segunda-feira, 3 de setembro de 2012


Eu e minha família serviremos ao Senhor  03 de Setembro de 2012 11:17 por: cnbb

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)

O tema da 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que será realizada em Roma, de 7 a 28 de outubro deste ano, é da maior importância para a vida e a missão da Igreja: “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.

Lemos no Livro de Josué que o povo hebreu, depois de ter experimentado as maravilhas de Deus durante o Êxodo e a peregrinação para a terra prometida, deixou-se levar pela idolatria, esquecendo o Deus que os havia salvado. Josué, então, reuniu o povo e o colocou diante dessa escolha: “se lhes desagrada servir a Deus, então sirvam aos ídolos!” Era uma provocação, pois todos sabiam que os ídolos nada podiam e eram pura criação humana: “deuses ao gosto do homem”. O próprio Josué, porém, acrescentou: “de todo jeito, eu e minha família serviremos ao Senhor!”

O povo passou a recordar o que Deus já havia feito por ele; em outras palavras, lembrou o patrimônio de sua fé e fez uma espécie de “nova evangelização”, já naqueles tempos! E concluiu: “nem pensar em abandonar a Deus, para servir aos ídolos! Nós também serviremos ao Senhor, porque ele é nosso Deus!” (cf. Js 24, 1-2.15-18). E, assim, todos renovaram sua fé e sua fidelidade a Deus. É onde também nos deve levar o Ano da Fé, que será aberto pelo Papa no dia 11 de outubro.

A Igreja já vem refletindo há algum tempo sobre a necessidade de uma “renovada evangelização”; na Conferência de Aparecida, os bispos da América Latina e do Caribe trataram dessa questão; no Documento de Aparecida se diz, entre outras coisas, que a Igreja não pode ficar parada, apenas conservando e administrando o que já fez e conseguiu; mas que ela precisa ir ao encontro das novas situações, necessidades e desafios, trazidos pelas mudanças sociais e culturais, que não estão mais permeados com o fermento, o sal e a luz do Evangelho de Cristo.

Muitas pessoas deixaram de crer, ou não sabem mais no que creem; ficaram distantes da prática da vida cristã e da participação na vida eclesial, ou abandonaram a fé católica. Por isso, é preciso proporcionar-lhes uma renovada experiência da fé cristã, o que só é possível mediante um renovado encontro pessoal com Deus, por meio de Jesus Cristo, na graça do Espírito Santo. Tudo isso requer uma verdadeira conversão pastoral de toda a Igreja, suas pessoas, organizações e estruturas, para se colocarem em estado permanente de missão e terem novos focos e preocupações em sua ação evangelizadora. Não só o mundo oferece desafios novos à missão da Igreja, mas esta mesma tem necessidades e urgências novas.

Por isso, o foco da próxima Assembleia do Sínodo dos Bispos será a transmissão da fé cristã: o que é preciso fazer, e como, para que a fé cristã não fique diluída no esquecimento e no indiferentismo, mas continue a ser valorizada e transmitida? Que fazer para que os católicos tenham um novo apreço pelo patrimônio da sua fé, herdada dos apóstolos, do testemunho dos mártires e santos, dos missionários, pregadores, teólogos, mestres da fé, místicos, pessoas simples e cultas, que transmitiram essa herança preciosa de geração em geração, antes de nós, e a enriqueceram com sua própria experiência e testemunho?

Um dos agentes determinantes para a transmissão da fé é a família; são os pais que pedem o Batismo para os filhos e lhes dão a iniciação à vida cristã ainda nos primeiríssimos anos de vida; depois os introduzem na comunidade de fé, que é a Igreja, através da paróquia e da Igreja, de forma mais ampla. E continuam a narrar aos filhos as memórias da fé, fazendo conhecer a vida de Jesus e dos primeiros cristãos, dos mártires e santos, grandes testemunhas da fé ao longo da história bimilenar da Igreja Católica; e não deixam de dar seu próprio testemunho de apreço à fé, praticando-a, rezando com os filhos, e diante deles, participando da comunidade de fé. Ou não o fazem. E deixam de transmitir aos filhos a fé...

Talvez esse seja um dos fatores principais da transmissão da fé e da crise de fé que vivemos hoje. De fato, cada batizado, tornado-se um discípulo-missionário de Jesus Cristo, assume também a tarefa de transmitir a fé aos outros, sem retê-la para si, nem, pior ainda, abandonando-a. Seria muito triste passar a vida inteira sem transmitir a fé a alguém, sem ajudar ninguém mais a se encontrar com Deus. Josué deu o bom exemplo: “eu e minha família continuaremos a servir o Senhor!”

 

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