FONTE:
CNBB (Quarta, 05 Março 2014 16:32)
Por ocasião da abertura da
Campanha da Fraternidade 2014, que aborda o tema "Fraternidade e Tráfico
Humano" e o lema "É para a liberdade que Cristo nos libertou",
o papa Francisco enviou mensagem aos bispos da CNBB e a todos os
fiéis das dioceses, paróquias e comunidades do Brasil. No texto, o papa afirma
que o tráfico de pessoas é uma “uma chaga social”.
“Não é possível ficar impassível, sabendo que
existem seres humanos tratados como mercadoria! Pense-se em adoções de criança
para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em
trabalhadores explorados, sem direitos nem voz, etc. Isso é tráfico humano!”,
destacou Francisco.
Ao final da mensagem, Francisco concedeu bênção
apostólica a todos os brasileiros desejando uma Quaresma de vida nova em
Cristo.
Confira a íntegra da mensagem:
Queridos
brasileiros,
Sempre lembrado do coração grande e da acolhida
calorosa com que me estenderam os braços na visita de fins de julho passado,
peço agora licença para ser companheiro em seu caminho quaresmal, que se inicia
no dia 5 de março, falando-lhes da Campanha da Fraternidade que lhes recordo a
vitória da Páscoa: <<É para a liberdade que Cristo nos libertou>>
(Gal 5,1). Com a sua Paixão, Morte e Ressurreição, Jesus Cristo libertou a
humanidade das amarras da morte e do pecado. Durante os próximos quarenta dias,
procuraremos conscientizar-nos mais e mais da misericórdia infinita que Deus usou
para conosco e logo nos pediu para fazê-la transbordar para os outros,
sobretudo aqueles que mais sofrem: <<Estás livre! Vai e ajuda os teus
irmãos a serem livres!>>. Neste sentido, visando mobilizar os cristãos e
pessoas de boa vontade da sociedade brasileira para uma chaga social qual é o
tráfico de seres humanos, os nossos irmãos bispos do Brasil lhes propõe este
ano o tema “Fraternidade e Tráfico Humano”.
Não é possível ficar impassível, sabendo que
existem seres humanos tratados como mercadoria! Pense-se em adoções de criança
para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em
trabalhadores explorados, sem direitos nem voz, etc. Isso é tráfico humano!
<<A este nível, há necessidade de um profundo exame de consciência: de fato,
quantas vezes toleramos que um ser humano seja considerado como um objeto,
exposto para vender um produto ou para satisfazer desejos imorais? A pessoa
humana não se deveria vender e comprar como uma mercadoria. Quem a usa e
explora, mesmo indiretamente, torna-se cúmplice desta prepotência>>
(Discurso aos novos Embaixadores, 12/XII/2013). Se, depois, descemos ao nível
familiar e entramos em casa, quantas vezes aí reina a prepotência! Pais que
escravizam os filhos, filhos que escravizam os pais; esposos que, esquecidos de
seu chamado para o dom, se exploram como se fossem um produto descartável, que
se usa e se joga fora; idosos sem lugar, crianças e adolescentes sem voz.
Quantos ataques aos valores basilares do tecido familiar e da própria
convivência social! Sim, há necessidade de um profundo exame de consciência.
Como se pode anunciar a alegria da Páscoa, sem se solidarizar com aqueles cuja
liberdade aqui na terra é negada?
Queridos brasileiros, tenhamos a certeza: Eu só
ofendo a dignidade humana do outro, porque antes vendi a minha. A troco de quê?
De poder, de fama, de bens materiais... E isso – pasmem! A troco da minha
dignidade de filho e filha de Deus, resgatada a preço do sangue de Cristo na
Cruz e garantida pelo Espírito Santo que clama dentro de nós:<< “Abbá,
Pai!”>> (cf. Gal 4,6). A dignidade humana é igual em todo o ser humano:
quando piso-a no outro, estou pisando a minha. Foi para a liberdade que Cristo
nos libertou! No ano passado, quando estive junto de vocês afirmei que o povo
brasileiro dava uma grande lição de solidariedade; certo disso, faço votos de
que os cristãos e as pessoas de boa vontade possam comprometer-se para que mais
nenhum homem ou mulher, jovem ou criança, seja vítima do tráfico humano! E a
base mais eficaz para restabelecer a dignidade humana é anunciar o Evangelho de
Cristo nos campos e nas cidades, pois Jesus quer derramar por todo o lado vida
em abundância (cf. Evangelii gaudium, 75).
