Cidades
históricas do Brasil se transformam em cenários imponentes para a religiosidade
popular
Procissão do Fogaréu em Goiás - CC
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As procissões
religiosas existem desde a antiguidade. Os judeus já tinham as suas na Páscoa e
na Festa dos Tabernáculos, por exemplo, e os primeiros cristãos se reuniam para
levar os corpos dos mártires até o local em que seriam sepultados. Participar
de uma procissão sempre teve um significado de homenagem e de reconhecimento
público: no caso cristão, essas honras são devotadas a Jesus, a Nossa Senhora
ou aos santos.
Procissões
de Semana Santa
Na Semana Santa, além
disso, existe nas procissões o motivo penitencial: os fiéis procuram mostrar
publicamente o seu arrependimento pelos pecados, acompanhando o Cristo que
oferece a vida para nos remir.
Embora exista uma
notável diversidade de estilos nas procissões da Semana Santa, já que cada país
ou região tem tradições próprias que foram sendo incorporadas ao imenso tesouro
cultural cristão, a maioria delas tem semelhanças fundamentais. De forma geral,
toda procissão de Semana Santa começa com uma cruz sendo carregada por um grupo
de penitentes. Seguindo a cruz, caminham os fiéis, organizados, segundo o
lugar, em irmandades e confrarias.
Os
“Passos da Semana Santa” na Espanha
É este o caso das
mundialmente famosas procissões que acontecem há séculos na Espanha, conhecidas
como “Passos da Semana Santa”. Trata-se de uma das celebrações de maior
antiguidade naquele país.
As ruas da maioria das cidades espanholas se
transformam em cenários de devoção, que combinam recolhimento religioso, música
e arte. Entre as imagens sacras que saem às ruas para ser apreciadas por milhões
de fiéis e turistas, há obras de escultores que entraram para a história
mundial das artes plásticas, como Pedro Berruguete, Gil de Siloé e Juan de
Juni. O senador espanhol Alberto Gutiérrez declarou recentemente que as
celebrações da Semana Santa em seu país são “um patrimônio que vem sendo
transmitido de geração em geração”, capaz de criar “laços que vão formando a
memória viva de um povo”. A riqueza artística das procissões da Semana Santa
espanhola é tamanha que elas são reconhecidas como Bem de Interesse Cultural
Nacional e Internacional. Além disso, o senado espanhol aprovou na última
semana a proposta de candidatar as celebrações da Semana Santa no país à lista
dos Patrimônios Culturais Imateriais da Humanidade, elaborada pela Unesco.
O
Fogaréu
Vem da Espanha o
formato tradicional das procissões noturnas iluminadas por tochas e velas que,
desde o período colonial, sobrevive em diversas cidades do Brasil. Já é
nacionalmente famosa é a Semana Santa de Goiás Velho, onde, à meia-noite da
Quinta para a Sexta-Feira Santa, as lâmpadas do centro histórico são apagadas
e, ao som de tambores e à luz de tochas, começa a Procissão do Fogaréu,
simbolizando a prisão de Cristo por cerca de quarenta homens encapuzados que
representam os soldados romanos. Enquanto o coro entoa cantos tradicionais em
latim, cerca de 10 mil pessoas acompanham a procissão, guardando em vários
momentos um silêncio impactante. A também colonial cidade fluminense de Paraty
é outro palco célebre da Procissão do Fogaréu à meia-noite da Quinta-Feira
Santa, com seu centro histórico à beira-mar iluminado apenas pelas tochas, tal
como acontece em Goiás Velho.
Outras
procissões no Brasil
Em Aparecida, onde
toda a Semana Santa é celebrada com intensidade, acontece na Sexta-Feira Santa
a tradicional Via Sacra no Morro do Cruzeiro, que reúne milhares de romeiros e
peregrinos presentes no Santuário Nacional para o Tríduo Sacro. Também no Estado
de São Paulo, Santana de Parnaíba vem consolidando como tradição cada vez mais
conhecida no restante do país a encenação da Paixão de Cristo na Barragem
Edgard de Souza, na Estrada dos Romeiros, aberta a uma multidão de fiéis que
cresce consistentemente ano após ano.
A encenação da
Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é destaque ainda em Diamantina, Minas
Gerais: na manhã do Domingo de Páscoa, as ruas da cidade histórica são
enfeitadas com flores e as janelas dos sobrados com colchas e toalhas
coloridas. Em Ouro Preto, o domingo da Ressurreição começa com a procissão do
Santíssimo Sacramento pelas ruas previamente ornamentadas pela população, que
faz vigília durante toda a noite do Sábado de Aleluia para confeccionar os
tapetes de serragem sobre os quais passará o Cristo Eucarístico. As cerimônias
em Ouro Preto preservam com naturalidade as características do século XVIII: a
guarda romana percorre as pedras das ladeiras coloniais, a Verônica sobe ao
mocho para mostrar o sudário com o rosto de Cristo e Judas é queimado entre
fogos e balas distribuídas às crianças.
É do Nordeste, porém,
a mais famosa encenação brasileira da Paixão de Cristo: Nova Jerusalém, em
Pernambuco, recebe uma multidão de fiéis e turistas no maior teatro a céu
aberto do mundo, cujos nove palcos monumentais servem de cenário para uma
representação interpretada por mais de 500 atores. Também vêm se consolidando
como tradição no Nordeste as celebrações da Paixão de Cristo em Oeiras, no
Piauí: na Sexta-Feira Santa, a Procissão dos Passos reúne grande quantidade de
fiéis na cidade cuja arquitetura colonial é repleta de igrejas e casarões.
Há procissões e
celebrações de Semana Santa em todo o país e seria extenso e desnecessário
mencionar uma por uma. O importante para nós, católicos, é participar delas não
como meros espetáculos teatrais, e sim como manifestações populares de fé no
Cristo que entrega a vida por amor, enfrenta a morte na cruz e a derrota com a
sua Ressurreição, abrindo para nós, pecadores, a possibilidade do Reino do Céu.
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