Dom Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares (PE)
Bispo Emérito de Palmares (PE)
Envolvendo países de diversos Continentes, desde
1930, realiza-se a Copa do Mundo que sempre foi vista como um evento que
promove o congraçamento entre as nações. Com efeito, ao longo dos tempos, o
futebol vem se revelando como o “esporte das multidões”. De fato, entre essas
multidões, há pessoas e grupos realmente que amam o seu clube e beijam a camisa
de seu time, apaixonadamente. Hoje a crônica jornalística identifica, entre
estes, muitos casos de paixão doentia, basta que se analise o quadro de
violência, em muitos países e cidades, nos estádios e arredores, nas vias
públicas e nos transportes coletivos. Trata-se de uma doença social, com registro
de mortes, de sequelas físicas em pessoas e de prejuízos públicos.
Sediar a Copa do Mundo é uma aspiração de muitos
países, em razão dos dividendos de natureza política, turística e financeira
que são colhidos por seus patrocinadores; nessa direção, de conformidade com o
calendário da Fifa, evidenciam-se a disputa para sediar a Copa, visível na
mídia, e os interesses de um variado lobby que, por natureza, sempre é obscuro.
De regra, no momento dessa definição, a população vê com “bons olhos”, com euforia,
a realização da Copa em seu país. Por ter feito as démarches requeridas pela
Fifa, o Brasil viu coroado de êxito o seu empenho, ao ser escolhido, em 2007,
como país-sede da Copa de 2014, fato que trouxe alegria à população. Todavia,
com o “andar da carruagem”, segmentos da população foram fazendo sua leitura a
respeito do evento, diante das suas muitas implicações, e começaram a se
posicionar, de forma mais crítica. Assim, no contexto da abertura da Copa,
conforme Pesquisa do Ibope, “Metade da população brasileira é a favor da
realização da maior competição do futebol mundial no Brasil: 51% versus 42% que
são contra”. Nessa leitura criteriosa, o ítem “custos financeiros” pesou muito,
diante de muitas necessidades da população que deveriam ter prioridade, ao
serem formuladas as políticas públicas, no âmbito municipal, estadual e
federal.
A CNBB, entre muitas instituições da sociedade, se
pronunciou a esse respeito: “Não é possível aceitar que, por causa da Copa,
famílias e comunidades inteiras tenham sido removidas para a construção de
estádios e de outras obras estruturantes, numa clara violação do direito à
moradia. Tampouco se pode admitir que a Copa aprofunde as desigualdades urbanas
e a degradação ambiental e justifique a instauração progressiva de uma
institucionalidade de exceção, mediante decretos, medidas provisórias,
portarias e resoluções. O sucesso da Copa do Mundo não se medirá pelos valores
que injetará na economia local ou pelos lucros que proporcionará aos seus
patrocinadores. Seu êxito estará na garantia de segurança para todos sem o uso
da violência, no respeito ao direito às pacíficas manifestações de rua, na
criação de mecanismos que impeçam o trabalho escravo, o tráfico humano e a
exploração sexual, sobretudo, de pessoas vulneráveis e combatam eficazmente o
racismo e a violência.”
A Copa do Mundo deixa lições que devem ser
examinadas, responsavelmente, por quem a promoveu, pelos países que dela
participaram e, de maneira especial, pelo governo e pela sociedade brasileira.
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