Qui, 08 de Novembro de 2012 15:33 por: cnbb
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Estamos vivenciando com toda a Igreja a
celebração do Ano da Fé convocado pelo Santo Padre Bento XVI, cuja vivência se
estenderá até o mês de novembro de 2013. O objetivo da convocação de todo um
ano de celebrações dedicado a esse tema tem por finalidade inserir a temática da
Fé numa perspectiva de redescoberta do valor que ela possui, para assim
contextualizar a importância da comemoração dos dois grandes acontecimentos
celebrados pela Igreja nos últimos anos: o 50º aniversário da abertura do
Concílio Vaticano II (1962-1965) e o 20º aniversário da promulgação do
Catecismo da Igreja Católica.
O Concílio Vaticano II, como sabemos,
foi uma sábia e necessária contextualização da Igreja em sua missão de
“anunciar a Boa-Nova a todas as nações” (cf. Mc 16,15). Tratou-se de um
aggiornamento, no dizer do Beato João XXIII, que promoveu na Igreja uma atualização
de seu papel na sociedade, renovando sua pastoral no intuito de realizar melhor
sua missão profética no mundo. O Catecismo da Igreja Católica, por sua vez,
seguindo os passos do Concílio no tocante à explicitação clara e objetiva do
conteúdo do Depósito da Fé, procurou também expor a perene Doutrina Católica,
atualizando a linguagem por meio da qual ela é exposta e enfatizando sua
essência, bem como iluminando e transmitindo o conteúdo da Fé Cristã frente às
questões da atualidade. Deste modo, tanto o Concílio Vaticano II quanto o
Catecismo da Igreja Católica tiveram um primordial objetivo: sublinhar a
essência da Fé Cristã para melhor testemunhá-la na sociedade contemporânea. O
anúncio da salvação em Cristo constitui a essência da Igreja e é por meio dele
que ela realiza sua missão de santificar a humanidade.
Será muito importante que aprofundemos
o conhecimento de nossa fé tomando em nossas mãos o youcat, versão jovem
do catecismo. Tanto poderia ser estudado na sequência em que foi impresso como
através dos temas que as (arqui)dioceses sugerem para cada mês. A juventude é
chamada a dar as razões de sua fé. Porém essa fé deve ser vivida intensamente,
e com alegria.
Atualmente, percebemos com muita
clareza que a nossa sociedade encontra-se gravemente transformada; vivemos em
meio a uma mudança radical de conduta, que é fruto da inversão dos valores
fundamentais do ser humano e da indiferença à religiosidade, diante da qual a
Igreja é novamente chamada a manifestar a resposta cristã diante dos desafios
que parecem estabelecer um “divórcio” entre a Fé e a sociedade moderna.
Entretanto, ainda que em meio a este
ambiente de transformações, “não podemos esquecer que, no nosso contexto
cultural, há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o dom da
Fé, todavia vivem uma busca do sentido último e da verdade definitiva acerca da
sua existência e do mundo” (Porta Fidei, n. 10). Dentre estas pessoas, sem
dúvida a juventude vive intensamente essa busca. Bombardeada pelas ideologias
que a sociedade contemporânea difunde e nas quais fundamenta seus valores, a
juventude vive essa busca da verdade e do sentido último acerca de si mesmo e
do mundo, e em cada jovem ressoa a necessidade de conhecer a si mesmo e de
transcender à descoberta do absoluto. Apesar das revoluções e transformações
das últimas décadas, tais como a globalização, os progressos sempre crescentes
dos meios de comunicação, a liberdade de expressão, e tantas outras mudanças no
contexto cultural, permanece sempre viva na juventude a busca pelo que está
além de tudo isso, pelo que a preenche de maneira completa, por aquilo que lhe
permite vivenciar o absoluto. Aliás, essa busca é de todo o ser humano.
Nesta busca da juventude imersa numa
sociedade regida por valores tão contraditórios, aos quais ela termina às vezes
por aderir levada pela corrente do relativismo exacerbado, abre-se como outrora
aos gentios a porta da Fé (cf. At 14,27), que introduz na vida de comunhão com
Deus e permite a entrada na sua Igreja (cf. Porta Fidei, n.1). Uma vez adentrando
por essa porta da fé, o jovem descobre a maravilha deste dom sobrenatural que
ela é e inicia a vivência dos frutos de renovação interior que o mesmo dom da
fé origina.
O primeiro fruto, certamente, é a
resposta para as indagações sobre o sentido último e sobre a verdade definitiva
acerca da sua existência e do mundo. Em Deus, que é a Verdade, contemplamos a
verdade acerca de todas as coisas, pois Ele nos revela a verdade sobre nós
mesmos em Cristo Jesus, dando-nos a compreender aquilo que não nos é acessível
apenas pela razão. Esta descoberta, em se tratando da juventude, promove um
resultado magnífico: o jovem, uma vez pleno do entusiasmo que a própria
juventude lhe assegura, ao descobrir a verdade que é Deus, revelada plenamente
em Cristo, não a toma apenas para si mesmo, mas vê-se impelido a transmiti-la
aos demais jovens e assim a todos que vivem à sua volta. Essa é a experiência
dos primeiros cristãos, que uma vez abraçando a Fé, descobriram que Deus é a
verdade de todas as coisas e que n’Ele está a resposta para todas as nossas
indagações.
