A Igreja orienta
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Arcebispo de Belo Horizonte
A Igreja Católica, ao anunciar o
Evangelho de Jesus Cristo, é chamada a escutar os clamores do povo e a
se envolver com os desafios que interpelam a sociedade. Em razão da
questão central de valores e princípios perenes, ela tem o dever
profético de ser orientadora e capaz de ajudar no desenho de horizontes
humanitários, éticos e marcados pela espiritualidade que aponta o
sentido autêntico da vida.
Nesta missão, a Igreja compreende a
exigência de
atuar sabendo que a evangelização está unida à promoção
humana e ao autêntico sentido cristão. A secularidade da sociedade
contemporânea não pode impedir a ação da força insubstituível dos
valores do Evangelho. Essa é uma batalha grande. Os rumos adotados podem
comprometer alicerces sustentadores de uma sociedade marcada pelo
sentido de solidariedade, fecundada pela ética e capaz de respeitar in
totum o sentido nobre e intocável da dignidade humana.
Assim, o fenômeno da globalização não
deve dispensar a necessária orientação advinda de fontes insubstituíveis
como o Evangelho de Jesus Cristo. Seu anúncio e testemunho são tarefas
da mais alta significação na sociedade, respondendo por horizontes e
perspectivas humanísticas para edificar uma sociedade mais justa,
fraterna e solidária.
E, ante o risco e real deterioração
ética, está a Igreja Católica na sua missão de orientar. Esta orientação
compreende a indicação de dinâmicas e parâmetros para que cada pessoa
qualifique sua existência e assente o sentido de sua individualidade
numa espiritualidade que a leve ao desabrochamento humano e ao
compromisso com tudo o que diz respeito à cidadania. A iluminação
própria do Evangelho precisa incidir sobre a realidade que configura a
vida. Essa perspectiva indica a razão pela qual a Igreja Católica
convoca seus membros e todos os segmentos da sociedade, em diálogo e
cooperação, para protagonizar ações de maior impacto, por exemplo, na
área da saúde. Estão ecoando, como é o propósito da Campanha da
Fraternidade 2012, “Fraternidade e Saúde Pública”, as contribuições
recentes da Igreja nesta área tão importante para a população.
Também, neste ano eleitoral, por meio da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nas dioceses e paróquias, em
uma importante rede de grande capilaridade, à luz dos princípios éticos
do Evangelho, a Igreja orienta suas comunidades eclesiais e as pessoas
para que estejam atentos e se preparem para uma participação cidadã. A
Igreja sublinha que é imprescindível refletir bem e construir novas
práticas e posturas para que passos decisivos sejam dados na
consolidação da democracia. O primeiro passo será sempre a busca de uma
construção da consciência coletiva que leve o povo a se constituir como
sujeito do processo político. Orienta-se que esta preocupação e empenho
sejam assumidos por grupos comunitários, organismos ou pastorais da
Igreja, por serem considerados espaços de aglutinação e coordenação
desse processo, em busca da construção da cidadania. Observa-se que é
fundamental a formação da consciência de que o novo Brasil e o novo
município virão com a participação cidadã e comprometida de todos.
É importante ponderar que as eleições
municipais têm, acentua a CNBB, um distintivo em relação às demais, por
colocar em disputa os projetos que discutem sobre os problemas mais
próximos do cidadão: educação, saúde, segurança, trabalho, transporte,
moradia, lazer e ecologia. Ora, os candidatos são mais visíveis e a
proximidade deve contribuir para que a escolha seja a mais acertada. É
preciso verificar quem tem condições, entendimento e compromisso para a
execução de políticas públicas adequadas. Mais uma vez é preciso que
fique claro para o eleitor que seu voto, embora seja um gesto pessoal e
intransferível, tem consequências para a sua vida e o futuro do Brasil. A
eleição não é uma loteria. Não se pode arriscar inconscientemente.
Instrumentos e conquistas do povo, como as Leis 9840/1999, contra
corrupção e manipulações eleitorais, e 135/2010, a conhecida Ficha
Limpa, são usados nesta tarefa cidadã de votar e escolher bem.
O exercício da cidadania não se esgota
no voto. Os desdobramentos influenciarão na construção de uma nova
civilização pela competência, credibilidade e ética dos escolhidos para o
exercício dos cargos públicos. É hora de articular grupos de fé e
política, estudar e estimular os jovens no seu direito de votar.
Oportuno é recordar a palavra sábia e de perene significação do Papa
Paulo VI quando disse: “A política é uma maneira exigente de viver o
compromisso cristão a serviço dos outros”.
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