Com estes auspícios, invoco a proteção do Altíssimo
sobre todos os brasileiros, para que a vida nova em Cristo lhes alcance, na
mais perfeita liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 21), despertando em cada
coração sentimentos de ternura e compaixão por seu irmão e irmã necessitados de
liberdade, enquanto de bom grado lhes envio uma propiciadora Bênção Apostólica.
Vaticano, 25 de fevereiro de 2014.
Francisco
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FONTE: CNBB (Quarta, 05 Março 2014 19:37)
A Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB) abriu oficialmente a Campanha da Fraternidade de 2014 nesta
Quarta-feira de Cinzas, dia 5 de março, em sua sede em Brasília (DF). Este ano,
a campanha aborda o tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e o lema “É para a
liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
Representantes do governo e entidades da sociedade
civil marcaram presença na solenidade, entre eles: o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardoso; o representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
Marcello Laverene Machado; e a secretária executiva do Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs (Conic), pastora Romi Márcia Bencke.
O bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da
CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, presidiu a cerimônia. Segundo dom Leonardo,
a Igreja inicia um “tempo de conversão” em se tratando da Quaresma. No Brasil,
a Conferência dos Bispos apresenta a Campanha da Fraternidade “como itinerário
de libertação pessoal, comunitária e social”.
Para dom Leonardo Steiner, a CF 2014 quer
contribuir na identificação das práticas do tráfico humano em suas várias
formas. “O tráfico humano de hoje é, certamente, fruto da cultura que vivemos.
A Campanha da Fraternidade, ao trazer à luz um verdadeiro drama humano deseja
despertar a sensibilidade de todas as pessoas de boa vontade”, explicou.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, disse
que o governo se une à CNBB e às demais entidades na luta contra o tráfico de
pessoas. Para o ministro, o Estado deve reagir frente a essa realidade. “É
inaceitável um crime como o tráfico humano e que pessoas sejam tratadas como
objetos, como escravos. Não importa a modalidade deste crime. Ele tem que ser
objeto de uma reação muito forte da sociedade moderna, do Estado moderno”,
disse.
Mensagem do papa
O papa Francisco enviou mensagem por ocasião da
abertura da campanha no Brasil. O texto foi lido pelo secretário executivo da
CF 2014, padre Luiz Carlos Dias.
De acordo com o papa, não é possível ficar
impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como mercadoria.
"Pense-se em adoções de criança para remoção de órgãos, em mulheres
enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem
direitos nem voz, etc”, disse. O papa se dirigiu aos fiéis, exortando
sobre a problemática do tráfico de pessoas. “Queridos brasileiros, tenhamos a
certeza: Eu só ofendo a dignidade humana do outro, porque antes vendi a minha”,
lembrou o papa.
Dignidade humana
Para a secretária executiva do Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs (Conic), pastora Romi Márcia Bencke, é necessário debater a
temática do tráfico humano de forma aberta e coerente. “A Campanha da
Fraternidade nos coloca um grande desafio de falar honestamente das hierarquias
econômicas, sociais e culturais, que acabam legitimando esse tipo de exploração
humana”, apontou a pastora.
O representante da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Marcello Laverene Machado, destacou que a OAB reconhece a CNBB como uma
parceira de lutas em defesa da dignidade humana. “A Campanha da Fraternidade
vai chamar a atenção para essa grande chaga que é a opressão, o abandono, em
uma sociedade estruturada sob bases injustas, visando apenas o consumismo e o
capitalismo. Que cada brasileiro nesta campanha, lute pelo desaparecimento do
tráfico humano”, concluiu.
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