Sex, 09 de Novembro de 2012 08:32 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Arcebispo de Belo Horizonte
A sociedade está convocada a refletir
sobre um grave problema: o aumento dos índices de violência. Não basta apenas
proteger-se, com medo dos riscos e prejuízos que a criminalidade provoca.
Reforçar sistemas de segurança e evitar situações perigosas são medidas
importantes. Porém, é fundamental perceber como a solidariedade pode ajudar na
diminuição da violência. Também é indispensável reconhecer como é ilusório e perigoso
o enfrentamento dos crimes armando-se. É preciso seguir o caminho da
solidariedade, uma defesa que precisa ser exercitada e está longe dessa busca
pelas armas.
Fala-se de um grupo civil armado
crescente em nossa sociedade. Dados do Sistema Nacional de Armas, da Polícia
Federal, mostram que
houve aumento de 406% nas expedições de portes em
território mineiro, entre 2008 e 2011. É um equívoco convencer-se que a vitória
sobre a violência será conquistada com a compra de uma arma de fogo para defesa
pessoal. Justificar esta escolha com o argumento de que a polícia não está
preparada e não tem contingente suficiente para proteger o cidadão é um risco.
Se todos os cidadãos ou grande parte da população se armarem, não significa
garantia de paz. Ao contrário, estaremos, na verdade, em tempo de guerra.
O impacto emocional na vida de quem já
foi assaltado, ou com parentes, amigos, alguém próximo que tenha sido
vítima de violência, não pode se converter em desenfreada busca pelo armamento.
Ao contrário, é preciso apoiar o controle rígido do porte de armas. Isso
inclui, obviamente, um trabalho árduo e sistemático para o desarmamento urgente
de bandidos. Nesse caminho, é preciso incluir, prioritariamente, na agenda da
sociedade e na preocupação primeira de cada cidadão, a solidariedade como força
educativa, de combate e de mudança dessa triste realidade. Ao indicar a
solidariedade como remédio para a violência, não se está falando de concessões,
de conivências ou de uma postura passiva. É preciso reagir diante da realidade
que se estabelece. A violência está se tornando uma cultura e isso é
gravíssimo. Ela começa a ser exercida não apenas pelos criminosos, mas também
pelos honestos que optam pelo combate à violência com a violência.
A indignação inevitável que emerge no
coração de vítimas, de parentes e dos cidadãos de boa vontade não pode
obscurecer nossa coragem de apostar numa cultura marcada pela dinâmica da
solidariedade, que tem força para mudanças profundas. Um exemplo concreto e
palpável dessa força está nas muitas comunidades de fé, que desenham na vida de
muitas pessoas um horizonte de espiritualidade à luz da Palavra de Deus.
Assim, ajudam a superar quadros de violência e fazem brotar um sentido novo de
cidadania. Contribuem para fazer crescer o gosto de conviver respeitando o
outro. Por esse caminho é urgente andar e investir. Alguém dirá ser um percurso
demorado. Contudo, é o único com dinâmicas de importância, para combater
e impedir que a violência se torne uma cultura.
Nas realidades em que a violência se
institucionalizou, presencia-se a dificuldade na organização social e o
crescimento da delinquência que dizima, em todas as camadas sociais, o sentido
de valor, a compreensão justa da vida e o gosto pelo respeito ao outro. No
lugar da revolta, embora a indignação seja justificável, é preciso aderir às
práticas solidárias, que têm força revolucionária. Este entendimento deve ser
alcançado, para se evitar prejuízos irreversíveis.
O mapa da violência estampa o retrato
de uma grave epidemia que atinge todos. A sociedade brasileira está numa
posição sofrível e lamentável no ranking internacional sobre taxas de
homicídio. Esses números elevados, mais do que mostrar uma triste realidade,
indicam que os governantes, instituições e cidadãos têm responsabilidades graves
neste período da história. É o momento de todos participarem, para mudar esta
calamidade social que é a violência, contramão de uma cultura da solidariedade.
Dinâmica que encontra força na fé. É indispensável conhecer e buscar mais
o remédio da solidariedade. Assim, será possível mudar esses quadros produzidos
pelos horrores da violência.
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