FONTE: CNBB
Dom Pedro Luiz Stringhini
Diocese de Mogi das Cruzes (SP)
Diocese de Mogi das Cruzes (SP)
A Doutrina Social da Igreja é uma antologia que
apresenta o pensamento dos papas e a palavra do magistério da Igreja acerca da
realidade social, política e econômica das nações. Tais documentos impulsionam
a Igreja a dar sua contribuição na implantação da justiça e da paz no mundo,
inspirando e legitimando a ação solidária dos cristãos em favor dos pobres,
trabalhadores, refugiados; das vítimas da fome, das guerras, das catástrofes,
do tráfico de seres humanos e de todo tipo de violência.
Tal doutrina evidencia a responsabilidade política
de cada cidadão e das instituições no que concerne à organização e
funcionamento da sociedade. Orienta católicos e pessoas de boa vontade a
empreenderem ações eficazes na implantação do que Paulo VI chamou de
‘civilização do amor’ e João Paulo II denominou ‘globalização da
solidariedade’.
O fundamento da doutrina social, antes de tudo, vem
da bíblia, isto é, da tradição judaico-cristã. Os profetas do Antigo Testamento
ensinam que Deus ama a justiça e o direito e que a verdadeira religião consiste
não em ritos vazios, mas na defesa dos pobres, órfãos, viúvas. Denunciam com
veemência a violência praticada contra os pequenos, indefesos, camponeses. Os
evangelhos narram Jesus curando os doentes e socorrendo os pobres,
libertando-os dos sofrimentos e humilhações, perturbações mentais e exclusão
social. Nos primeiros séculos do cristianismo, tal ensinamento é propagado por
teólogos como Basílio e Crisóstomo, no oriente; Ambrósio e Agostinho, no
ocidente.
Contudo, foi no final do século XIX, com a
publicação da encíclica Rerum Novarum (“das novas realidades”), pelo Papa Leão
XIII, em 1891, que a doutrina social da Igreja começou a ser sistematizada.
Nesse tempo, já se podia contar com a reflexão teórica do iluminismo e a
contribuição das ciências humanas. No contexto da revolução industrial e do
impacto da teoria marxista, a Igreja, tida como distante, alheia e alienada à
classe trabalhadora, expressa a preocupação com a realidade social,
principalmente com o mundo do trabalho e as precárias condições de vida dos
operários.
A palavra de Leão XIII repercutiu na Igreja e no
mundo, tornando-se ponto de partida e referência para os papas Pio XI, João
XXIII, Paulo VI e João Paulo II, no século vinte; e para Bento XVI, no século
vinte e um. Oportunamente, virá o pronunciamento social do Papa Francisco,
sobre ecologia.
O documento Gaudium et Spes (1965), constituição
dogmática do Concílio Vaticano II, inicia-se com a conhecida afirmação: “as
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos seres humanos de
hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as
alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e
não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu
coração” (n. 1), isto é, no coração da Igreja.
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