terça-feira, 20 de junho de 2017

Os desafios e iniciativas sustentáveis da Igreja e da sociedade no combate à desertificação e a seca

16/06/2017 CNBB  Social

A seca e a desertificação do solo têm sido combatidas com iniciativas que contribuem para o uso sustentável de terras em áreas vulneráveis ao fenômeno. Diversos projetos estão sendo desenvolvidos para promover a conscientização sobre o problema que atinge 42% das terras do planeta e 35% da população mundial. Os dados são da Organização das Nações Unidas (ONU).

Desertificação na região de Gilbués (PI). Foto: Interpi
A desertificação é definida como um processo
de degradação ambiental causada pelo manejo inadequado dos recursos naturais nos espaços áridos, semiáridos e subúmidos secos, que compromete os sistemas produtivos das áreas susceptíveis, os serviços ambientais e a conservação da biodiversidade.
Para a ONU ainda que os efeitos da desertificação afetem diretamente cerca de 250 milhões de pessoas outros 1 bilhão estão em áreas de risco espalhados por mais de cem países. Para sensibilizar e aumentar a conscientização sobre os esforços internacionais para combater estes fenômenos, o dia 17 de junho foi escolhido para celebrar o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca.
A celebração deste ano analisa a relação entre a degradação da terra e migração. “Entre outros, a degradação ambiental, a insegurança alimentar e a pobreza são causas da migração e as dificuldades para o desenvolvimento. Em apenas 15 anos, de 2000 a 2015, o número de migrantes em todo o mundo aumentou de 173 milhões para 244 milhões”, destaca o site da ONU que trata da comemoração.
Divulgação
Em 2015, o papa Francisco publicou sua primeira encíclica Laudato Si que fala sobre o cuidado da casa comum e faz um alerta para os efeitos da degradação ambiental. No documento, Francisco se dirige aos fiéis católicos, retomando as palavras de São João Paulo II.
“Os cristãos, em particular, advertem que a sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé, mas se propõe especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum”, destacou o pontífice.
No Brasil, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), organismo ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem um amplo programa de apoio às ações no combate à desertificação de proteção ao meio ambiente.
“A REPAM busca fortalecer, incentivar e congregar inciativas que atuam na defesa e no cuidado de nossa Casa Comum, de modo particular, àquelas que agem no combate ao desmatamento e fortalecem os Povos da Floresta”, explica coordenadora de comunicação da REPAM-Brasil, irmã Osnilda Lima.
“Um exemplo é o Fundo Dema, um fundo fiduciário que apoia projetos coletivos que visam a valorização socioambiental dos povos indígenas, quilombolas, comunidades extrativistas, ribeirinhas e da agricultura familiar e a preservação do Bioma Amazônico”, ressalta irmã Osnilda Lima.
Acordos de cooperação
Na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, o Brasil e outros 192 países, é signatário da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas – UNCCD (sigla em Inglês). Esse compromisso estabelece padrões de trabalho e metas internacionais convergentes em ações coordenadas na busca de soluções qualitativas que atendam às demandas socioambientais nos espaços áridos, semiáridos e subúmidos secos, particularmente onde residem as populações mais pobres do planeta.
O Fundo Dema é resultado da luta e da conquista das organizações, entre elas a Prelazia do Xingu e movimentos populares da Amazônia Brasileira, que se materializou por meio de um processo de parceria desses atores sociais, com o Ministério Público Federal (MPF) e o Governo Brasileiro. Tudo começou quando cerca de seis mil toras de mogno, madeira nobre da Amazônia, extraídas ilegalmente foram apreendidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
“Por meio da pressão social e mediação do MPF, o IBAMA doou a madeira à sociedade civil como uma forma de reconhecer e fortalecer as comunidades das quais o produto havia sido extraído ilegalmente”, destacou irmã Osnilda.
Panorama Brasil
Região do Raso da Catarina, no Norte da Bahia. Foto de Aislan S. Carneiro, novembro de 2012
No Brasil as áreas
mais vulneráveis aos efeitos da seca e desertificação do solo correspondem à aproximadamente 15% do território nacional (1.344.766 km²), abrangendo 1.491 municípios em nove Estados da região Nordeste, no norte de Minas Gerais e norte do Espírito Santo, segundo dados de 2016 divulgados pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), associação privada sem fins lucrativos, parceira do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Estudos realizados pelo CGEE mostram que esta área possui uma população estimada pelo IBGE em 2016 de 37.180.844 habitantes. Com base em estudos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), cerca de 5% destas áreas susceptíveis à desertificação (70.279 km²) estão fortemente afetadas por desertificação. Os Estados mais comprometidos em termos absolutos são Bahia, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
No último capítulo da encíclica Laudato Si o papa convida a todos a reformular hábitos e comportamentos. “Toda mudança tem necessidade de motivações e de um caminho educativo; estão envolvidos todos os ambientes educacionais, primeiro a escola, a família, os meios de comunicação e a catequese”, ressalta Francisco no documento.

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