Ter, 10 de Abril de 2012 14:53 por: cnbb
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
Maria Madalena chegou bem cedo ao sepulcro de
Jesus, no primeiro dia da semana, para prestar as homenagens fúnebres ao corpo
de Jesus, coisas que não deu para fazer bem na sexta feira, quando Jesus morreu
na cruz. Havia pressa, o sol já estava se pondo e o sábado iniciava. E aquele
sábado era especialmente solene. Era a Páscoa judaica.
Com surpresa, Maria descobre que o túmulo está
aberto e vazio; os panos que cobriram o corpo de Jesus estavam lá dentro, uns
pelo chão e outros, dobrados num lugar à parte. Ela se desespera: Quem levou o
corpo de Jesus! Onde o puseram? Correu e foi avisar Pedro e João. Os dois
correram ao túmulo e viram que era assim mesmo: o corpo de Jesus não estava
mais lá. Onde será que foi parar? Quem o teria levado?
Eis a primeira constatação a respeito da
ressurreição de Jesus: o túmulo vazio, o lençol mortuário abandonado. E Jesus
mesmo, onde estava? Para alguns, tudo o que se fala sobre a ressurreição de
Jesus não passa disso e acaba na dúvida: sumiram com o corpo de Jesus? Talvez
ele mesmo nem tinha morrido, acordou durante a noite, saiu do túmulo, de
fininho, sumiu sem deixar pista? Alguém até disse que sabia onde Jesus foi
parar: em algum oásis bonito no deserto distante; lá, finalmente casado com
Maria Madalena, teria vivido em paz e morrido de velho, sem mais ser incomodado,
nem incomodar ninguém... Historinhas, como essa, já inventaram nos primeiros
tempos do Cristianismo aqueles que negavam a ressurreição de Jesus. Hoje há
quem as ache bonitas e as reconta, como se fossem a última verdade sobre Jesus!
Onde foi parar o corpo de Jesus, se não estava mais
no túmulo? Vamos ouvir Maria Madalena, João e Pedro, os outros apóstolos, Tomé,
por exemplo; sem esquecer de ouvir Paulo. Eles até esqueceram o túmulo vazio,
os panos mortuários... É que Jesus, em pessoa, foi ao encontro deles! Estava
vivo e lhes falava de novo, nem podiam acreditar! Duvidaram, resistiram,
negaram-se a crer no que viam diante de si e ouviam com seus ouvidos. Mas era
Jesus, o mesmo que eles tinham conhecido antes e acompanhado durante anos,
cujas pregações e prodígios testemunharam! O mesmo que eles viram ser condenado
à morte de cruz, poucos dias antes! Por quê agora lhes custava tanto crer, que
era ele? Vieram-lhes à mente suas próprias traições do Mestre? Suas fugas e
covardias diante da prisão e condenação de Jesus à morte?
Mesmo não querendo crer, não puderam negar: era
mesmo Jesus, que estava diante deles. Viram e creram E Jesus lhes falou,
abriu-lhes o entendimento, deu-lhes a paz, não lhes cobrou nenhuma de suas
infidelidades. E eles se alegraram muito “por ver o Senhor”. E contaram para
quem faltou aos encontros: “vimos o Senhor. Simão também viu!”. E concluíram
que até as histórias contadas por Maria Madalena e suas companheiras eram
verdadeiras (testemunho de mulher não contava!); foram as primeiras que
encontraram o Senhor ressuscitado!
Hoje andam dizendo por aí que o Santo Sudário, de
Turim, seria considerado, “pelos crentes, a relíquia mais valiosa e legítima da
Cristandade”; e também, que o Sudário teria sido o trunfo inicial mais poderoso
para afirmar a fé na ressurreição de Jesus; e que a posse e referência ao
Sudário teria tido um papel decisivo na grande difusão inicial do Cristianismo;
mesmo ao longo dos séculos, ele teria sido uma espécie de garantia para afirmar
a ressurreição de Jesus... Isso não é verdade! A história não confirma essas
suposições, em cima das quais constroem-se argumentos e raciocínios que,
geralmente, acabam concluindo que a fé dos cristãos na ressurreição de Jesus é
pura fantasia, que deve ser descartada por pessoas inteligentes e sérias, com
formação científica moderna!
E se fosse demonstrado definitivamente que o Santo
Sudário é uma falsificação? Acabaria nossa fé na ressurreição? A resposta é:
não! Nossa fé em Cristo ressuscitado não está baseada no Santo Sudário, por
mais preciosa relíquia que possa ser. Nossa fé em Cristo ressuscitado está
baseada nos encontros – vários encontros – do próprio Jesus ressuscitado com
seus discípulos, como nos atestam os testemunhos do Novo Testamento. Esta fé
foi contestada desde o início, negada, sofrida, em todas as épocas da história;
não apenas agora. Mas a Igreja nunca abandonou o testemunho daqueles que viram
Jesus!
A ressurreição de Jesus, porém, não é um fato
isolado na pregação dos apóstolos. O anúncio do Senhor ressuscitado, unido à
recordação de toda a vida, pregação, prodígios, do jeito de Jesus, da sua
paixão, morte e sepultura, constituem o objeto do “testemunho apostólico”. É
sobre esse testemunho apostólico que está baseada a fé da Igreja. A esse
conteúdo também está referida a nossa fé, que renovamos mais uma vez na noite
da Páscoa. Como fazemos em cada Domingo, Dia do Senhor ressuscitado,
continuando a proclamar: Ele está vivo, no meio de nós!
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