“Como bons
administradores da multiforme graça de Deus, cada um
coloque à disposição
dos outros o dom que recebeu” (1Pd 4,10).
Coordenar com
Fé
O que significa ter fé? Como viver pela
fé? E como posso coordenar a partir da fé? Estas questões nortearão a nossa
conversa sobre a fé. Teríamos muitos tratados, livros de teologia para nos
fundamentar sobre este assunto, mas preferimos partir da nossa prática de vida
como catequistas coordenadores. Fé está relacionada a crer, está relacionada à
relação religiosa que o ser humano estabelece com Deus, o crer significa, portanto,
confiar, ter confiança. O crer pode também significar estar firme com segurança
e solidez.
O catequista coordenador lidera a
partir da fé, caso contrário, o ministério da coordenação perderia sua
característica fundante: nos tornaríamos meros coordenadores pedagógicos como
qualquer instituição de ensino. A fé nos dá a diferença. O coordenador de fé
tem o seu olhar para além das aparências, consegue ter sensibilidade para ir
além.
A fé é a virtude teologal pela qual
cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou e que a santa Igreja nos
propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, “o homem
entrega-se total e livremente a Deus”. E por isso, o crente procura conhecer e
fazer a vontade de Deus. “O justo viverá pela fé” (Rm 1, 17). A fé viva “atua
pela caridade” (Gl 5, 6).
A fé nos dá a segurança de bem
coordenar, motivar a animar o grupo de catequistas, pois pela fé podemos nos
lançar no invisível, no não conhecido, na entrega total. Assim a fé me sustenta
como coordenador do grupo de catequistas. Mas é preciso compreender também que
a fé é dom que recebemos de Deus, dom que recebemos na gratuidade, por isso
precisamos nos esforçar para que a nossa fé seja de práticas, pois “sem obras,
a fé está morta” (Tg 2, 26): privada da esperança e do amor, a fé não une
plenamente o catequista coordenador a Cristo, nem faz dele um membro vivo do
seu corpo.
O discípulo de Cristo, não
somente deve guardar a fé e viver dela, como ainda professá-la, dar firme
testemunho dela e propagá-la: “Todos devem estar dispostos a confessar Cristo
diante dos homens e a segui-Lo no caminho da cruz, no meio das perseguições que
nunca faltam à Igreja”. O serviço e testemunho da fé são requeridos para a
salvação: “A todo aquele que me tiver reconhecido diante dos homens, também Eu
o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus. Mas àquele que me tiver
negado diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos
céus” (Mt 10, 32-33).
Você, catequista coordenador que anima
o grupo de catequista, deve dedicar tempo para rezar por cada catequista que
assume o ministério catequético na sua comunidade, este é um jeito de
você buscar perceber em cada um a presença de Cristo.
Nos Evangelhos vemos a força que as
pessoas que têm fé conquistam: “Tua fé te curou” Mt 9,22. Mesmo se consideramos
nossa fé ainda pequena seremos capazes de coordenar com grande força: “Se
tivésseis fé pequenina como um grão de mostarda, diríeis a este monte: Sai daí
para lá; e ele iria. Nada vos será impossível” Mt 17,20. Jesus não está
ensinando ninguém a fazer mágica diante das situações que a vida nos coloca.
Menos ainda, quando nos colocamos como liderança, pois sabemos que os problemas
aumentam, muitos nos procuram e só a fé nos ajuda a olhar além do monte de problemas,
a acreditar que tudo é possível.
Quando você olha para o grupo de
catequistas que coordena, o que significa cada um deles para você?
Consegue crer no que há de bom neles? Ou é muito pessimista e vê apenas
as coisas negativas?
Coordenar com Esperança
Tem uma canção do Pe. Zezinho em um trecho
que diz assim: “Esperar contra toda esperança caminhar como quem tem
certeza...”. A esperança é a certeza do que ainda está por acontecer, só
conquista aquela pessoa que se coloca a caminho, que ainda não tem tudo o que
deseja. O ser humano oscila entre o já do presente e o “ainda não”. O
catequista coordenador tem que ser uma pessoa preenchida de esperança, tem que
ser uma pessoa aberta ás expectativas do futuro, tanto positivos como
negativos. Como acreditamos na esperança cristã sabemos que Deus guarda para
nós sempre o melhor do que o passado e o presente.
A virtude da esperança corresponde ao
desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as
esperanças que inspiram as atividades dos homens, purifica-as e ordena-as para
o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o
coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá
preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade.
O catequista coordenador movido pela
esperança se lança no que vem. Aquele que vive na esperança possui saúde mental
e equilíbrio psicológico, vive alegre e vivaz. A esperança faz a pessoa se
erguer, já a falta de esperança deprime, perde o horizonte, sem esperança
ninguém agüentaria viver.
A esperança cristã manifesta-se, desde
o princípio da pregação de Jesus, no anúncio das bem-aventuranças. As
bem-aventuranças elevam a nossa esperança para o céu, como nova terra prometida
e traçam-lhe o caminho através das provações que aguardam os discípulos de
Jesus. Mas, pelos méritos do mesmo Jesus Cristo e da sua paixão, Deus
guarda-nos na “esperança que não engana” (Rm 5, 5). A esperança é “a âncora da
alma, inabalável e segura” que penetra [...] “onde entrou Jesus como nosso
precursor” (Heb 6, 19-20). É também uma arma que nos protege no combate da
salvação: “Revistamo-nos com a couraça da fé e da caridade, com o capacete da
esperança da salvação” (1 Ts 5, 8). Proporciona-nos alegria, mesmo no meio da
provação: “alegres na esperança, pacientes na tribulação” (Rm 12, 12).
Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo
de tudo o que a esperança nos faz desejar.
Por isso ter esperança não significa
esperar, mas esperançar, ir a luta, não desanimar jamais e enquanto tiver forças,
persistir, insistir e investir. No poeta Fernando Pessoa encontramos: “Alague o
seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas" -
Como catequista coordenador, como lida
com as decepções? Você já desanimou algumas vezes? Você continua trabalhando,
tentando motivar o grupo de catequistas para ninguém perceber que você perdeu a
esperança?
Coordenar com
Caridade
O papa Bento XVI tem insistido muito
sobre este tema, a caridade, o amor, o ágape. Porque será que o santo padre tem
insistido neste tema em suas encíclicas, catequeses e homilias? Olhando para a
história do povo de Deus percebemos que os profetas sempre insistiam em
determinados assuntos quando este estava faltando. Hoje quando se fala de amor,
as pessoas se espantam e colocar o amor em situações erotizadas. O que nos
identifica como cristão é nosso jeito de ser e de amar. A caridade é a virtude
teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao
próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
Jesus faz da caridade o mandamento novo
(75). Amando os seus “até ao fim” (Jo 13, 1), manifesta o amor do Pai, que Ele
próprio recebe. E os discípulos, amando-se uns aos outros, imitam o amor de
Jesus, amor que eles recebem também em si. É por isso que Jesus diz: “Assim
como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9). E
ainda: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos
amei” (Jo 15, 12).
Catequista coordenador que não ama não
pode nem ser catequista, pois é o amor que nos humaniza em nossa relação com o
outro, com o grupo de catequista ao qual sou chamado a amar e colaborar, amar
significa acima de tudo colocar o outro como prioridade em minha vida. O
catequista coordenador precisa cultivar em seu grupo de catequistas o amor pelo
outro, por causa daquilo que ele é, cada catequista traz uma contribuição rica
para o grupo, por isso preciso amar a cada por ser quem é. Esse é o amor de
amizade, os catequistas formam-se então ao redor de um clima agradável,
amigável e neste clima cada um oferece aquilo que pode para ajudar o outro.
“Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no
meu amor” (Jo 15, 9-10). Este é convite para bem conviver, permanecer no amor e
ao mesmo tempo um desafio, pois muitas vezes gostaríamos que o outro fosse do
que jeito que desejamos e queremos, sabemos que este é um caminho que não dará
certo, pois preciso amar, por aquilo que o outro é.
Sem a caridade, diz São Paulo, “nada
sou”. E tudo o que for privilégio, serviço, ou mesmo virtude..., se não tiver
caridade “de nada me aproveita”. A caridade é superior a todas as virtudes. É a
primeira das virtudes teologais: “Agora permanecem estas três coisas: a fé, a
esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade” (1 Cor 13, 13).
Acreditamos que o amor é a condição
necessária, essencial, fundamental para que o catequista coordenador bem lidere
no grupo de catequistas, que deve se mostrar no respeito pela pessoa do
catequista, na estima pela sua dignidade. Quando um coordenador não irradia
bondade, jamais poderá conquistar seus catequistas para os objetivos da
catequese evangelizadora. Isto não significa que devo amar para que os
catequistas me obedeçam, se o coordenador fizer isto, sairá perdendo, pois o
amor é gratuito, não tem segundas intenções, consiste em tratar bem os
catequistas porque os estimo como são. Amo a pessoa do jeito que ela é.
Como catequista coordenador, você cria
um clima amigável em seu grupo de catequistas? É possível amar os catequistas
que nem sempre parecem ser simpáticos com você?
Pe. Eduardo Calandro
Pe. Jordélio Siles Ledo, css
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