FONTE: Sexta,
20 Junho 2014 14:31
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Neste dia 19 de Junho, celebraremos a solenidade de
“Corpus Christi”. A expressão latina “Corpus Christi” tão utilizada nesta ocasião
significa Corpo de Cristo. É uma festa que celebra a presença real e
substancial de Cristo na Eucaristia. É realizada na quinta-feira seguinte ao
domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte
de Pentecostes. É uma festa de preceito, isto é, devemos participar da
celebração da Missa neste dia.
Em nossa Diocese o
tema que nos norteou nesses dias foi “Eucaristia e Caridade”, com o lema
“Dá-lhe vós mesmos de comer” (Mt 14, 16b). Além de atualizar o “ano da
caridade” nos impulsiona para anunciarmos o Senhor Jesus em trabalhos
missionários e, ao mesmo tempo, estarmos comprometidos com um mundo mais justo
e fraterno. A assistência e promoção social unida às justas reinvindicações são
compromissos fraternos de todo cristão neste mundo tão injusto e desigual.
Durante a procissão recolhemos alimentos não perecíveis como sinais de que,
alimentados pelo Pão do Céu, partilhamos também o pão de cada dia para os
irmãos e irmãs.
A procissão pelas
vias públicas atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (Cân.
944) que determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível,
“para testemunhar publicamente a veneração para com Santíssima Eucaristia,
principalmente na solenidade do Corpo de Sangue de Cristo”.
É recomendado que
nestas datas, a não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o
Bispo (Cân. 395 SS3). Em muitas cidades portuguesas e brasileiras é costume
ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e
desenhos de inspiração religiosa. Esta festividade de longa data se constitui
uma tradição no Brasil, principalmente nas cidades históricas, que se revestem
de práticas antigas e tradicionais e que são embelezadas com decorações de
acordo com costumes locais.
A origem da
solenidade do Corpo e sangue de Cristo remonta ao século Xlll. Esta solenidade
litúrgica foi Instituída pelo Papa Urbano IV(1262-1264), através da bula
“transiturus”, de 11 de Agosto de 1264, para ser celebrada na Quinta-feira após
a festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de
Pentecostes. Urbano IV, antes de ser escolhido Papa, foi Cônego de Liége
(Bélgica) e se chamava Tiago Pantaleão de Troyes, o mesmo que recebeu o segredo
das visões da Freira Juliana de Liége, que pedia uma festa da eucaristia no
calendário litúrgico. Esta solenidade entra no calendário litúrgico da Igreja
para evidenciar e enfatizar a presença real do Senhor Jesus no pão e no
cálice consagrados. Conta à história que um sacerdote chamado Pedro de Praga, muito
piedoso e zeloso pastoralmente, vivia angustiado por dúvidas sobre a presença
real de Cristo no pão consagrado.
Decidiu então ir
em peregrinação ao túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo em Roma, para pedir o dom
da fé. Ao passar por Bolsena (Italia), enquanto celebrava a Santa missa, foi
novamente acometido pela dúvida. Na hora da consagração veio-lhe a
resposta em forma de milagre: A sagrada hóstia branca transformou-se em carne
viva, respingando sangue, manchando o corporal (pano branco no qual é colocado
as sagradas espécies consagradas), o sanguíneo (paninho de limpar o
cálice) e a toalha do altar. Por solicitação do Papa Urbano IV, os
objetos milagrosos foram para Orvieto em solene procissão. Esta foi a primeira
procissão. Em 11 de Agosto de 1264, o Papa lançou de Orvieto para o mundo
Católico o preceito de uma festa solene em honra do corpo e sangue do Senhor.
A festa de “Corpus
Christi”, é um convite para uma meditação sobre o valor e a importância da
Eucaristia em nossa vida. A Eucaristia é um dos sete Sacramentos e foi
instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu Corpo... Este é o
cálice do meu Sangue... fazei isto em memória de mim” (Mt 26,26). Quem pediu
que nós ao longo dos tempos e da história celebrássemos s Eucaristia foi o próprio
Cristo. A Igreja católica cumpre este mandato até hoje, para perpetuar a
presença salvadora de Jesus na história. O texto bíblico mais
evidente e claro sobre a doutrina da Eucaristia é o capítulo 6 de São João.
Todo ele é um discurso eucarístico de Jesus que disse “Eu sou o pão vivo
descido do céu. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e
eu nele” (Jo 6,56). A Eucaristia é a realização da promessa de Jesus que
disse: “Eis que estarei convosco até a consumação dos séculos”(Mt 28).
Santo Tomás de
Aquino afirmou “Nenhum outro sacramento é mais salutar do que a eucaristia.
Pois, nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma é plenamente
saciada de todos os dons espirituais. A Eucaristia é o memorial perene da
paixão de Cristo, o cumprimento perfeito das figuras da antiga aliança e o
maior de todos os milagres que Cristo realizou” que a Eucaristia constitui o
maior milagre realizado por Jesus neste mundo. A celebração de Corpus Christi
consta de uma Missa, procissão e adoração ao santíssimo Sacramento. O destaque
maior neste dia é a procissão com o Santíssimo, a qual recorda a caminhada do
povo de Deus, como um povo peregrino neste mundo. No antigo testamento o povo
foi alimentado pelo Maná, no deserto. Hoje, é alimentado com o próprio corpo e
sangue de Cristo.
Jesus, Pão do céu
e médico celeste que cura e liberta todos aqueles que o buscam. Só ele é capaz
de preencher os nossos vazios existenciais e plenificar nossa vida. Façamos
parte do seu discipulado! A vida cristã consiste em viver em Jesus
Cristo, com Jesus Cristo e por Jesus Cristo neste mundo, ou seja, fazer da vida
uma Eucaristia para os irmãos, como Fez o Senhor Jesus. Que o Senhor
Jesus, visibilizado pelo dom celestial da Eucaristia, abençoe nossas famílias e
todo o nosso povo brasileiro.
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