Seg, 27
de Agosto de 2012 11:12 por: cnbb
Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo de Amparo (SP)
Bispo de Amparo (SP)
Discursando aos cardeais o Papa João Paulo II
disse: “o diálogo da Igreja com as culturas do nosso tempo é o setor vital no
qual joga-se o destino da Igreja e do mundo, no final do século XX” (cf.
Insegnamenti, v.II/2 (1979) p.1096). Podemos dizer o mesmo deste início de
século, também sobre o futuro da fé, pois o conhecimento e a razão “são
ministros fiéis da fé” no dizer do Cardeal J. H. Newman (cf. The Idea of a
University, p. XI).
Em sua Constituição Apostólica sobre as
Universidades Católicas de 1990 – Ex corde Ecclesia n. 6, o Beato João Paulo II
escreve: “A universidade católica, mediante o encontro que estabelece entre a
riqueza insondável da mensagem salvífica do Evangelho e a pluralidade e imensidade
dos campos do saber que essa mesma universidade encarna, permite à Igreja
travar um diálogo de fecundidade incomparável com todos os homens de qualquer
cultura”.
O que faz a Universidade ser universidade não é
somente a ciência propriamente dita, mas a orientação do pensamento para o
universal, para indagar sobre tudo e buscar as respostas sobre as diversas
questões, que são propostas pelo próprio homem desde sempre e a cada época. E
assim tender para a unidade do conjunto, já que a Universidade deve ser o local
onde as diversas informações se unificam e se orientam para o todo, para a
busca da verdade. Se a Universidade deve estar desta forma, aberta às
interrogações e questões postas pelo homem, pelo mundo, a questão de Deus
também faz parte da Universidade. Sem a Filosofia e a Teologia, a Universidade pode se identificar a um curso técnico, pois, não estaria aberta ao que está além da técnica. Por isso vai escrever o sábio reitor da Universidade de Dublin, bem-aventurado John Henry Newman: “A exclusão da teologia contraria o caráter de universidade como instituição científica”. E aqui se refere não só á Teologia Natural mas à Teologia propriamente dita que requer o diálogo entre fé e razão dentro de seu estatuto científico próprio.
A Universidade tem o compromisso de estar aberta a
toda informação e conhecimento disponível. Não pode haver neste sentido,
Universidade dominada por um pensamento único, de um grupo, que queira impor-se
a todos como absoluto, sem respeitar a liberdade da consciência. Por isso, uma
das atitudes mais importantes e características de qualquer Universidade é
ouvir. Capacidade de escutar o que o outro tem a dizer.
E foi justamente esta atitude fundamental para
qualquer Universidade que foi ferida, quando o Santo Padre Bento XVI, no início
de seu pontificado, teve de cancelar sua palestra na Universidade de Roma “La
Sapienza”. Diante do protesto irreverente, e da intolerância antidemocrática de
um pequeno grupo da referida Universidade. Universidade esta, fundada em 1303
pelo seu predecessor o Papa Bonifácio VIII. Aliás as Universidades, não podemos
esquecer, são uma “invenção” da Igreja. Ao aceitar o convite da direção, o Papa
pretendia demonstrar seu interesse e simpatia à comunidade universitária. Não
foi possível.
É evidente que estes grupos, pequenos, mas fortes,
não representavam a maioria das inteligências da instituição universitária onde
atuavam. Esta mesma Universidade onde o Papa não pode se expressar, havia,
tempos atrás promovido um encontro mundial de Reitores para elaborar “premissas
para um novo humanismo no terceiro milênio”. E certamente este novo humanismo
não inclui a intolerância. Por que este pequeno grupo se impôs?
Sabemos que em qualquer Universidade existem
grupos, que sofrem a tentação de se sentirem donos da verdade, ao invés de
buscadores ou cooperadores da verdade. Caem na tentação de buscar o poder para
se impor e impor “sua verdade”. Os membros destes grupos podem se tornar
utilitaristas: verdade é o que lhes é útil para obter o poder, pois, quando o
obtiverem “resolverão” todos os problemas. Não se importam de trair o genuíno
espírito da Universidade, que inclui a tolerância e a capacidade de ouvir o
diferente, respeitando o espírito de diálogo.
A Universidade pode ser laica e estatal, mas a
população a que a universidade e o Estado devem servir, conta com pessoas
religiosas e em certos locais, de maioria cristã. Têm o legítimo direito à
liberdade religiosa, direito de ver a Universidade pública tratar desta questão
que lhes interessa. Por isso, não se pode prescindir de ouvir representantes de
religiões que estão presentes e atuantes na vida de milhares de pessoas. O fato
de a Universidade ser laica não torna automaticamente ateus seu corpo docente e
seus alunos. A questão da teologia está presente juntamente com a questão
religiosa. Uma verdadeira Universidade está realmente interessada na busca da
verdade, busca comum tanto da ciência como da religião.
O papa Bento XVI, na época, teve a gentileza de
enviar à Universidade o texto da palestra que deveria proferir pessoalmente.
Neste texto se pode ler: “Não venho impor a fé mas pedir a coragem para a
verdade”. Vale a pena ser lido pela erudição, profundidade e oportunidade das
questões que aborda. Entre outras coisas diz que a verdade significa mais que
saber, “pois só saber nos torna tristes...” A sabedoria verdadeira vem do
conhecimento como descoberta da bondade e do Amor e nos torna alegres.
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