(imagem: https://sabpaulinas.com/evento/minicuros-o-mal-nas-sagradas-escrituras/)
Written
by CNBB
Published:
24 February 2017
Category: Dom Edney Gouvêa Mattoso
Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)
Bispo de Nova Friburgo (RJ)
Caros amigos, a onda de violência urbana que
atingiu nossos irmãos capixabas nos deixou perplexos diante da crueldade sem
sentido. Segundo números oficiais, foram 143 mortos, sem falar das perdas
materiais e da imensa insegurança que até hoje se abate naquela região. Mas
quem foram os saqueadores e assassinos que executaram esta barbárie? Não foram
terroristas, nem membros de outra facção criminosa ou partido político
beligerante, mas os próprios moradores daqueles centros urbanos, que se armaram
em violência contra seus irmãos.
Esta é mesma lógica de Caim (Cf. Gn 4), que por inveja
tirou a vida do seu irmão Abel. Tal situação representa a violência do
indivíduo contra os outros e, por isso, contra a sociedade em desprezo ao bem
comum.
Entretanto, cabe recordar que foi o pensamento
político e econômico de nossa atual sociedade do bem-estar que gerou este mal
que se irradia incontrolavelmente por todos os lados. As definições de que “o
homem é o lobo do homem” e “antes de toda regulação estatal a sociedade é uma
guerra de todos contra todos” (Thomas Hobbes) são pensamentos negativos de
liberdade que levam ao absolutismo demente e homicida do ser humano que, ao
fim, destrói a si mesmo e a tudo aquilo que ama.
O homem, criado a imagem e semelhança de Deus Uno e
Trino, não se realiza fora da sociedade e do amor fraterno. Assim sendo, qualquer
alternativa que não seja este caminho de comunhão e justiça será sempre falsa
ou incompleta.
Recordo uma reflexão do Papa Francisco, quando
ainda era Cardeal de Buenos Aires: “Que outro sentido pode ter a liberdade
senão abrir-me para possibilidade de ‘ser com os outros’? Para que quero ser
livre se não tenho nem um cão que lata para mim? Para que quero construir um
mundo se nele eu vou estar sozinho num cárcere de luxo? A liberdade, desde este
ponto de vista, não ‘termina’, senão ‘começa’ com os demais. Como todo bem
espiritual, ela é maior quanto mais partilhada seja” (18/04/2007).
Este princípio social, fundado na justiça e no
amor, é coerente com o Evangelho de Nosso Senhor e bem pode ser aplicado à
família, à comunidade laboral, à cidade ou qualquer outra comunidade. Contudo,
para que seja realidade é preciso uma tomada de consciência de toda a
sociedade, que deve parar de educar seus cidadãos para o individualismo e o
lucro, e transmitir outros valores mais elevados e verdadeiros. Não queremos a
lógica fratricida de Caim, mas o mandamento novo do Evangelho de Jesus Cristo.
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