Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Arcebispo de Belém do Pará
Há um costume na Igreja Católica no Brasil de
dedicar anualmente o mês de agosto à reflexão a respeito de uma das dimensões
fundamentais da vida cristã, a vocação. São João Paulo II chamou a vocação de
um olhar de amor vindo de Deus para cada pessoa. Tendo diante dos olhos, com a
ajuda da Comunidade cristã, os vários estados de vida e possibilidades de
serviço ao Reino de Deus, a Igreja quer oferecer, especialmente às crianças,
adolescentes e jovens, o caminho seguro. Sabemos que Deus concede a todos os
homens e mulheres uma imensa quantidade de dons e capacidades, com as quais
podem realizar-se. Todos nós fomos feitos para dar certo e ninguém pode ser
excluído.
Não é raro que em escolas e outros ambientes se
ofereçam os chamados testes vocacionais, com os quais as habilidades são
identificadas, contribuindo para as novas gerações encontrarem seu lugar na
sociedade. Podem ajudar a descobrir os campos de atividade mais adequados às
capacidades de cada um e facilitar o acesso aos cursos adequados e à posterior
entrada no mercado de trabalho. Nem sempre as pessoas acertam na escolha do
curso a fazer e são muitas aquelas que, em virtude de um concurso feito,
dependentes dos salários que recebem, permanecem longos anos em ambientes
inadequados aos seus próprios dons. Todos nós almejamos um mundo em que as
pessoas se integrem bem e sejam felizes, no lugar certo, com sua dignidade
reconhecida e possibilidades de desenvolvimento de todas as suas
potencialidades. O sonho pode parecer distante, mas não podemos desejar menos
do que uma sociedade livre e igualitária, com oportunidades oferecidas a todos.
Daí a importância a ser dada a todos os instrumentos técnicos e pedagógicos que
nos aproximem de tal ideal. Acrescente-se a isso o esforço a ser empreendido
para multiplicar os postos de trabalho destinados às novas gerações.
No entanto, é outra a compreensão da ideia cristã de vocação. Os testes vocacionais e outros recursos podem conduzir à profissão e à realização das capacidades, mas vocação tem a ver com vida cristã e experiência religiosa, o que pode conduzir à escolha de um estado de vida e disponibilidade para o serviço do próximo por causa de uma realidade que supera as atividades cotidianas ou o trabalho a ser realizado. Vocação exige dois polos. De um lado, Deus que cria, chama e ama. A outra parte é de cada pessoa humana, que precisa aprender a discernir os sinais da vontade de Deus e responder com coragem.
O ponto de partida está na família, convidada,
através do Sacramento que a constitui, o matrimônio, a criar um ambiente
adequado ao trato pessoal com Deus. Tudo começa no ato gerador do amor
conjugal, com o qual uma vida tem início, com a colaboração dos pais,
conscientes de que, ao conceberem uma criança, Deus cria uma alma chamada a
viver por toda a eternidade (Cf. Encíclica Humani Generis, do papa Pio XII,
número 36). Há um relacionamento pessoal e direto de amor entre Deus e cada
pessoa humana, no qual o Senhor mantém a plena liberdade com a qual fomos
criados e ao mesmo tempo provoca positivamente uma resposta de cada homem e de
cada mulher, em vista da felicidade a que somos destinados. Deus não é fruto de
nossa imaginação ou criatividade, mas nos precede como Senhor e Criador. Ele
vem na frente! Nós é que somos suas criaturas!
A vida de oração na família cria as condições para
que as crianças, tendo recebido de presente a inserção no Corpo de Cristo, na
graça do Batismo, venham a responder a uma pergunta fundamental: "O que
Deus quer de mim?" Não é suficiente ensinar os filhos a desenvolverem suas
capacidades e descobrirem como ser importantes ou ganhar dinheiro na sociedade.
Uma pessoa não chegou à sua plena realização quando faltou a experiência de
Deus e a resposta a este amor pessoal. O nome de Deus e o amor a Ele sejam
sagrados em cada casa. A família evangeliza e lança as sementes das vocações
cristãs autênticas quando dentro dela se respiram os valores evangélicos
verdadeiros, traduzidos em gestos e palavras tão simples, como pedir um favor,
agradecer, dar espaço aos outros, o perdão, a gentileza, a polidez no trato.
Para cultivar este ambiente, a família seja o espaço da iniciação à vida
paroquial. Criança que vai à Missa com os pais tem futuro na vida cristã!
Participação familiar na Santa Missa é Pastoral Vocacional! Depois, a Igreja,
seus Sacramentos, seus Ministros, sua história, tudo venha a ser valorizado e
respeitado na família!
O cultivo do ambiente vocacional continua com a
inserção na catequese e nos grupos paroquiais, segundo as idades das crianças,
adolescentes e jovens. Ali se ampliam os horizontes, outras pessoas são conhecidas.
Nas Paróquias e Comunidades, faça parte do esforço pastoral a orientação
vocacional e o reconhecimento das diversas vocações e estados de vida, nos
quais o amor de Deus é acolhido e respondido com generosidade. Todas as
vocações sejam consideradas importantes e nenhuma preterida nas Paróquias. Além
disso, seja valorizada a figura dos orientadores vocacionais. Leigos e Leigas,
Religiosos e Religiosas, assim como os sacerdotes, estes na magnífica tarefa do
Sacramento da Penitência e da Direção Espiritual, são agentes imprescindíveis
para uma cultura vocacional a ser desenvolvida na Igreja.
As grandes vocações eclesiais a serem cultivadas
são o Matrimônio, o Sacerdócio, a Vida Religiosa e Missionária, a Dedicação a
Deus nas Comunidades Novas, a Virgindade Consagrada nas Igrejas Particulares e
outras formas de compromisso pessoal com o Senhor. Há lugar e oportunidade para
todos e ninguém pense não ter uma vocação. Todos, sem exceção, têm um olhar
pessoal de Deus a ser realizado na Igreja.
E somos ainda convidados a retornar ao argumento
inicial, a profissão e a vocação. Um dia, perguntei a um jardineiro o que
estava atrás da beleza de seu trabalho. Respondeu-me com simplicidade que era
apenas o amor com que suas mãos realizavam as tarefas. Apenas! E encontro
homens e mulheres de tantas outras profissões que as realizam com inigualável
unção! Capacidades humanas foram elevadas a uma sacralidade impressionante.
Tive inúmeros contatos com médicos, para dar um exemplo, que se deixam conduzir
pelo Espírito Santo em suas delicadas tarefas. A diferença está lá dentro da
pessoa, que pode ser apenas um profissional frio ou se deixar conduzir pela
graça de Deus. Acontece então um encontro maravilhoso entre a iniciativa do
Senhor, que nos leva em conta, e as capacidades humanas, cuja fonte se encontra
também nele. A Ele a honra, o louvor e a glória, para sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário