por isso, é importante que todas as famílias tenham acesso a uma boa versão da Bíblia.
        Porém, não podemos ficar só na letra: o Espírito do Ressuscitado converte o texto bíblico em mediação privilegiada do encontro com Jesus Cristo. Não somos uma religião do livro: Cristo é a Palavra que antecede e excede ao texto. Por isso a ABP/ Verbum Domini propõe uma leitura cristológica que tenha ao Senhor Jesus como centro de toda a Escritura, o Espírito como Mestre e Intérprete, e o Pai como fonte de Vida para todos os filhos de Deus.
        Segunda função
caminho  de Comunhão  e Oração
        Aqui temos água... Que impede que eu seja Batizado? ...Felipe o batizou
        É a oração o lugar de contato íntimo e de comunhão com Ele. “O contato interpretativo, orante e vivencial com a Palavra de Deus não forma, necessariamente, doutores. Forma santos”.
        Cuidar para que nas várias atividades pastorais haja especial lugar para a oração com a Palavra de Deus. Que ela tenha lugar de destaque não somente espacial, mas, sobretudo, espiritual, no sentido de que nossos encontros alcancem o silêncio necessário para que ela seja escutada!
        Particular atenção deve receber a Liturgia, “âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida: fala hoje a seu povo que escuta e responde”.
        Na celebração litúrgica, o Senhor reúne em torno a si a assembleia de seu povo, eleita e convocada, para santificá-la pela atualização do Mistério Pascal de sua paixão, morte, ressurreição e gloriosa ascensão.
        É preciso recordar o primado da Palavra no momento litúrgico em que a assembleia se põe à escuta de Cristo. Ele é “o centro e a plenitude de toda a Escritura e de toda a celebração (...); por isso deverão beber de sua fonte todos os que buscam a salvação e a vida”.
        Não se pode falar de primado da Palavra, sem falar da importância do silêncio e da escuta. Quando em nossas celebrações falta o silêncio, falta também a comunhão relacional que acolhe, pela escuta, não somente o “dizer” do Outro, mas também o seu “ser”.
        Se a palavra representa o dar-se, a escuta silenciosa representa o acolher. 
        Quando nossas liturgias são excessivamente marcadas pela fala, explicações e comentários, não somos tocados pela linguagem do Mistério, ao qual o silêncio nos conduz.
        Como nos recorda a experiência do profeta Elias, quando, ao ouvir o murmúrio de uma leve brisa, cobriu o rosto com o manto (cf. 1Re 12,19). Não se trata simplesmente da proibição de ver a Deus, o que é verdade na concepção bíblica expressa em Ex 33,20: “não poderás ver minha face, porque ninguém pode ver-me e permanecer vivo”.
        Trata-se sim de uma concepção bíblica fundamental e “quase” esquecida em muitas de nossas realidades eclesiais. Para o mundo bíblico, a relação pessoal com Deus, nesta vida, haverá de se dar pela escuta de sua Palavra.
        Precisamos  recuperar a “espiritualidade da escuta”, particularmente, na celebração litúrgica.
