Sex, 13
de Setembro de 2013 08:25 por: cnbb
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados
Bispo de Dourados
No dia 1º de julho, o corpo do menino Brayan
Capcha, de 5 anos, foi levado para a Bolívia, onde havia nascido. Ele tinha
sido assassinado com um tiro na cabeça alguns dias antes, em São Paulo, depois
de entregar ao criminoso os últimos centavos que carregava consigo. Entre
lágrimas, pediu-lhe que não matasse a mãe e o deixasse viver. Mas o assaltante
não tolerou o seu choro e lhe desferiu um tiro na cabeça.
No mesmo dia, o Parlamento da Bélgica começou a
debater a aplicação da eutanásia para os menores de idade. Para os adultos, ela
está em vigor desde o ano de 2002, e lhes permite pôr fim à vida com uma
injeção letal em casos de doenças terminais. A partir de então, 1.432 pessoas
recorreram à medida. A nova proposta de lei autoriza os médicos a atender ao
pedido de crianças e adolescentes que solicitam a eutanásia «por se encontrarem
em situações médicas sem saída, em estado de sofrimento físico, psíquico
constante e insuportável».
Em julho também vieram à tona as declarações do
Ministro da Economia do Japão, Taro Asso, sugerindo que, por motivos econômicos
e para o bem da nação, «os idosos se apressem a morrer. Se eu estivesse na
situação dessas pessoas de idade avançada que recebem acompanhamento médico,
sentir-me-ia mal, sabendo que o tratamento é pago pelo Estado».
Estes e mil outros fatos do mesmo teor que sucedem
diariamente no mundo refletem a mentalidade pagã que tomou conta de amplos
setores da sociedade atual, a começar de algumas lideranças políticas.
Concretiza-se, assim, a “profecia” feita pelo escritor russo Fiodor
Dostoievski, há 150 anos: «Tirem Deus da sociedade e salve-se quem puder!». Com
ele concorda o Papa Francisco, num pronunciamento que fez no Rio de Janeiro, no
dia 27 de julho: «Em muitos ambientes, ganhou espaço a cultura da exclusão e do
descartável. Não há mais lugar para o idoso e para o filho indesejado. Não há
mais tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. As relações
humanas parecem regidas por apenas dois dogmas: a eficiência e o pragmatismo».
Escrevi acima que, em alguns países, essa
mentalidade pagã está sendo propugnada por autoridades políticas. Mas, para ser
exato, preciso incluir na lista também os meios de comunicação social. Um
exemplo concreto foi dado pela Rede Globo no dia 23 de agosto, através da
novela “Amor à vida”. Em dado momento, um ator no papel de médico, afirmou que
«o aborto ilegal está entre as maiores causas de mortes de mulheres no Brasil,
um caso de saúde pública».
Graças a Deus, de uns anos para cá, muitos leigos
cristãos passaram a ocupar o seu lugar, não apenas na Igreja, mediante serviços
litúrgicos e catequéticos, mas também na sociedade. Foi o que se viu na “nota”
que dirigentes do “Movimento Nacional da Cidadania pela Vida (Brasil sem
Aborto)” difundiram no dia 23 de agosto, contestando a Globo e pondo os pontos
nos is: «Os dados oficiais, disponíveis no Datasus, atestam que, no Brasil, em
2011 (último ano a ter os dados totalmente disponíveis), faleceram 504.415 mulheres.
O número máximo de mortes maternas por aborto provocado, incluindo os casos não
especificados, corresponde a 69, sendo uma delas o aborto dito legal. Portanto,
apenas 0,013% das mortes de mulheres se devem a aborto ilegal. 31,7% das
mulheres morreram de doenças do aparelho circulatório e 17,03% de tumores.
Estes, sim, constituem problemas de saúde pública.
A Globo fez também clara confusão entre os
conceitos de “omissão de socorro” e “objeção de consciência”, com laivos de
intolerância à liberdade religiosa. Desconhecemos que alguma religião impeça
seus membros de prestar socorro a “pecadores”. Se assim fosse, inúmeros
assaltantes e assassinos que chegam baleados aos hospitais, ficariam sem
atendimento. Se até um bandido assassino, que foi ferido no embate, tem direito
a atendimento médico, como caberia negá-lo em situações de sequelas do aborto?
Se a Rede Globo deseja problematizar o debate, que o faça a partir de dados e
situações verazes, e não se contente em reproduzir jargões propagandísticos!».
Tudo isso para não voltar aos tempos e aos métodos
de Voltaire: «Menti, menti, que alguma coisa ficará!».
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