16/06/2017 CNBB
Desde o início de seu pontificado, o papa Francisco tem demonstrado uma preocupação especial com a questão dos migrantes e refugiados, estando atento a esta realidade que ganhou dimensões mundiais bastante expressivas, sendo considerada o maior movimento de pessoas, se não de povos, de todos os tempos. Na perspectiva pastoral, visitas, encontros e as tradicionais Mensagens para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado dão o tom do envolvimento do pontífice que anima a Pastoral da Mobilidade Humana.
Diante o cenário migratório complexo, se apresenta uma natureza forçada de muitos fluxos migratórios contemporâneos. Tal fato aumenta os desafios que se apresentam à comunidade política, à sociedade civil e à Igreja, de acordo com o papa, “exigindo que se responda ainda mais urgentemente a tais desafios de modo coordenado e eficaz”. Para o pontífice, a resposta comum da Igreja poderia articular-se em volta de quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar.
De acordo com a secretária executiva do Setor Pastoral da (à esquerda na foto), há “muitos gestos que demonstram que o papa tem esse carinho, essa dedicação” para com migrantes e refugiados, que tem os dias 19 e 20 de junho a eles dedicados respectivamente. O que o papa faz, de acordo com a religiosa scalabriniana é cumprir o que está no Evangelho.
Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), irmã Claudina Scapini
Acolher – O verbo acolher, segundo a fala do papa aos participantes no Fórum Internacional sobre Migrações e Paz, em fevereiro deste ano, apresenta-se perante a “índole da rejeição” como “urgente mudança de atitude para superar a indiferença e antepor aos receios uma generosa atitude de hospitalidade em relação àqueles que batem às nossas portas”. Para o pontífice, é preciso ainda abrir canais humanitários acessíveis e seguros para quantos fogem de guerras e de perseguições terríveis, muitas vezes presos nas garras de organizações criminosas sem escrúpulos. “Um acolhimento responsável e digno destes nossos irmãos e irmãs começa pela sua primeira acomodação em espaços adequados e decentes”, disse Francisco.
Proteger – Trabalhadores migrantes, refugiados, requerentes de asilo e vítimas do tráfico são vulneráveis à exploração, ao abuso e à violência. A estes, deve ser promovida a defesa dos seus direitos inalienáveis, a garantia das suas liberdades fundamentais e o respeito pela sua dignidade. “São tarefas das quais ninguém se pode eximir”, segundo o papa, que elencou algumas ações práticas neste sentido aos participantes do Fórum, entre eles a coordenadora da Pastoral dos Refugiados, irmã Rosita Milesi.
Promover – “Proteger não é suficiente; é necessário promover o desenvolvimento humano integral de migrantes, refugiados e pessoas deslocadas, que ‘tem lugar mediante o cuidado dos bens incomensuráveis da justiça, da paz e da proteção da criação’”, exortou Francisco, que incentiva as comunidades de origem e também aos atores políticos, a sociedade civil, organizações internacionais e instituições religiosas a empreenderem ações coordenadas e promover também o direito “a não ter que migrar”: o direito a encontrar na própria pátria as condições que lhes permitam levar uma existência digna.
Integrar – Como um processo que se baseia no “mútuo reconhecimento da riqueza cultural do outro”, a integração apontada pelo papa Francisco recordando o Magistério da Igreja se faz com “políticas capazes de favorecer e privilegiar as reunificações familiares” e “também programas específicos, que favoreçam o encontro significativo com o próximo”. Também para a comunidade cristã, “a integração pacífica de pessoas de várias culturas é, de certo modo, inclusive um reflexo da sua catolicidade, uma vez que a unidade que não anula as diversidades étnicas e culturais constitui uma dimensão da vida da Igreja que, no Espírito do Pentecostes, está aberta a cada um e deseja abraçar todos”.
Mensagens
Além dos quatro verbos que representam um dever de justiça, de civilização e de solidariedade em relação aos irmãos e às irmãs que, por diferentes motivos, são forçados a deixar a própria terra de origem, as palavras do papa suscitam, desde 2014, sempre no mês de janeiro, reflexões importantes dentro deste contexto
Além dos quatro verbos que representam um dever de justiça, de civilização e de solidariedade em relação aos irmãos e às irmãs que, por diferentes motivos, são forçados a deixar a própria terra de origem, as palavras do papa suscitam, desde 2014, sempre no mês de janeiro, reflexões importantes dentro deste contexto
Em sua primeira mensagem para o “Dia Mundial do migrante e refugiado”, Francisco acentuou que a realidade das migrações, com as dimensões que assume na nossa época de globalização, “precisa ser tratada e gerida de uma maneira nova, justa e eficaz, o que exige, acima de tudo, uma cooperação internacional e um espírito de profunda solidariedade e compaixão”.
No ano seguinte, com o tema “Igreja sem fronteiras, mãe de todos”, o incentivo à cultura do acolhimento e da solidariedade, segundo a qual ninguém deve ser considerado inútil, intruso ou descartável. “A comunidade cristã, se viver efetivamente a sua maternidade, nutre, guia e aponta o caminho, acompanha com paciência, solidariza-se com a oração e as obras de misericórdia”.
Em 2016, no contexto do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, o tema não deixou de estar em sintonia com o Jubileu: “Os emigrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta do Evangelho da misericórdia”. Escreveu o papa: “é importante olhar para os emigrantes não somente com base na sua condição de regularidade ou irregularidade, mas sobretudo como pessoas que, tuteladas na sua dignidade, podem contribuir para o bem-estar e o progresso de todos”.
Neste ano, a atenção voltou-se às crianças: “Migrantes de menor idade, vulneráveis e sem voz”. Lembrando das pessoas à procura de trabalho digno ou de melhores condições de vida, dos homens e mulheres, idosos e crianças que são forçados a abandonar as suas casas com a esperança de se salvar e encontrar paz e segurança noutro lugar, Francisco fitou o olhar sobre os menores, que são “os primeiros a pagar o preço oneroso da emigração”. A corrida desenfreada ao lucro rápido e fácil, disse Francisco, traz consigo também “a propagação de chagas aberrantes como o tráfico de crianças, a exploração e o abuso de menores e, em geral, a privação dos direitos inerentes à infância garantidos pela Convenção Internacional sobre os Direitos da Infância”.
A visita a Lampedusa, as iniciativas e obras no Vaticano relacionadas aos moradores de rua, em boa parte imigrantes, e o pedido para que paróquias e casas religiosas recebessem famílias que chegaram à Europa são gestos que também demonstram o empenho de Francisco em aplicar pessoalmente os quatro verbos.
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