Essa experiência de Deus, que leva o
jovem a irradiá-la aos demais, é precisamente o segundo fruto que podemos
colher ao adentrar a porta da Fé. Ela constitui a finalidade do Ano da Fé, ou
seja, o testemunho. Mais do que sempre, testemunhar digna e verdadeiramente a
Fé Cristã é uma necessidade dos últimos tempos, pois a nossa juventude tem sede
de inovações, e esta sede também é sentida no âmbito da Fé. Disso surge a
pergunta que certamente ecoa no coração dos pastores da Igreja, que ecoou nesse
Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização que acabamos de celebrar, e que
ecoará durante este Ano da Fé: como tornar a Fé uma experiência atrativa para
aqueles jovens que ainda não puderam adentrar pela porta da Fé e assim conhecer
a Verdade?
O Cristianismo é uma experiência
pessoal com Cristo, que se comunica conosco e nos leva naturalmente a comunicar
esta experiência, ou seja, a testemunhar a maravilha desse encontro pessoal.
Trata-se de transparecer a maravilhosa aventura de crer, de evidenciar, por
meio das várias circunstâncias da vida, que Cristo nada nos tira, antes nos doa
tudo, e que por isso não é preciso temer a experiência com Ele.
Desta maneira, jovens, Cristo chama
cada um de vocês a testemunhá-Lo de modo autêntico, sincero e fiel. Certamente
há quem se pergunte como fazê-lo; muitas, pois, são as formas. Em primeiro
lugar, na vivência do Ano da Fé, a juventude é chamada a resgatar o valor da
família. Atualmente, a vida acadêmica, o engajamento no mercado de trabalho e
as demais circunstâncias da vida de nossa juventude terminam por fazer com que
tempo algum seja dedicado a estar em família, ao diálogo com os familiares. A
família, conforme nos afirmou o Papa Paulo VI, é a “Igreja do Lar”. Dessa
maneira, é preciso que a nossa juventude seja a protagonista de um resgate da
família, pois vivê-la e manifestar assim sua essência e sua importância é um
concreto testemunho cristão.
Não de menor importância é o testemunho
da juventude no meio acadêmico e profissional e, por isso, os jovens são
chamados a manifestar na escola e na universidade que a Fé Cristã não a tolhe,
antes a motiva, pois a investigação acadêmica também é um meio de se chegar à
verdade das coisas, e que a alegria de servir a Cristo e viver em comunhão com
Ele nos leva a descobrir que os caminhos da ciência em busca do conhecimento
têm seu valor, pois são formas de se chegar à Verdade na qual tudo possui razão
de existir. De igual maneira, a honestidade e a dedicação próprias de um bom
profissional também são um testemunho cristão, uma vez que ao modelo de Cristo,
que dignamente desenvolveu uma vida profissional como operário, o cristão é
chamado a construir uma sociedade por meio de uma vida profissional digna e
autêntica.
Na simplicidade desses testemunhos de
autêntica vida cristã, a mensagem de Cristo será evidenciada naturalmente a
todos quantos d’Ele necessitam, e assim, a Fé será irradiada não somente como
uma experiência meramente pessoal e individual, mas como uma ligação entre o
ser humano e Deus, que estabelece uma fraternidade entre todos que por ela se
deixam abraçar, renovando e dando sentido pleno à existência e respondendo às
indagações mais profundas do íntimo de cada homem e de cada mulher. O
protagonismo da juventude nesse testemunho ganha especial relevo à medida que
os jovens são a esperança do amanhã e, por isso, uma vez deixados abraçar pela
experiência do encontro pessoal com Cristo, irradiam a profundidade dessa
experiência, estabelecendo assim uma fraternidade que, centrada no próprio
Cristo, constrói uma sociedade transformada pela ação salvífica do Verbo de
Deus, o próprio Cristo Jesus.
Em suma, neste Ano da Fé, todos somos
chamados a testemunhar de maneira objetiva a Fé Cristã. Todavia, a juventude
torna-se a protagonista deste testemunho à medida que nela estão centradas as
expectativas acerca do amanhã. Por isso, que cada jovem viva intensamente sua
vida cristã e fundamente-a por meio de uma sólida vida espiritual. Deste modo,
é imprescindível que a juventude creia firmemente na Santíssima Eucaristia como
fonte e ápice da vida cristã, e manifeste essa fé por meio da fiel e ativa
participação nas missas dominicais. Que a juventude se reconheça sempre
necessitada da misericórdia de Deus e por isso não hesite em reconhecer e recorrer
ao Sacramento da Confissão sempre que necessário. E que, sobretudo, manifeste
por meio da vida de oração a beleza e a alegria do encontro pessoal com Cristo,
do diálogo entre Deus e nós, seus filhos. Assim, quando celebrarmos os grandes
momentos deste Ano da Fé, dentre os quais a Jornada Mundial da Juventude Rio
2013, a Fé Cristã seja testemunhada tão eficazmente nas grandes proporções
desse evento quanto o deve ser nas circunstâncias do dia-a-dia.
Nesta perspectiva, tenhamos todos a
consciência, sobretudo os jovens, de que somente na amizade com Cristo se abrem
de par em par as portas da vida, somente nesta amizade se abrem realmente as
grandes potencialidades da condição humana, somente nesta amizade
experimentamos o que é belo e o que liberta. Por isso, que a juventude não
tenha medo de Cristo! Ele não tira nada, Ele dá tudo. Quem se doa por Ele,
recebe cem vezes mais.
Que a juventude abra as portas a
Cristo, assuma o protagonismo que o Ano da Fé lhe confia e encontre a vida
verdadeira e a felicidade sem fim!
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