Comunicar:
ouvir e falar
Ter, 05 de Junho de 2012 10:39 por: cnbb
Cardeal
Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
No Domingo da
Ascensão do Senhor ao céu, a Igreja também comemora o Dia Mundial das
Comunicações Sociais. Neste ano, já acontece pela 46ª. vez. A relação entre a
comunicação, a Ascensão de Jesus ao céu e missão da Igreja é facilmente
compreensível: Antes de se elevar ao céu, Jesus enviou seus apóstolos em missão
e lhes ordenou que anunciassem o Evangelho a toda criatura (cf Mc 16,15).
Evangelizar,
missão prioritária da Igreja, é questão de comunicação, de muitos modos: por
palavra, testemunho de vida, experiência do Mistério divino, pela escuta, o
silêncio... A Igreja comunica e se comunica, porque é mediadora e, ao mesmo
tempo, receptora da Boa Nova da salvação. Jesus deu esta ordem aos apóstolos:
“Vós sereis minhas testemunhas” (cf Lc 24,48), e isso significa a mesma coisa:
trata-se de comunicar.
Na Mensagem para o
Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, o papa Bento !6 destaca a
importância do silêncio na comunicação; Com muita fala, mas sem silêncio, a
comunicação não acontece. Isso equivale à própria lógica da comunicação e da
técnica dos Meios de Comunicação: é preciso haver um emissor de mensagens ou
imagens e um receptor. Ao emissor corresponde a fala, a palavra; ao receptor
corresponde o silêncio. No caso das pessoas, às vezes somos emissores e, outras
vezes, precisamos ser receptores. Sem isso, não há comunicação, mas monólogo...
Infelizmente,
vivemos num mundo de muito barulho, talvez com demasiados emissores, e com
poucos receptores... Há muita comunicação em sentido único e as modernas técnicas
de comunicação favorecem essa unilateralidade na comunicação. A facilidade que
temos de ser gerenciadores da comunicação, tendo ao alcance das mãos, ou nas
mãos, os instrumentos de comunicação, pode levar-nos a ser apenas emissores de
mensagens, mas não sabemos mais acolher e escutar a mensagem dos outros... Há
pouca interação de mensagens. O resultado é que ficamos fechados em nós mesmos,
reduzidos à nossa percepção da realidade; ficamos plantados apenas no horizonte
restrito de nossas visões. É uma constatação que, com todas as formas de
comunicação existentes, aumenta a solidão e o isolamento das pessoas.
O Papa alerta, em
sua Mensagem, para a importância de ouvir os outros, para uma comunicação mais
enriquecedora; para isso, precisamos ser capazes de fazer silêncio. Tanto mais,
também é preciso fazer silêncio para “ouvir Deus”. O barulho e a agitação
constante não favorecem a escuta de Deus no interior da consciência, na sua
Palavra, nas Escrituras, na voz da Igreja, na fala sutil das circunstâncias, no
gemido dos que sofrem... Muitas vezes, até a oração se transforma num monólogo
diante de Deus, num palavreado ansioso e sôfrego, sem deixar espaços nem
pausas, tentando convencer Deus e, talvez, para não dar chances para que Deus
também fale! Será essa uma boa comunicação com Deus?
Na obra
evangelizadora da Igreja, temos muito a dizer e testemunhar. Antes disso,
porém, temos muito a ouvir e acolher. Lembro que, há 5 anos, por esses dias,
iniciava 5ª. Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, com
a presença de Bento XVI. O tema foi: “discípulos e missionários de Jesus Cristo
para que, n’Ele, nossos povos tenham vida”. Antes de sermos missionários,
precisamos muito ser discípulos para, ouvidos e coração abertos, acolher e
vivenciar aquilo que devemos, depois, comunicar.
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