Você já deve ter ouvido que "a vida humana é sagrada", mas saberia explicar por quê?
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“Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?”[1]
Em seu infinito
amor, Deus, Criador do universo, criou o homem à sua imagem e
semelhança, para amá-lo e fazê-lo participar da sua vida divina. Por
isso a vida humana é sagrada, pois tem em Deus a sua origem e o seu fim,
ela não é fruto do acaso ou de mera evolução física; e portanto, é,
também, inviolável porque pertence a Deus, seu criador.
“O
Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas
narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente”[2].A
Sagrada Escritura nos ensina que o homem foi criado à imagem de Deus,
capaz de conhecer e amar o seu Criador, e que foi constituído acima das
outras criaturas terrenas como senhor delas[3], para governá-las e delas se servir para a glória de Deus[4].
Essa
participação do homem na soberania divina atinge o seu ápice no dom da
liberdade responsável que o homem recebe do Senhor. “A
liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem divina no homem.
Pois Deus quis «deixar o homem entregue à sua própria decisão»[5], para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente chegue à total e beatífica perfeição, aderindo a Ele”[6].
Mas precisamos compreender que existe uma diferença qualitativa entre o
senhorio do homem sobre o mundo infra-humano e o senhorio sobre a sua
própria vida, porque a vida humana não poderá jamais ser objeto de posse
e manipulação, ela deve, simplesmente, ser vivida.
O homem
é“senhor” somente na medida em que é também “ministro” do desígnio
estabelecido pelo Criador. Ou seja, Deus constituiu o homem como
administrador das suas obras, para administrá-las com sabedoria, mas
esse domínio não se estende sobre a própria vida humana.À luz da experiência universal e de uma reta reflexão racional, podemos afirmar que a vida humana é um bem, um valor.
À luz da fé, a vida humana se revela como um grande dom de Deus Criador e Pai Misericordioso.“Na interpretação antropológica do corpo, a inviolabilidade da vida humana não coincide com aintocabilidade, ou seja, ou com a exclusão de qualquer intervenção sobre ela: tal intervenção, mesmo se é “artificial”,
resulta eticamente lícita ou até mesmo obrigatória se, no respeito da
estrutura, dos dinamismos e das finalidades do corpo humano, é colocado a
serviço da pessoa e do seu desenvolvimento[7]”.
Na sua encíclica Evangelium Vitae, João Paulo II afirma que, “mesmo
por entre dificuldades e incertezas, todo o homem sinceramente aberto à
verdade e ao bem pode, pela luz da razão e com o secreto influxo da
graça, chegar a reconhecer, na lei natural inscrita no coração (cf. Rm
2,14-15), o valor sagrado da vida humana desde o seu início até ao seu
termo, e afirmar o direito que todo o ser humano tem de ver plenamente
respeitado este seu bem primário”[8].
Ele nos recorda, ainda, que somos chamados a uma plenitude de vida que
vai muito além das dimensões da nossa existência terrena, porque
consiste na participação da própria vida de Deus. A sublimidade dessa
vocação sobrenatural revela a grandeza e a dignidade da vida humana[9].
No
primeiro capítulo desta belíssima Encíclica, o Papa descreve as atuais
ameaças à vida humana, partindo do início, desde o sangue de Abel, morto
por Caim, seu irmão: “Caim disse então a Abel, seu irmão: “Vamos
ao campo.” Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e
matou-o. O Senhor disse a Caim: “Onde está seu irmão Abel? – Caim
respondeu: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão?” O Senhor
disse-lhe: “Que fizeste! Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por
mim desde a terra[10]”,
e afirma que o sangue das pessoas e dos povos mortos das mais diversas
formas de violência é como um rio que ainda hoje escorre e sacia a
cultura de morte. Mas a história da humanidade também conhece um outro
sangue, que gera a cultura da vida e que semeia a cada dia a esperança,
produzindo frutos de amor e de serviço à vida: “Já não haverá morte[11]”,exclama
a voz potente que sai do trono de Deus na Jerusalém celeste. Este outro
sangue é o sangue de Cristo Crucificado, que sai do seu lado aberto[12], “derramado por muito, para a remissão dos pecados[13]”.
Que
grande amor do Pai e do Filho pelo homem pecador! Quão precioso é o
homem aos olhos de Deus e quão inestimável é o seu valor! Você entende
agora porquê a vida humana é sagrada e inviolável, desde o momento da
sua concepção até a sua morte natural e em qualquer condição, de saúde
ou de doença?
Com a doação
livre e total de Cristo na Cruz – e doando-se entregou o espírito –
Jesus se torna a Nova Lei, que no Espírito faz o homem participar do seu
amor e do seu abandono. Sobre isso nos ensina a Evangelium Vitae:
“Animado e plasmado por esta lei nova está também o mandamento que diz
“não matarás”. Para o cristão, isto implica, em última análise, o
imperativo de respeitar, amar e promover a vida de cada irmão, segundo
as exigências e as dimensões do amor de Deus em Jesus Cristo. “Ele deu a
Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos
[3] Cfr. Gn 1,26; Sb 2,23.
[4] Cfr. Sir 17,3-10.
[5] Cfr. Sir 15,14.
[6] Gaudium et Spes, 17.
[7] DIONIGI TETAMANZI, Nuova Bioetica Cristiana, Piemme, 2001, p. 138.
[8] Evangelim Vitae, 2.
[9] Idem.
[10] Cfr. Gn 4,8-10.
[11] Cfr. Ap 21,4.
[12] Cfr. Jo 19,34.
[13] Cfr. Mt 26,28.
(via Shalom)
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