O Concílio Vaticano II, cujo cinquentenário de abertura a Igreja
comemora em outubro próximo, aprovou uma Constituição Pastoral – Gaudium
et Spes (Alegria e Esperança) sobre a “Igreja no mundo de hoje”. Ao
longo da história, a presença da pessoa humana no mundo é identificada
por sua participação, mediante o desenvolvimento de atividade que deve
ter sempre um sentido para si e para os outros. Em relação a isso,
passados 50 anos, o ensinamento da Gaudium et Spes continua com absoluta
atualidade: “A atividade humana, do mesmo modo que procede do homem,
assim para ele se ordena.
De fato, quando age, o homem não transforma apenas as coisas e a sociedade, mas realiza-se a si mesmo. Aprende muitas coisas, desenvolve as próprias faculdades, sai de si e eleva-se sobre si mesmo. Este desenvolvimento, bem compreendido, vale mais do que os bens externos que se possam conseguir. O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem. Do mesmo modo, tudo o que o homem faz para conseguir mais justiça, mais fraternidade, uma organização mais humana das relações sociais, vale mais do que os progressos técnicos. Pois tais progressos podem proporcionar a base material para a promoção humana, mas, por si sós, são incapazes de a realizar. A norma da atividade humana é pois a seguinte: segundo o plano e vontade de Deus, ser conforme com o verdadeiro bem da humanidade e tornar possível ao homem, individualmente considerado ou em sociedade, cultivar e realizar a sua vocação integral.” Não obstante esse ensinamento conciliar, o estilo de vida da sociedade contemporânea sobrepõe o ter ao ser, de modo que a valorização dos bens materiais, expressa de muitas maneiras, está acima das próprias pessoas; via de regra, o ter bens equivale também a ter poder, daí porque poder econômico e poder político estão sempre muito próximos.
De fato, quando age, o homem não transforma apenas as coisas e a sociedade, mas realiza-se a si mesmo. Aprende muitas coisas, desenvolve as próprias faculdades, sai de si e eleva-se sobre si mesmo. Este desenvolvimento, bem compreendido, vale mais do que os bens externos que se possam conseguir. O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem. Do mesmo modo, tudo o que o homem faz para conseguir mais justiça, mais fraternidade, uma organização mais humana das relações sociais, vale mais do que os progressos técnicos. Pois tais progressos podem proporcionar a base material para a promoção humana, mas, por si sós, são incapazes de a realizar. A norma da atividade humana é pois a seguinte: segundo o plano e vontade de Deus, ser conforme com o verdadeiro bem da humanidade e tornar possível ao homem, individualmente considerado ou em sociedade, cultivar e realizar a sua vocação integral.” Não obstante esse ensinamento conciliar, o estilo de vida da sociedade contemporânea sobrepõe o ter ao ser, de modo que a valorização dos bens materiais, expressa de muitas maneiras, está acima das próprias pessoas; via de regra, o ter bens equivale também a ter poder, daí porque poder econômico e poder político estão sempre muito próximos.
A Gaudium
et Spes trata também da autonomia humana, frente à religião, no campo
científico. “No entanto, muitos dos nossos contemporâneos parecem temer
que a íntima ligação entre a atividade humana e a religião constitua um
obstáculo para a autonomia dos homens, das sociedades ou das ciências.
Se por autonomia das realidades terrenas se entende que as coisas
criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o
homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é
perfeitamente legítimo exigir tal autonomia. Para além de ser uma
exigência dos homens do nosso tempo, trata-se de algo inteiramente de
acordo com a vontade do Criador. Pois, em virtude do próprio fato da
criação, todas as coisas possuem consistência, verdade, bondade e leis
próprias, que o homem deve respeitar, reconhecendo os métodos peculiares
de cada ciência e arte. Por esta razão, a investigação metódica em
todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo
verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será
realmente oposta à fé, já que as realidades profanas e as da fé têm
origem no mesmo Deus.”
Ciência e
fé atuam em planos próprios, mas não opostos. A ciência representa uma
afirmação da inteligência humana que, porém, segundo a fé católica, não
tem uma autonomia absoluta, como ensina a Gaudium et Spes: “Se, porém,
com as palavras ‘autonomia das realidades temporais’ se entende que as
criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem as
ordenar ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a
falsidade de tais assertos. Pois, sem o Criador, a criatura não
subsiste.” A autonomia legítima situa o homem no seu devido lugar. A
doutrina da Igreja, confirmada pelo Concílio Vaticano II, sustenta que
não são incompatíveis a ciência, enquanto investiga “os segredos da
natureza”, e a fé, enquanto neles vê “a vontade do Criador”.
Dom Genival Saraiva de França
é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional
de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão
Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz;
Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do
Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da
CNBB NE2.
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