        A escuta é a dimensão, por excelência, da espiritualidade bíblica. Na Escritura, escuta-se não simplesmente com os ouvidos, mas, sobretudo, com o coração: o coração necessita do silêncio para acolher somente o que merece ser conservado: a semente que encontrou nele a terra propícia (cf. Mt 13,19).
        Na espiritualidade bíblica, há uma insistência sobre a escuta, como nos recorda o núcleo da fé do Povo de Deus: “Escuta, Israel” (Dt 6,4)
        A escuta sobrepõe a receptividade à atividade e, portanto, a prioridade da Palavra sobre a imagem  e, logo, da audição sobre a visão.
        É dever, em nossas celebrações, devolver à Palavra a primazia que a PALAVRA  merece.
        homilia:  momento singular da primazia da Palavra, na celebração litúrgica.
        Sua função: atualizar a mensagem da Sagrada Escritura,  “favorecendo uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fiéis”, a fim de que, ao saírem da celebração, eles vivam a Palavra e se tornem anunciadores do que escutaram e celebraram.
        O centro de toda homilia: Jesus Cristo, pois é a Ele que buscamos na celebração litúrgica, para nos alimentarmos de sua Palavra e de seu Corpo e Sangue. (VD 59).
        Além dos momentos litúrgicos, a Verbum Domini deu grande ênfase à prática pessoal e comunitária da leitura orante da Palavra.
        Seja valorizado sempre mais o exercício de leitura da Palavra que, bem praticado, conduz “ao encontro com Jesus-Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus-Messias, à comunhão com Jesus-Filho de Deus e ao testemunho de Jesus-Senhor do universo”. Variam os métodos. O mais conhecido é o da Lectio Divina ...
        A Palavra de Deus é fonte de espiritualidade e oração.
        Importância à Lectio Divina e a todas as formas de leitura orante, para todos os membros da Igreja e para inspirar a conversão pastoral na Igreja.
        A palavra de Filipe iniciou o etíope na fé em Jesus Cristo; o batismo o introduziu na  comunidade dos crentes, comunidade da Palavra feita carne (Jn 1,14).
        Pela Palavra e sacramentos, a mesa da Palavra e da Eucaristia, Jesus Cristo alimenta aos seus.
        A Palavra de Deus anima toda a vida da Igreja, não só nos seus afazeres, mas  sobretudo no seu ser. Neste sentido, a ABP não pode ser uma pastoral justaposta às outras; seu serviço é de animação de todas as expressões da vida e missão da Igreja para formar discípulos missionários.
        Portanto, a segunda função da Animação Bíblica da Pastoral é ajudar a perceber e vivenciar a revelação do mistério de Deus e do homem (Palavra de Deus), presente na Sagrada Escritura, mediante a comunhão e o diálogo permanente com o próprio Jesus Cristo, a revelação divina em plenitude.
        Por isso tudo, a Animação Bíblica da Pastoral é Caminho de Comunhão e Oração com a Palavra, isto é, de comunhão e oração contínua com o Senhor, graças à escuta atenta de sua Palavra, como Maria de Betânia aos pés de Jesus (cf. Lc 10,39), e sua vivência atual e encarnada.
        Terceira função
caminho  de Evangelização e Proclamação da palavra
       
“O etíope....prosseguiu sua viagem cheio de alegria
             
        Como se pode observar pela reação do etíope, sua própria vida se transforma em testemunho e mensagem. Após o encontro com o Senhor, ele prossegue “cheio de alegria”. “O anúncio da Palavra cria comunhão e gera a alegria. Trata-se de uma alegria profunda que brota do próprio coração da vida trinitária e nos é comunicada no Filho. Trata-se da alegria como dom inefável que o mundo não pode dar. Podem-se organizar festas, mas não a alegria.
        A alegria é fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22), que nos permite entrar na Palavra e fazer com que a Palavra divina entre em nós e frutifique para a vida eterna”.
        Quando a Palavra de Deus entra na vida das pessoas, iniciam-se processos de conversão pessoal, comunitária e pastoral, que as levam a serem testemunhas corajosas que anunciam o que o Senhor realizou em suas vidas (cf. Mc 5,19 => Jesus disse ao possesso de Gerasa depois de libertado: Vai para casa, para junto dos teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em, sua misericórdia, fez por ti”.).
        As atuais DGAE recordam: “Bombardeado a todo momento por questões que lhe desafiam a fé, a ética e a esperança, o discípulo missionário precisa estar de tal modo familiarizado com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra que, mesmo abalado pelas pressões, continue solidamente firmado em Cristo Jesus e, por seu testemunho, converta os corações que o questionam  (cf. At 16,16-34)”.
        O Caminho de Evangelização e Proclamação da Palavra nos impele ao compromisso social e à promoção dos valores autenticamente humanos.
        A relação frequente e comprometida com a Palavra de Deus gera a conversão pessoal, da qual nascerá a conversão pastoral e, consequentemente, o testemunho eloquente ou o “fermento na massa” em vista da transformação da sociedade.
        (Cf. DAp 247-248; VD 90-108).
        ECUMENISMO
        A Palavra de Deus, que criou extraordinárias experiências de unidade entre os ouvintes da primeira hora do cristianismo (cf. At 10,34-48), interpela-nos igualmente a atitudes corajosas e concretas acerca do diálogo ecumênico.
         Se os cristãos se dividiram pela interpretação da Escritura, ao redor dela poderão se reencontrar.
        MISSIONARIEDADE
        Enquanto caminho de evangelização e proclamação da Palavra, a animação bíblica tem um caráter essencialmente missionário. O episcopado latino-americano foi enfático em ressaltar a urgência da conversão pastoral e da missão continental.
        As DGAE destacam que devemos ser uma Igreja em estado permanente de missão.
        A animação bíblica da pastoral está diretamente ligada à dimensão eclesial da caridade. A maior caridade que devemos praticar é anunciar a máxima da Palavra de Deus: “Deus é amor”.
        Correspondemos a esse amor, quando nos empenhamos por um mundo de justiça e solidariedade. Isto comporta uma caridade intra-eclesial entre pastorais, movimentos, novas comunidades e comunidades eclesiais de base, e uma caridade extra-eclesial, no coração do mundo. Cf. VD 99-103.
        O Dap (402)apontou novos rostos sofredores que a caridade eclesial deve acolher e abraçar dentro da opção preferencial pelos pobres.
        Já a Verbum Domini, aponta para os seguintes compromissos no mundo: servir Jesus nos irmãos mais pequeninos (cf. Mt 25,40), compromisso com a justiça, reconciliação e paz entre os povos, caridade ativa, os jovens, os migrantes, os doentes, os pobres e a defesa da criação.
        Na verdade, é a caridade que fundamenta o horizonte profético da Palavra.
        Um cristianismo sem profecia tende a esvaziar a Palavra. Mas “onde as palavras humanas se tornam impotentes, porque prevalece o trágico clamor da violência e das armas, a força profética da Palavra de Deus não esmorece e repete-nos que a paz é possível e que devemos nós mesmos ser instrumentos de reconciliação e de paz”.
        O encontro com Jesus Cristo não termina na Bíblia nem em si mesmo, mas nos conduz à vida cotidiana com novas atitudes; a alegria do etíope é expressão de uma pessoa que, ao encontrar-se com Jesus na Igreja, encontrou o sentido da sua vida.
        A  ABP propõe um itinerário que, partindo de uma aproximação à vida concreta, se deixe iluminar pela Palavra para retornar, com novas motivações, à vida, à  comunidade, ao povo simples, faminto da Palavra, para transformar, com eles, este mundo segundo os valores do Reino.
        Este caminho alegre devemos percorrer com nossos irmãos e irmãs das outras Igrejas e Comunidades Eclesiais com quem compartilhamos o amor pela Palavra.
       
Filipe, em todas as cidades por donde passava, anunciava a Boa Notícia!
        Como Filipe, somos membros de uma Igreja que vai se redescobrindo como anunciadora do Evangelho. “Ai de mim se não evangelizar”! (1Cor 9,16).
         A Escritura é mediação de salvação ao revelar a Jesus Cristo; por isso a ABP é Escola de Evangelização Inculturada, anunciando o Cristo, fonte de Vida plena para todos.
        Num mundo plural e secularizado, muitas vezes fracionado e desumanizado, a ABP deverá aprender a apresentar a Boa Notícia de forma significativa, portadora de unidade e solidariedade, de dignidade e justiça para todos.

        Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher” (DAp 18).
        animação
        ... Que não é movimentação eufórica cuja bandeira seja a Sagrada Escritura....
        ... Mas que animação é a tarefa de injetar vida, alma, energia, força, entusiasmo, vibração em pessoas dedicadas, devotadas a uma tarefa ou missão.
        Que é uma “ação ou efeito de dar alma ou vida”...
        Portanto: A ABP com estas três funções de ser Caminho de Conhecimento e Interpretação da Palavra, Caminho de Comunhão e Oração com a Palavra e Caminho de Evangelização e Proclamação da Palavra, satisfaz a permanente necessidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo de nutrir-se com o Pão da Palavra de Deus mediante:
        a) “a interpretação adequada dos textos bíblicos”,
         b) de seu emprego “como mediação de diálogo com Jesus Cristo”;
        c) como “alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus Cristo a todos” (DAp 248; cf. DV 12).

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