Sex, 02
de Agosto de 2013 11:36 por: cnbb
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
A presença entre nós do Papa Francisco se
constituiu em abundante semeadura. Cabe a nós agora cultivar essas sementes, a
começar pelas mais necessárias para a caminhada de renovação eclesial em que
nos encontramos.
Tendo presente o conjunto de suas homilias e de
seus gestos simbólicos, é fácil perceber algumas insistências do Papa
Francisco, fruto de suas convicções. Vale a pena destacar algumas.
Uma primeira insistência é de ordem espiritual, e
propõe uma atitude de muita confiança na misericórdia de Deus.
No começo,
parecia que esta insistência na misericórdia divina era meramente
circunstancial, em vista do “domingo da misericórdia” que estava sendo
celebrado no início do seu pontificado. . Mas logo se percebeu que ultrapassava
as circunstâncias concretas, e se constituía em mensagem central do Evangelho.
E não deixa de ser verdade, que a misericórdia divina faz parte do núcleo
central do Evangelho de Cristo. A própria Igreja precisa assumir “as entranhas
maternas da misericórdia”.
Outra insistência do Papa Francisco está ligada à
simplicidade, à transparência e à pobreza. A começar pelo testemunho que ele
transmitiu, deixando bem claro que ele não se identifica com ambientes de
elite, onde prevalecem a ostentação e o luxo. Foi enfático em advertir que não
fica bem para as pessoas consagradas para estarem ao serviço do povo se valham
desta situação para buscar aparências superficiais e enganosas.
A constatação de que o próprio Deus se faz de
necessitado, mostra o alcance desta atitude de desprendimento e simplicidade.
“Deus entra pelo subterfúgio de quem mendiga”. Deus se faz de
necessitado, para facilitar a acolhida e o diálogo.
Outra insistência se refere à “conversão pastoral”,
que reiteradas vezes apareceu em suas homilias. A recomendação concreta enfatiza
a importância da proximidade que a Igreja precisa ter face às pessoas e à
sociedade. “A proximidade toma forma de diálogo, e cria a cultura do encontro”.
São dimensões que fazem pensar nas situações cotidianas que envolvem a
pastoral, e que precisam caracterizar a postura da Igreja, chamada a criar
espaços de diálogo e oportunidades de encontro.
Uma insistência “revolucionária” foi expressa pelo
Papa Francisco em forma de abertura missionária. A Igreja precisa “abrir as
portas”, não só para acolher bem os que a procuram, mas sobretudo para sair de
si mesma, e ir ao encontro dos que se estão afastados, ou mesmo já separados da
própria Igreja.
Por aí passa a mudança radical que o Papa está
propondo. Se for assumida, mudam as perspectivas eclesiais. De uma Igreja
acuada e refugiada em suas próprias estruturas, se passaria para uma Igreja que
vai ao encontro das pessoas e da sociedade, se faz próxima, e se coloca ao
serviço das grandes causas do Evangelho.
Na verdade, a grande insistência do Papa se traduz na
proposta de uma Igreja que deixa de ser “auto referencial”, de ter a si mesma
como medida para sua ação. Mas que, ao contrário, escuta os apelos e os
desafios que a realidade de hoje lhe apresenta, para aí situar o sentido de sua
presença e de sua atuação.
Ele fala numa Igreja “descentrada”, que deixa de
ter suas estruturas como referência, mas se situa na “periferia”, e a partir da
periferia ela pode reencontrar sua verdadeira identidade e sua missão própria.
É importante perceber como o Papa situou suas
recomendações no horizonte da “Conferência de Aparecida” com sua proposta de
realizar uma “missão continental”, colocando a Igreja em “estado permanente de
missão”.
Tudo indica que este documento, com o Papa
Francisco, assumirá significado mundial, ultrapassando os limites de sua
destinação original para o continente latino americano. Neste contexto,
deciframos melhor o que o Papa quis nos dizer com suas valiosas homilias.
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