CNBB: Segunda, 11 Agosto 2014 17:23
Dom
Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia (BA) e Primaz do Brasil
Arcebispo de São Salvador da Bahia (BA) e Primaz do Brasil
Vão multiplicar-se
hoje, em nossos lares, gestos de carinho e de amor. Por um dia, o pai será o
rei de cada família. Receberá presentes e abraços, ouvirá o tradicional
“Parabéns a você” e se emocionará ao saber que o filho distante está lhe
telefonando. Todo presente será recebido com grande alegria: o desenho
futurista do filho de cinco anos, a camisa que o mais velho comprou com economias
do dinheiro da mesada e o prato de porcelana pintado pela filha.
Bem que, diante
das homenagens, cada pai gostaria de expressar sua alegria e gratidão. Contudo,
a maioria não tentará. Afinal, onde buscar palavras? Melhor mesmo é ficar
quieto, sorrir e dizer um “Obrigado!”, mesmo que desajeitado.
No meio desse
clima de festa, talvez não lhe sobre tempo para um momento de reflexão. Se
tivesse condições de fazer uma rápida revisão de sua vida, possivelmente
esbarraria logo na primeira pergunta: O que é mesmo “ser pai”? Ficaria um tanto
perplexo ao constatar que a realidade que está enfrentando está longe dos
ideais sonhados no tempo da juventude, do noivado ou dos primeiros anos de
casado. Afinal, onde ficaram seus sonhos? Que vida é essa que impede a
realização de nossos projetos e torna tão duro o dia a dia? Onde ficaram suas
promessas de um diálogo constante e profundo com os filhos que teria?
Se parasse para
refletir, constataria que quase nem os viu crescer. É difícil acreditar que
eles tenham crescido tão rapidamente e já estejam com essa idade... Os
problemas multiplicaram-se. O salário foi sempre inferior à soma das
necessidades e dos desejos de todos. E as ideias e pontos de vista diferentes
que, não poucas vezes, criam divisões dentro da própria família? E as
discussões que se renovam diariamente em sua casa? Não é agradável perceber que
não é o único a fazer a cabeça dos filhos. Há muito já constatou que enfrenta
uma concorrência imensa, de forças desproporcionais. Aí está a televisão e a
internet, os livros e as revistas, os professores e os amigos a disputarem com
ele o domínio da cabeça dos filhos. Qual a influência que, como pai, tem
realmente sobre eles? De que valerão suas preocupações e trabalhos? O que
ficará no coração de seus filhos?
Se nesse dia
conseguisse conversar e, particularmente, ouvir seus filhos, talvez percebesse
que seu papel é muito mais importante do que imagina. Saberia que eles precisam
muito dele. E que, justamente por causa desse mundo que os cerca e busca
influenciá-los, mais do que nunca eles sentem uma necessidade imensa de seu
carinho, de sua atenção e de seu sorriso de pai. Descobriria, especialmente,
que seus filhos anseiam por gestos concretos de seu amor: um beijo, um abraço,
um passar a mão na cabeça ou perguntas do tipo: Como está indo na escola? É
verdade que você está namorando? Posso te ajudar?...
Mais tempo tivesse
para refletir e concluiria que sua missão é uma participação direta no mistério
do próprio Deus. Afinal, segundo a revelação de Jesus Cristo, Deus é Pai - Pai
nosso. É nele que cada pai deve espelhar-se para aprender a ser um dom total,
renovado e constante para seus filhos.
A reflexão poderia
continuar. Interrompo-a para lembrar-lhe que há outros pais. Há aqueles que,
neste e em todos os dias, estão preocupados é com a falta de alimento, de casa,
de roupa e de remédios para seus filhos. Esses nem pensam mais em seus sonhos.
Colocado diante do
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, cada pai pode, neste dia, pedir com
confiança: “Senhor, é possível que eu não seja o pai que deveria ser. Mas tu me
conheces e sabes o quanto eu quero ser melhor. Do fundo do meu coração, eu te
peço: Dá-me um pouco de teu jeito de tratar teus filhos e filhas. Não te peço
para ser o pai que sonhei ser, mas que eu seja um pai como tu queres que eu
seja. Olha cada um dos meus filhos. Sabes o quanto eles são importantes para
mim. Ajuda-me a manifestar isso com gestos e palavras que eles entendam. E,
acima de tudo, sejas tu a acompanhá-los com teu amor. Afinal, antes de serem
meus, são teus filhos e filhas, Pai!”
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