sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Desafios de nosso tempo



Qui, 29 de Novembro de 2012 14:43 por: cnbb

Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

Quais os maiores desafios que somos chamados a enfrentar no início deste novo milênio? Se essa pergunta for feita a dez bispos, certamente surgirão dez respostas diferentes. O mesmo se diga se for feita a dez economistas, sociólogos ou empresários. Trata-se de uma pergunta ampla, aberta, que ninguém consegue responder de modo satisfatório e completo. Por isso, não pretendo fechar a questão, ao apresentar três desafios que, segundo o meu ponto de vista, merecem uma atenção especial.

1º desafio:..
A necessidade de um novo esforço evangelizador. Iniciamos o século XXI, constatando: o cristianismo tem ainda um longo caminho a percorrer. Hoje, de cada três habitantes do mundo, apenas um é cristão. Já que há multidões que não se interessam por Jesus Cristo, que não se deixam envolver por sua proposta e nem se preocupam com seus apelos, surge a pergunta: o que fazer?  Deixo a resposta para o próprio Cristo: “Nisto reconhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”. Curioso: Ele não disse que seríamos reconhecidos como seus discípulos se tivéssemos nas mãos um grande poder econômico, a direção de nações ou se fôssemos proprietários de uma rede de televisão de alcance mundial. O amor entre nós, seus seguidores, é que será a prova de que entendemos sua proposta; e esse amor terá força de atração para quem não partilha da nossa fé. Sobre isso, por sinal, há um belíssimo testemunho de Tertuliano († 220), um dos primeiros escritores cristãos. Vendo o comportamento dos discípulos de Cristo, os pagãos comentavam: “Vede como eles se amam!”

No Juízo Final teremos muitas surpresas: serão exaltadas pessoas que passaram por este mundo de modo discreto; sua presença talvez nem tenha sido percebida. Elas, no entanto, ajudaram a transformar o mundo pela intensidade de seu amor. Enquanto isso, outras pessoas, famosas, poderosas e mundialmente conhecidas, talvez tenham sorte diferente... (“De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” disse Jesus Cristo). Por falar em “esforço evangelizador”: existe algo mais dramático e triste do que alguém nascer, crescer e morrer sem nunca ter tido a possibilidade de conhecer Jesus e fazer uma opção por Ele?...

2º desafio: A necessidade de uma renovação moral de nossa sociedade, de uma vida guiada por valores. Quem não se guia por valores acaba fazendo do ter, do poder e do prazer os seus deuses. Achamos ridículo que o Povo de Deus, enquanto Moisés recebia as Tábuas da Lei, tenha construído para si um “Bezerro de Ouro”, que passou a adorar. Mas, o que dizer dos “bezerros de ouro” de nossa época?...

A falta de princípios morais faz com que impere, em nossos relacionamentos, a famosa tentativa de se tirar vantagem em tudo. Assustada com o resultado dessa prática, a sociedade começa a clamar por ética. Afinal, há muito descobriu que o lobo que mora dentro de cada ser humano pode “fugir” e andar por aí, a qualquer hora e em qualquer lugar. Quem poderia imaginar que, no início do século XX, a humanidade ainda teria que se defrontar com guerras, sequestros e mortes por razões banais? O apóstolo Paulo nos ensina que o “velho homem” é uma realidade permanente em nosso coração. Referindo-se a isso, um experimentado sacerdote comentava que esse “velho homem” morre uns quinze minutos depois de nós...

3º desafio: A necessidade de partilhar. Durante muito tempo se pensava que, com o enriquecimento da humanidade e as novas descobertas, com o avanço da medicina e o crescimento das comunicações, a humanidade, automaticamente, passaria a viver dias mais felizes. Recentes estudos da ONU revelam que o mundo tem, atualmente, perto de um bilhão de pessoas famintas. Partilhar, repartir e dividir são, pois, verbos que precisamos aprender a conjugar.

Os desafios de nosso tempo não são, necessariamente, realidades negativas. A humanidade cresceu quando se viu diante de problemas, e os enfrentou de forma sábia.  Temos diante de nós, pois, imensas possibilidades de crescimento.

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